"Quando Karol Wojtyla foi eleito papa, em 16 de outubro de 1978, parecia que esse homem vigoroso e incansável nunca necessitaria de tratamento médico. Tudo mudou no dia 13 de maio de 1981: as balas não o mataram, mas debilitaram consideravelmente sua saúde de ferro", afirma L'Osservatore Romano, em sua edição de 17-18 de maio.
O médico pessoal do Papa polonês, desde sua eleição até sua morte (1978-2005), Dr. Renato Buzzonetti, concedeu uma entrevista ao jornal da Santa Sé, na que se refere à sua missão de "velar pelo estado de saúde" de João Paulo II.
Recordando a maneira com a qual se transformou em médico pessoal do Papa polonês, explica: "Na tarde de 29 de dezembro de 1978, quando trabalhava no hospital São Camilo, recebi uma ligação surpresa de Dom John Magee, da secretaria particular do Santo Padre, que me pedia para ir até lá".
Em minha chegada, "fui conduzido a uma pequena sala, e pouco depois, para minha grande surpresa, João Paulo II chegou acompanhado por dois médicos poloneses".
"Fez-me sentar à mesa e me disse que queria me nomear seu médico pessoal (...). Na manhã seguinte, escrevi a seu secretário particular, Dom Stanislaw Diziwsz, dizendo que aceitava."
O Dr. Buzzonetti recorda as relações "marcadas por uma grande simplicidade" com João Paulo II.
"Da minha parte, sempre houve com ele uma sinceridade filial e respeitosa; e por parte do Papa, uma confiança afetuosa e que manifestava em uma grande sobriedade de gestos e palavras."
João Paulo II era um "paciente dócil, atento, curioso por conhecer as causas de seus leves ou graves males, mas sem a curiosidade desesperada, ainda que compreensível, de alguns doentes", destaca.
"Nunca demonstrou momentos de desespero diante do sofrimento, que enfrentava com valentia", destaca.
Segundo o médico italiano, João Paulo II, "vivia uma união íntima com o Senhor, feita de orações e de contemplação contínua".
"Tinha uma fé de aço e uma alma na qual se misturavam o romantismo polonês e o misticismo eslavo."
"Tinha uma inteligência penetrante, uma capacidade de decisão rápida e sintética, uma memória segura e, sobretudo, uma capacidade evangélica para amar, compartilhar e perdoar."
Na entrevista, o Dr. Buzzonetti se referiu também aos últimos momentos de João Paulo II, à "dor física", mas sobretudo "à moral espiritual de um homem na cruz que aceitava tudo com valentia e paciência: nunca pediu calmantes, nem sequer durante a fase final".
"Era sobretudo a dor de um homem paralisado, imobilizado em uma cama ou em uma cadeira, que tinha perdido sua autonomia física."
No final de sua vida, João Paulo II já não podia fazer nada sozinho: "não podia andar, mal podia falar com uma voz debilitada e fraca, sua respiração estava cansada, se alimentava cada vez com maior dificuldade".
Contudo, "quando chegou a hora da cruz", o Papa polonês "foi capaz de abraçá-la sem hesitar".
O médico pessoal de João Paulo II durante mais de 25 anos, também se referiu às viagens secretas do Papa para fora do Vaticano e das quais ele participou.
"Durante os primeiros dois anos, travava-se de saídas para as montanhas ou mar, perto de Roma, que incluíam longas caminhadas a pé ou muitas horas de esqui. Com a idade, os trajetos a pé ficaram mais curtos e as excursões, após as viagens de carro, concluíam com uma longa pausa na sombra de uma tenda com vistas relaxantes, ao pé de picos cobertos de neves e com um almoço em sua bolsa."
E conclui explicando como acabava a jornada, antes de tomar o caminho até Roma: "O Papa gostava de escutar cantos de montanha entonados por sua pequena companhia, à qual se uniam os guardas do Vaticano e os policiais italianos da escolta; e me pedia para liderar este coro improvisado, sob o olhar divertido de João Paulo II".
Fonte: Zenit.
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