A Fundação Pew Forum on Religion and Public Life publicou há pouco um relatório sobre a mudança drástica de afiliação religiosa na população da região subsaariana da África.
No começo do século XX, os muçulmanos e os cristãos eram só uma minoria pequena, que juntos somavam menos de 25% da população. A grande maioria praticava religiões tradicionais africanas.
Durante o século passado, os papéis mudaram e o número de muçulmanos multiplicou por 20, até cerca de 234 milhões no ano 2010. Os cristãos experimentaram uma transformação até mesmo maior, multiplicando-se por 70, passando de cerca de 7 milhões a 470 milhões.
O relatório especificava que é compensada a preponderância de cristãos na parte subsaariana de África pela parte norte do continente, onde a fé islâmica é predominante. Por conseguinte, o continente africano, num todo, tem o mesmo número de cristãos e muçulmanos, de 400 a 500 milhões de seguidores de cada religião.
Em geral, a África subsaariana conta com não menos que 21% de toda a população cristã mundial. Os muçulmanos têm 15% da sua população mundial nesta região.
As estatísticas do Pew Forum sobre o crescimento religioso na África recebiam um certo respaldo até há poucos dias, quando o Vaticano publicou um resumo de alguns dos dados recolhidos na nova edição do Anuário Estatístico da Igreja. De acordo com uma nota do Vatican Information Service, de 27 de Abril, para o período 2000-2008 o número de católicos no mundo cresceu de 1.045 milhões no ano 2000 a 1.166 milhões em 2008, um aumento de 11,54%.
Analisados os dados mundiais, constatou-se uma enorme diversidade geográfica. Nos extremos estavam a África, com um crescimento de 33%, e a Europa, onde o aumento foi de 1,17%.
Limites
Não obstante, no relatório de Pew Forum também foi afirmado que o crescimento rápido do século passado pode não continuar nos próximos anos e, em seu lugar, qualquer aumento será limitado principalmente ao que acontece como resultado do crescimento demográfico natural.
Isto se deve ao fato de que a maioria das pessoas na região já está comprometida com o Cristianismo ou com o Islamismo, deixando poucas possibilidades de conversões. Na maioria dos países, 90% ou mais se consideram cristãos ou muçulmanos.
Além disso, há poucas evidências que demonstrem que na África subsaariana tanto Cristianismo como o Islamismo possam crescer à custa do outro. Com a exceção da Uganda, só uma pequena porcentagem de muçulmanos tornou-se cristã e uma porcentagem menor de cristãos converteu-se ao islã.
Além das estatísticas sobre convicções religiosas, uma grande parte do relatório do Pew Forum consistia em resultados de pesquisas recolhidas em mais de 25 mil entrevistas cara-a-cara em mais de 60 idiomas ou dialetos diferentes de 19 países. Foi levado a cabo para se determinar como veem as pessoas da África subsaariana o papel da religião nas suas sociedades.
A pesquisa revelou até que ponto a região é profundamente religiosa. Ela desejou saber quanto pessoas acham importante a religião nas suas vidas: muito importante, algo importante, não muito importante, de modo algum importante.
Os resultados para a África subsaariana revelaram que, em muitos países, não menos que 90% das pessoas disse que a religião é muito importante nas vidas delas.
O relatório comparou esta com outras pesquisas feitas em outros continentes nos últimos anos. Inclusive as nações menos religiosas do subsaara eram muito mais religiosas que os Estados Unidos, onde 57% declararam que a religião é muito importante para eles.
Outros países ocidentais têm porcentagens igualmente inferiores de pessoas que declararam que a religião é muito importante nas suas vidas: Polônia, 33%; Alemanha, 25%; Itália, 24%; Grã Bretanha, 19%.
Isto contrasta com a Ásia e Oriente Médio onde, como na África, alguns países alcançam números de 90% para esses que declaram que a religião é muito importante. Índia, Bangladesh, Indonésia e Kuwait estão entre eles.
Coexistência
Apesar do rápido crescimento do Cristianismo, como do Islamismo, as religiões africanas tradicionais continuam tendo grande força. Na realidade, elas normalmente coexistem com o Islamismo e o Cristianismo em um tipo de um sincretismo religioso. Sem importar as incoerências teológicas que isto gera, observou a pesquisa que esta mistura de crenças é uma realidade diária nas vidas das pessoas.
Muitos africanos continuam acreditando na feitiçaria, nos espíritos malignos, nos sacrifícios para os antepassados e nos curandeiros tradicionais religiosos. Por exemplo, em quatro países (Tanzânia, Mali, Senegal e África do Sul) mais da metade das pessoas entrevistadas acreditam que os sacrifícios para os antepassados ou espíritos podem lhes proteger de danos. E uma porcentagem significante de cristãos e muçulmanos - 25% ou mais em muitos países - dizem que acreditam no poder protetor dos encantamentos ou dos amuletos.
Além de mostrar um nível alto de fé no poder protetor das oferendas de sacrifícios e de objetos sagrados, mais que um de cada cinco, em todos os países, disseram acreditar em "olho gordo", ou na qualidade de algumas pessoas lançarem maldições ou encantamentos malignos.
Segundo o relatório, não existe um padrão claro entre cristãos ou muçulmanos quanto ao grau de convicção nas religiões africanas tradicionais. Estas práticas tradicionais são comuns nos países de maioria muçulmana, em países com maior mistura de cristãos e muçulmanos, e nos países de maioria cristã.
Tolerância
Quando se trata de relações entre o Cristianismo e o Islamismo, a pesquisa atestou que para muitos cristãos e muçulmanos na África subsaariana não há problemas significativos e, em geral, há tolerância mútua. Na realidade, as pessoas, em geral, declaram que o desemprego, o crime e a corrupção são problemas maiores que o conflito religioso.
Os cristãos africanos têm mais dúvidas sobre o Islamismo, com 40% ou mais em uma dúzia de países que afirma considerar que os muçulmanos são violentos. É necessário notar que cerca de 6 de cada 10 nigerianos e ruandeses afirmaram que os conflitos religiosos são um problema muito grande em seu país.
Os muçulmanos tendiam a ser mais positivos nas declarações sobre os cristãos e muitos muçulmanos dizem que estão mais preocupados com o extremismo muçulmano que para o extremismo cristão.
Porém, com relação ao matrimônio, tanto entre muçulmanos como cristãos, muitos expressam intranqüilidade quanto aos matrimônios inter-religiosos. A metade ou mais dos cristãos de oito países e mais que metade dos muçulmanos de doze, afirmaram que não se sentiriam cômodos se um de seus filhos fosse se casar com alguém da outra fé.
Em geral, a grande maioria dos crentes disse que a violência contra os civis em defesa da própria religião raramente, ou nunca, tem justificativa. Não obstante, há uma minoria significativa - 20% ou mais - em muitos países disse que a violência contra os civis em defesa da própria religião às vezes, ou freqüentemente, é justificada.
E com relação à interação entre religião e sociedade, o relatório descobriu que em quase todos os países entrevistados, a grande maioria acredita que é necessário crer em Deus para ser ético e ter valores bons. Pelo menos três de cada quatro pessoas em quase todos os países acreditam que há padrões claros e absolutos de bem e de mal.
Assim mesmo, a grande maioria em quase todos os países também afirmou que a música, os filmes e as emissoras de TV ocidentais têm danificado seus valores morais.
Em tópicos como o aborto, a prostituição, o suicídio ou o comportamento homossexual, tanto cristãos como muçulmanos expressam uma posição muito forte, com 9 de cada 10 pessoas em muitos países que consideram estas práticas como moralmente ruins.
Um grande número de pessoas de toda esta área expressa um grande apoio para a democracia. Ao mesmo tempo há um apoio considerável entre os muçulmanos e cristãos em fundar os direitos civis com base na Bíblia ou na lei islâmica do shariah.
De acordo com o relatório do Pew Forum, em praticamente todos os países examinados, uma minoria significativa de cristãos está a favor de fazer da Bíblia a lei oficial do país. De igual forma, um grande número de muçulmanos diz que gostariam de impor o shariah.
Os resultados do relatório deixam claro que a África será um lugar para se observar com interesse nos próximos anos.
Fonte: Zenit.
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