Há muçulmanos que exultam com a beatificação de João Paulo II, como é o caso de Ali al-Samman, presidente do Comitê para o Diálogo Inter-Religioso do Conselho Supremo para Assuntos Islâmicos do Egito.
O representante de Al-Azhar, a universidade considerada pela maioria dos muçulmanos sunitas como a escola de maior prestígio, desempenhou um papel decisivo na famosa convenção que deu vida, em 1998, ao Comitê Conjunto que reúne a Universidade de Al-Azhar, no Cairo, e o Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso.
Nos últimos dias, tem havido debates com os não-crentes no "Átrio dos Gentios". O senhor, que é um homem de diálogo, o que acha deste convite feito pelo Vaticano?
Ali al-Samman: O elemento essencial é tratar com o ser humano partindo da base de que ele é um ser humano. O homem vem antes da religião, e o diálogo do Vaticano com os não-crentes se remonta ao concílio ecumênico Vaticano II. Sem dúvida, congratulo-me com este tipo de diálogo, do qual participei na época do Beato Papa João Paulo II. Eu acho que é uma ótima maneira de construir uma humanidade com sentimentos e responsabilidades comuns.
Algumas pessoas na mídia árabe consideraram que as palavras do cardeal Kurt Koch sobre a promoção do diálogo entre judeus e cristãos não correspondem aos interesses do diálogo entre muçulmanos e cristãos... O senhor concorda?
Ali al-Samman: Claro que não. Não me sinto incomodado com a convergência judaico-cristã, pois é parte do sistema que eu defendo, já que somos todos filhos de Abraão, e ninguém pode agora separar os filhos de Abraão. Sabemos, também, que esse diálogo existe há muito tempo, não é novo. Eu gostaria de destacar o crescimento dos movimentos de extrema direita na Europa, que mostram hostilidade contra os judeus, e dos quais discordo. Eu acredito que a liberdade de fé e de religião são questões fundamentais em nossas vidas diárias.
Dom Louis Sako, arcebispo caldeu de Mossul (Iraque), disse que os Estados islâmicos não viverão em uma democracia real se os cristãos não se tornarem verdadeiros cidadãos. O senhor concorda com ele?
Ali al-Samman: A democracia está totalmente ligada à cidadania. Isso é verdade e é o centro das discussões da cidadania no Egito, razão pela qual estão em curso as sessões de diálogo nacional, neste momento. Estamos trabalhando duro para que a cidadania seja a base e é isso que as pessoas racionais no mundo islâmico estão pedindo.
Mas a realidade é contrária a isso?
Ali al-Samman: Uma parte da realidade poderia ser diferente. Algumas pessoas exageram, mas, no lado oposto, há pessoas que se opõem a isso e rejeitam suas alegações. Pessoalmente, eu participei em muitos programas de televisão e escrevi em jornais denunciando essas atitudes, que separam e nunca unem. Como eu, muitas pessoas estão lutando pela supremacia do conceito de cidadania.
É possível que o Egito se torne outro Iraque, e o futuro dos coptas seja semelhante à situação dos cristãos iraquianos?
Ali al-Samman: A história do Egito e a linguagem de seu sábio povo afirmam que o Egito não se tornará outro Iraque. É uma aposta. O Iraque usa um idioma diferente do egípcio. Apesar das declarações recentes dos extremistas, eu não acho que o Egito esteja se tornando um outro Iraque.
Além disso, devemos notar que há uma verdadeira autoridade governante no Egito, representada pelo Conselho Supremo e as forças armadas. Estes últimos não deixam de denunciar e alertar contra qualquer violação da segurança ou da legitimidade que afeta os cidadãos, especialmente os coptas. Isso ficou claro nas declarações do Conselho sobre os boatos que procuravam aterrorizar as mulheres e meninas coptas no Egito, nos últimos dias. Foi dito claramente que as violações da legitimidade e da lei não seriam admitidas.
Sendo o senhor a pessoa que deu uma grande contribuição na organização da visita de João Paulo II ao Egito e com quem se encontrou várias vezes depois... Como se sente diante da sua beatificação, em 1º de maio?
Ali al-Samman: Como crente, minha reação seria o desejo de orar por ele. Então direi que lhe é dado o que lhe corresponde pelo seu trabalho, pelo trabalho que eu vi, do qual participei e fui testemunha. Isso prova o quanto ele abriu seu coração, sua mente e seus braços a todo mundo. Isso é o que eu experimentei pessoalmente em Assis, quando fui fazer um discurso em nome do imame Muhammad Sayyid Tantawy.
Sem dúvida, eu serei o mais feliz da criação de Deus nesse dia.
Fonte: Zenit - (Emil Ameen)
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