Com o aniversário da eleição do cardeal Joseph Ratzinger para sucessor de Pedro, nessa terça-feira, ele concluiu seu sexto ano de pontificado, um período intenso e cheio de acontecimentos dramáticos.
No dia 19 de abril de 2010, o Papa acabava de voltar de sua viagem a Malta, uma viagem que, segundo comentava o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, tinha “superado todas as expectativas”.
Nesse mesmo dia, concluído o primeiro quinquênio de pontificado, o bispo de Roma confiava aos cardeais da Cúria, durante o almoço celebrado nesse dia no Palácio Apostólico, “não se sentir sozinho”, apesar das dificuldades que estava atravessando.
De fato, o quinto ano de pontificado concluíra no meio da polêmica dos abusos sexuais por membros do clero, especialmente na Irlanda e na Alemanha. Isso tinha criado um intenso mal-estar, ao ter estourado precisamente durante a celebração do Ano Sacerdotal.
Bento XVI quis, nesse sentido, que o encerramento do Ano fosse também um momento especial de reflexão sobre o sacerdócio, em que o Papa, em diálogo com os presbíteros de todo o mundo, reafirmava a importância da vocação à entrega, da santidade do sacerdócio ministerial, da celebração da Eucaristia como centro, e da validade do celibato sacerdotal. Foi um forte “sim” ao sacerdócio e um renovado apelo à responsabilidade dos bispos e formadores.
Ao mesmo tempo, a Santa Sé trabalhava intensamente para combater a crise. Poucos meses depois, organizava-se a visita apostólica à Irlanda, para investigar sobre o terreno os casos de abusos. No final de abril passado, concluía também a visita apostólica à congregação dos Legionários de Cristo, para abordar a crise produzida pelo caso de Marcial Maciel. Em julho, nomeou-se um delegado papal, Velasio de Paolis, hoje cardeal.
Apenas no primeiro mês de seu sexto ano, o Papa realizava uma importante visita a Portugal, no décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos de Fátima. Ali ele consagrou os sacerdotes do mundo ao Sagrado Coração de Maria e celebrou um importante encontro com o mundo da cultura e da arte portuguesa.
Oriente Médio
No início de junho, Bento XVI realizou outra viagem importante, à ilha de Chipre, convidado pelo patriarca Crisóstomos II. Uma viagem cujo contexto ficou marcado pelo assassinato do vigário de Anatolia, Dom Luigi Padovese.
Esta viagem concentrou a atenção em um dos acontecimentos chave desse ano: a assembleia do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio. Esse sínodo, preparado cuidadosamente pelas Igrejas locais, deu grande destaque à situação dos cristãos no Oriente Médio.
Dessa assembleia surgiu um forte apelo à unidade entre as diferentes Igrejas ‘sui iuris’, assim como a consciência de que o fundamentalismo islâmico não poderá desaparecer se não forem combatidas as graves injustiças sociais que existem no mundo árabe, mediante uma maior difusão da doutrina social católica.
A situação desesperada dos cristãos voltou a ficar evidente no massacre de 31 de outubro na igreja católica síria de Bagdá, assim como nos ataques contra as comunidades coptas em Alexandria (Egito), no Natal.
O Papa recolheu toda essa preocupação em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz (1º de janeiro) e em seu discurso ao Corpo Diplomático (10 de janeiro), reiterando que não haverá paz no mundo sem liberdade religiosa. Discursos que foram qualificados em todo mundo como uma marca importante do ensinamento de Bento XVI.
Grã-Bretanha
Sem dúvida, outro grande momento deste pontificado ocorreu também neste sexto ano, no início de setembro, quando o Papa foi à Grã-Bretanha. Uma viagem cheia de significados e gestos históricos, que surpreendeu o mundo, começando pelos próprios católicos.
Ali houve dois grandes momentos. O discurso no ‘Westminster Hall’ diante dos membros do Parlamento, em defesa da laicidade positiva – outra das marcas do pensamento do Papa –, e a beatificação de John Henry Newman.
O mais surpreendente foi ver como um país que durante séculos foi inimigo do catolicismo acolheu com carinho Bento XVI, superando as melhores expectativas (alguns afirmavam que a visita seria um fracasso absoluto).
Essa viagem implicou também uma mudança histórica nas relações com a Comunhão Anglicana: concretizaram-se as disposições do documento ‘Anglicanorum coetibus’ (2009), para a criação do primeiro Ordinariato para ex-anglicanos.
Muito trabalho
Esse foi também um ano de dois novos livros do Papa. O livro-entrevista “Luz do mundo” e o segundo tomo de “Jesus de Nazaré”.
Foi ainda um ano importante para as relações com a Igreja ortodoxa, em especial a Russa. Além de importantes intercâmbios culturais, constatou-se uma melhora significativa do clima entre Roma e Moscou.
Nos últimos meses, o metropolita Hilarión Alfeyev, encarregado das relações externas do Patriarcado de Moscou, lançou a ideia de uma parceria entre ortodoxos e católicos na defesa dos valores cristãos, especialmente da família e da vida.
Foi também um ano de impulso à nova evangelização, uma preocupação constante de João Paulo II, que Bento XVI materializou em dezembro passado, com a criação do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.
Ao mesmo tempo, o Conselho Pontifício para a Cultura, por desejo do Papa, pôs em marcha uma iniciativa inédita para o diálogo com os não crentes, o “Átrio dos Gentios”, celebrado pela primeira vez em Paris no último final de semana de março.
Isso sem contar a viagem à Espanha, em novembro, em que o Papa realizou seu desejo pessoal de entrar como peregrino em Santiago de Compostela e visita a igreja da Sagrada Família, de Gaudi, em Barcelona.
Fonte: Zenit.
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