Arturo Mari, o fotógrafo que acompanhou João Paulo II durante 27 anos, falou um pouco de sua trajetória em um encontro com os jornalistas celebrado nesta semana na Universidade ‘Santa Croce’, em Roma, no contexto da beatificação de Wojtyla.
Mari afirmou que desde o primeiro momento compreendeu que João Paulo II “era um santo em vida”. “‘Santo já’ – como disseram os peregrinos nos seus funerais – ele já era”, disse o fotógrafo.
Arturo Mari contou diversas histórias guardadas em sua memória. “Um 18 de maio de 1980, dia de seu aniversário, em uma visita pastoral à paróquia romana de Cristo Rei, um menino de 10 anos, vencendo a escolta, aproximou-se de João Paulo II e disse: “Oi, Papa, como vai?”, e depois lhe confiou: “escapei de casa porque é teu aniversário e eu queria te cumprimentar”. E o menino disse: “sou pobre mas te trouxe um presente”, e lhe deu um caramelo.
João Paulo II respondeu. “Mmmm, eu não o mereço”. Segundo o fotógrafo, muitas vezes Wojtyla dizia essa frase.
“Nestes dias, penso nele, que do céu verá a cerimônia de beatificação e dirá: ‘Mmmm, eu não mereço’”.
Um episódio menos conhecido, em que Mari compreendeu a força de João Paulo II, foi no Peru. Quando chegou a Iquitos, a um aeroporto com pista de terra batida, explicaram-lhe que de um lado estava o Exército e do outro, guerrilheiros do Sendero Luminoso.
Ele “subiu em uma mesa junto ao alambrado e, com um megafone, voltou-se para o Sendero Luminoso, acusando-o de crimes e dizendo, ‘eu estou aqui, vamos conversar, estou disposto a conversar’”. “Dois dias depois houve encontros. Isso dá uma ideia de quem era João Paulo II”.
Depois recordou a viagem do papa ao Sudão em 1993, após a beatificação de Josefina Bakhita. O fotógrafo recorda do papa falando em voz alta com o presidente-ditador Omar Al Bashir: “Presidente, o que está fazendo como chefe de Estado, o senhor está armando as mãos dos criminosos, incitando a vingança entre ricos e pobres, entre muçulmanos”.
O ditador contestou: “Distinto senhor, o senhor está mal informado”. O Papa replicou: “Não é preciso estar muito informado para saber o quanto o senhor está matando”. O ditador contestou: “Coloquemos uma pedra em cima”. João Paulo II acrescentou: “Envergonhe-se, o senhor um dia deverá prestar contas a Deus”. Mari recordou que hoje Al Bashir é considerado criminoso de guerra.
O fotógrafo explicou que em sua vida profissional nunca teve proibições ou dificuldades, quando tinha de fotografar o papa, em dias de trabalho que começavam às 6h30 e muitas vezes se estendiam até às 23h.
A foto mais emocionante: “em sua capela privada, numa Sexta-feira Santa, quando tinha a cruz na mão; apoiou na fronte e no coração a cruz com tal força que suas unhas ficam vermelhas. Mistério da cruz. Seu grande sofrimento”. “Estando próximo de João Paulo II, vi muitas encíclicas. Mas a última foi a do sofrimento”.
Fonte: Zenit.
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