www.inculturacion.net
A inculturação é um termo que se usa cada vez mais na igreja. Agora, um portal (www.inculturacion.net ) oferece todo material disponível sobre o magistério eclesiástico e reflexão de diversos autores.
O objetivo é colocar esse acervo à disposição para guiar a tarefa pastoral na inculturação da fé e evangelização das culturas.
Até o momento são oferecidos documentos em cinco idiomas e se teve a ideia de utilizar línguas indígenas, em particular americanas.
Por trás da ideia estão Ricardo Acosta Nassar e Luis Martínez Ferrer. Luis Ferrer, que é professor de história da Igreja Moderna na Pontíficia Universidade da Santa Cruz (Roma), conta a ZENIT que “o termo inculturação é o resultado de um processo em que se conjuga a eclesiologia com a antropologia cultural”. Ferrer é autor de um livro sobre Inculturação e Igreja.
Este doutor em teologia pela Universidade de Navarra e doutor em história da América pela Universidade Cumplutense de Madri, assinala como “se passaram de adaptação”, referindo-se às estratégias missionárias para apresentar o Evangelho, a “inculturação”, definida por João Paulo II como “encarnação do Evangelho nas culturas nativas e, por sua vez, a introdução destas na vida da Igreja” (Slavorum apostoli, n. 21).
Ferrer reconhece que “a diferença de ambos conceitos não é nítida, nem de oposição dialética”. A origem do conceito está na necessidade de “respeitar as diversidades culturais precisamente para que o Evangelho, com o passar do tempo, incida em profundidade nas pessoas”.
O professor Ferrer adverte que existem duas formas de “adulterar” a inculturação; uma de forma antropológica e outra de caráter teológico.
Em primeiro lugar, “é errado colocar a cultura acima do indivíduo: a cultura está a serviço da pessoa, que tem o direito de se enriquecer em âmbitos culturais diversos dos originários”.
O indivíduo não é “prisioneiro” de sua cultura inicial, adverte um dos idealizadores do portal, e cita o Papa João Paulo II: “uma cultura nunca pode ser critério de julgamento e menos ainda critério supremo de verdade em relação à revelação de Deus” (Fides et ratio, n 71).
Em segundo lugar, é também um desvio fazer “da inculturação um sinônimo de evangelização, ou mesmo considerá-la acima dela”.
A inculturação é “uma” das dimensões da evangelização, o mais importante é o anúncio de Cristo através da Igreja, com seus sacramentos, doutrinas, entre outros, expressados por meio dos séculos.
Não se pode rejeitar a tradição da igreja em prol da inculturação em uma determinada área, como afirma João Paulo II: “quando a Igreja entra em contato com grandes culturas às quais anteriormente não havia chegado, não pode se esquecer do que ela adquiriu na inculturação no pensamento greco-latino” (Fides et ratio, n 72).
“A perda da universalidade é o fracasso da inculturação. Não uma questão fácil”, reconhece o professor Ferrer, que explica: “não existe um evangelho puro, abstrato, alheio às culturas".
Como exemplo, cita o Antigo Testamento, que já apresentava a ação de Deus presente em diversas culturas. Cristo era uma pessoa que tinha bagagem cultural do povo judeu de sua época, falava uma língua particular (aramaico), etc.
Os obstáculos da inculturação aparecem quando nas culturas surgem “estruturas de pecados incompatíveis com a dignidade humana”, e, segundo Ferrer, “é um problema que durará até o final da história. São as culturas que devem se modificar e purificar diante do Evangelho, e não ao contrário”.
Entre os documentos disponíveis no portal www.inculturacion.net destacam-se alguns anteriores ao Concílio Vaticano II, e uma grande variedade de textos posteriores, divididos segundo os papas, as Conferências Episcopais e outros organismos que publicaram textos sobre a inculturação.
(Miriam Díez i Bosch)
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