Entrevista com o bispo de San Cristóbal de las Casas
Por Omar Árcega
Dom Felipe Arizmendi Esquivel, bispo da diocese de San Cristóbal de las Casas, Chiapa (México), uma das regiões do país com maior presença de povos indígenas, conversou com Zenit-El Observador sobre as necessidades e desafios de uma pastoral encaminhada à evangelização dos próprios indígenas.
-Quais são as necessidades catequéticas da comunidade indígena?
-Dom Felipe Arizmendi: Que os pobres sejam evangelizados é o sinal do Reino de Deus já presente entre nós. As comunidades indígenas são pobres e precisam que a evangelização chegue a elas de forma adequada, respeitando suas culturas, promovendo seu desenvolvimento e anunciando Jesus explicitamente.
-Quais são as necessidades espirituais da comunidade indígena?
-Dom Felipe Arizmendi: Compreensão, carinho, respeito, misericórdia, confiança, assim como a celebração dos sacramentos, de preferência em seu idioma.
-Como mediar entre a particularidade e costumes indígenas e a universalidade do catolicismo?
-Dom Felipe Arizmendi: Em primeiro lugar, conhecendo a fundo a própria cultura indígena, porque muitas vezes ela é rejeitada ou condenada como superstição, quando é só outra forma cultural de expressar sua fé, sua relação com Deus.
Em segundo lugar, denunciando claramente os costumes contrários ao Evangelho.
Em terceiro lugar, sendo ponte entre os indígenas e o mundo que os cerca, também na Igreja. Esta não será católica, universal, se não assumir em seu seio os indígenas, que são parte também da grande família eclesial.
-Que características deve ter uma igreja autóctone?
-Dom Felipe Arizmendi: As que indica o Concílio Vaticano II: que esteja encarnada na cultura do povo; que tenha suas raízes na Palavra de Deus, cujas sementes estão presentes em muitas culturas autóctones; que tenha suficientes servidores da própria etnia; que cresça e amadureça, para que também possa servir outras igrejas irmãs.
-Que características devem ter os sacerdotes inseridos em uma realidade indígena?
-Dom Felipe Arizmendi: Antes de mais nada, que não neguem suas raízes; que as valorizem e façam amadurecer com o Evangelho. Que amem os seus e prefiram servir em paróquias da sua etnia. Os não-indígenas, que conheçam, respeitem e valorizem tudo o que há de bom nestas comunidades e lhes apresentem Jesus Cristo com clareza, sem reduzir-se à promoção social, sempre necessária.
-Como Igreja, somos conscientes dos desafios e particularidades da questão indígena?
-Dom Felipe Arizmendi: Em alguns lugares, percebe-se que vamos dando a eles o seu espaço; mas em outros, há muitas resistências e até desconfianças. É inegável que ainda há preconceito de vários católicos. Como disse João Paulo II, é importante que cheguemos a ter sacerdotes da sua cultura, e também bispos.
Fonte: Zenit.
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