sexta-feira, 3 de maio de 2013

Os consultores do Papa

Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)

Ao completar o seu primeiro mês como “Bispo de Roma”, o Papa Francisco tomou a decisão mais importante do seu pontificado. Ele constituiu um grupo de cardeais, para o ajudar no governo da Igreja.
A medida é original. Nenhum papa partilhou, oficialmente, o seu poder com outras pessoas. Mas além de original, esta medida tem objetivos bem claros e importantes.
Verdade que desde Paulo VI, logo depois do Concílio, a sugestão de formar um grupo de “conselheiros próximos”, uma espécie de “senado” que acompanhasse o papa nas decisões que ele deve tomar, começou a ser cogitada, como resposta aos anseios de maior participação que o Concílio tinha suscitado.
Mas a sugestão só agora toma forma, com o grupo constituído pelo Papa nesta semana.
Vale a pena intuir as intenções desta medida. São diversos ângulos por onde dá para ir entrando, na tentativa de compreender o seu alcance.
Podemos começar pela data. A medida foi tomada depois que ele completou o primeiro mês de pontificado. Todos já iam se perguntando, depois dos gestos e das primeiras mensagens, quais seriam suas decisões práticas, para implementar as esperanças que ele suscitou. A data serve de indicativo do que ele de fato quer fazer. A medida de agora faz parte, portanto, do seu plano de governo.
Outra observação importante. Escolheu cardeais de todos os continentes. Isto significa, claramente, que as medidas que ele espera implementar com a ajuda desses seus “consultores”, são para toda a Igreja. Ele quer sentir de perto a realidade de cada continente. De certa maneira, ele busca os mesmos objetivos dos “sínodos continentais”, instituídos por João Paulo II.
E quem sabe, com um grupo menor de pessoas, a dinâmica de trabalho possa ser mais ágil.
O critério de escolha foi claramente geográfico. Mas observando atentamente, há diferenças significativas. A África, a Ásia, a Austrália, um representante cada continente, o que parece normal. Mas a Europa ficou só com um Cardeal, de Munique, na Alemanha, e um bispo para o encargo prático de secretário. Mas a diferença maior está na América Latina, de onde ele chamou dois cardeais, do Chile e de Honduras, respectivamente o Cardeal Errazuris, e Cardeal Maradiaga. E ainda, da América, o Cardeal de Boston.
Diante destas constatações, é evidente a intenção do Papa de valorizar a Igreja da América Latina. Ele assume o desafio que muitos já lhe sugeriram: temos um Papa vindo da América Latina, que universalize para toda a Igreja os valores positivos da caminhada da Igreja da América Latina.
Mas nesta constatação dá para intuir outra segurança que o Papa Francisco está buscando. Ele quer “sentir firmeza” com a boa experiência que ele teve na Conferência de Aparecida, em 2007, quando ele foi coordenador da equipe de redação. E seus auxiliares imediatos eram o Cardeal Errazuris, do Chile, e o Cardeal Maradiaga, de Honduras. Agora, ele chamou os dois, privilegiando a América Latina com dois representantes, que foram seus companheiros no momento talvez mais importante que ele teve, antes de ser Papa, a Quinta Conferência da América Latina. E ainda por cima, estabeleceu o Cardeal Maradiaga como coordenador do grupo todo.
Portanto, dá para esperar muitos encaminhamentos, decorrentes desta importante iniciativa do Papa Francisco. Ele quer encontrar um primeiro consenso entre estes seus auxiliares mais próximos, para contar com o consenso de todos, nas importantes decisões que a Igreja e a humanidade estão esperando em nosso tempo.

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