A Igreja não pede privilégios, senão que busca realizar sua missão livremente, em conformidade com o respeito pela liberdade religiosa.
Esta foi a mensagem do Papa Bento XVI aos membros da Associação Nacional de Prefeituras Italianas (ANCI), a quem recebeu em audiência no último sábado, na Sala Clementina do Palácio Apostólico, e com quem recordou a importância das prefeituras como "expressões de uma comunidade que se reúne, dialoga e projeta unida, uma comunidade de crentes".
"E está sempre viva, também hoje, a necessidade de existir em uma comunidade fraterna, onde, por exemplo, paróquia e prefeitura são, ao mesmo tempo, artífices de um ‘modus vivendi' justo e solidário, inclusive em meio a todas as tensões e sofrimentos da vida moderna", afirmou.
Segundo o Papa, o grande número de pessoas e situações não é incompatível com a unidade da nação italiana, que celebra nestes dias seu 150º aniversário.
Unidade e pluralidade, de fato, "são, em diferentes níveis - incluindo o eclesiológico -, dois valores que se enriquecem mutuamente, quando considerados em um equilíbrio justo e recíproco".
Ambos os princípios permitem "a convivência harmoniosa entre unidade e pluralidade, bem como entre os princípios da subsidiariedade e da solidariedade, típicos da doutrina social da Igreja", destacou.
"Esta doutrina social busca que a verdade não pertença só ao patrimônio do crente, mas que seja racionalmente acessível para o mundo", afirmou o Pontífice, enfatizando o princípio da subsidiariedade, considerado como "uma expressão da liberdade humana inalienável".
Os organismos intermédios
Citando passagens da "Caritas in veritate", o Papa explicou o que significa a subsidiariedade no âmago da doutrina social da Igreja: "A subsidiariedade é primariamente uma ajuda à pessoa, através da autonomia dos organismos intermédios".
"Este apoio é oferecido quando a pessoa e os sujeitos sociais são incapazes de cuidar de si mesmos, envolvendo sempre um objetivo de emancipação, pois promove a liberdade e a participação na hora de assumir responsabilidades."
Como tal, "é um princípio particularmente adequado para gerir a globalização e direcioná-la rumo a um verdadeiro desenvolvimento humano", sublinhou.
Este princípio "deve permanecer intimamente ligado ao princípio da solidariedade e vice-versa, porque, assim como a subsidiariedade sem a solidariedade leva ao particularismo social, também é verdade que a solidariedade sem a subsidiariedade acabaria em assistencialismo que humilha os mais necessitados".
Nesse sentido, o Papa sublinhou a importância destes "organismos intermédios" na aplicação prática do princípio da subsidiariedade.
"Estes princípios são aplicados a nível municipal, em um duplo sentido: em relação aos órgãos públicos estaduais, regionais e provinciais, bem como nas que as autoridades municipais têm com os corpos sociais e as formações intermediárias no território."
Entre estas últimas, que desenvolvem atividades de relevante utilidade social, existem numerosas realidades eclesiais, paróquias, oratórios, casas religiosas, escolas católicas e centros de assistência, recordou o Papa.
"Espero que essas importantes atividades encontrem sempre apoio e estima adequados, também em termos de financiamento", acrescentou.
Nesse sentido, quis "afirmar que a Igreja não pede privilégios, mas apenas poder realizar livremente a sua missão, como exige um efetivo respeito pela liberdade religiosa".
Finalmente, o Santo Padre quis falar sobre a importância do conceito de cidadania, que se enquadra "no contexto da globalização - caracterizada, entre outras coisas, pelos fluxos migratórios".
Diante dessa realidade, concluiu, "é preciso saber conjugar solidariedade e respeito pelas leis, de modo que a convivência social não se veja afetada e que se levem em consideração os princípios da lei e as tradições culturais e religiosas nas quais a nação italiana tem sua origem".
Fonte: Zenit.
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