"O homem busca a Deus, sente nostalgia da sua presença": esta constatação, apoiada por estudos sociológicos dos últimos anos, deu à luz o primeiro encontro de "Diálogos na catedral", compostos por três reuniões propostas pela diocese de Roma, na Basílica de São João de Latrão, com diversos expoentes da cultura.
Sobre a nostalgia de Deus na cultura contemporânea discutiram, em 10 de março, Dom Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, e Pietro Barcellona, da Universidade de Catania.
"O homem contemporâneo - disse o cardeal vigário de Roma, Agostino Vallini, apresentando o encontro -, mesmo no drama das situações existenciais, espera conhecer e encontrar não um deus genérico, mas o Deus dos vivos." Sua nostalgia "nasce da desilusão dos deuses, mas também das propostas culturais insatisfatórias da nossa época". Em seu coração, de fato, "existe ainda a esperança viva de ser amado e de ser parte da construção de uma história que se desenvolve ao longo do tempo e continua para além dele".
A noite do mundo
"O ocaso das ideologias - disse Dom Forte - deu lugar ao ‘tempo da noite do mundo', um tempo tão pobre, que não reconhece a falta de Deus como ausência." Já foi demonstrado que a "morte de Deus", comemorada por Nietzsche, não gerou "um homem mais feliz, e sim mais solitário e mais violento, como evidenciado por guerras e massacres perpetrados pelos totalitarismos, tanto de direitas quanto de esquerdas, durante o século XX".
A pobreza que se segue à "crise das grandes narrativas ideológicas", portanto, "não é tanto a percepção da ausência de Deus, e sim o fato de que os homens não sofrem mais por essa falta". Desapareceu o "sentimento de pertença". "E por isso - sublinha Forte -, as mentes mais alertas advertem a necessidade de um retorno ao sagrado, reconhecendo diversos sinais de esperança, por exemplo, o canto dos poetas." Dever do poeta é "suscitar a nostalgia de Deus, cantar a sua ausência".
"É verdade - diz Forte - que da noite não se sai facilmente." De fato, "em sua rejeição crítica dos mundos ideológicos, a pós-modernidade nada mais é do que uma forma invertida deles", de maneira que "a sede de plenitude da razão emancipada pode tornar-se uma nova totalidade, a do negativo que abrange todas as coisas".
"No entanto, aparece na inquietude pós-moderna - continuou ele - uma espécie de busca do Outro, do hóspede pelo qual se anseia e, ao mesmo tempo, que perturba." Percebe-se que "fugir da presunção totalitária da razão moderna exige confessar uma alteridade que destrua o domínio do sujeito e se ofereça como a origem e fim".
"O resultado do moderno e do pós-moderno - disse Forte - é a fome e a sede de sentido, declaradas ou não", ou seja, "a necessidade de dar sentido a uma vida tão frágil".
Um Deus em quem confiar
Qual é, então, o Deus "de quem se pode falar aos homens e mulheres do nosso tempo?". "Um Deus de confiança - destacou o arcebispo de Chieti-Vasto -, que não nos violenta, porque quer para si somente homens livres." O cristianismo, de fato, "é a religião da liberdade, radicalmente diferente, por isso, entre outras coisas, do Islã, no qual tudo está predestinado".
"Na pergunta que cada um carrega dentro de si sobre a inevitabilidade da morte - disse Forte -, vai se perfilando a imagem de um pai-mãe no amor, alguém em quem confiar sem reservas, quase um porto para repousar nosso cansaço e nossa dor, certos de não ser lançados ao abismo do nada. Por que, então, essa necessidade é tão forte, surge em tantos a rejeição inclusive visceral da figura do pai?" Essencialmente, pelo "medo de ter de depender d'Ele".
A escolha é crucial para aceitar "um pai-mãe que nos ame tornando-nos livres". "Escolher de que lado se quer estar": isso é, para Dom Forte, "o risco da fé". "Não fomos nós que amamos a Deus em primeiro lugar, e sim Ele quem nos amou".
"O anseio por Deus no mundo contemporâneo - concluiu o arcebispo - não está dirigido a um juiz, mas ao Crucifixo." O Homem do Sudário atrai "porque nessa fraqueza se revela o amor infinito de Deus". Qual é, então, o passo a ser dado? "Render-se a este amor, que não é fraqueza, mas ‘boa notícia'. Os cristãos que o experimentaram, como o ministro paquistanês Shahbaz Bhatti, sabem que é a única razão pela qual vale a pena viver e morrer."
Derrotar a morte
Não são diferentes as conclusões de Pietro Barcellona, professor de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Catania, ex-membro do Conselho Superior da Magistratura e já deputado do Partido Comunista Italiano.
"A nostalgia - disse Barcellona - nasce do sentimento de perda." A nossa é uma época caracterizada pela "perda da dimensão interior e da memória, e inclusive do contato com o mundo real". A oferta, de fato, é "a ‘Second Life', uma vida virtual".
"O iluminismo tecnológico - disse Barcellona - é a última tentativa da arrogância do homem de lidar com a avassaladora angústia da morte, que invade desde os primeiros momentos de sua vinda ao mundo."
Na realidade virtual, de fato, "não aparecem, de forma alguma, nem a experiência dolorosa da existência como seres mortais nem a experiência da imaginação como capacidade de pensar outra maneira possível de estar no mundo". As mais avançadas tecnologias funcionam como "um grande dispositivo anestésico", na medida em que "os homens não gostam de pensar, porque isso os leva a manter contato com suas próprias contradições".
"Na época da atual miséria - interrogou-se Barcellona -, em que o niilismo parece ter vencido qualquer tentativa de reabrir o ânimo à esperança, de que Deus se pode sentir nostalgia?" O Deus por quem se sente "a atração irresistível", segundo Barcellona, é "o Filho de Deus que se fez homem e que, assumindo a carne e o sangue dos seres mortais, compartilhou, até as últimas consequências, a dor e a miséria, escolhendo deixar-se crucificar como o último dos delinquentes".
"Somente um Deus que aceita ser derrotado pela morte - concluiu Barcellona - ainda é capaz de se comunicar com seres humanos."
Fonte: Zenit - (Chiara Santomiero)
Nenhum comentário:
Postar um comentário