É necessário aumentar os estudos dedicados à filosofia, não como uma extensão das ciências humanas, mas entendida no seu núcleo central: a busca da verdade, acompanhada por uma disciplina estrutural como a lógica, em um período histórico em que a razão é ameaçada pelo relativismo.
Este é um dos temas centrais do "Decreto de reforma dos estudos eclesiásticos de filosofia", aprovado pelo Papa Bento XVI em 28 de março e apresentado hoje, em coletiva de imprensa, pelo cardeal Zenon Grocholewski, prefeito da Congregação para a Educação Católica.
Acompanhavam-no o cardeal Jean-Louis Bruguès, secretário da Congregação, e o reitor da Universidade Pontifícia de São Tomás de Aquino (‘Angelicum'), Charles Morerod. Na apresentação, além dos jornalistas, havia também um numeroso público acadêmico.
"‘Ecclesia semper est reformanda' atende às novas exigências da vida eclesiástica nas mutáveis circunstâncias socioculturais", disse o cardeal Grocholewski, lembrando que existe atualmente grande "fraqueza na formação filosófica de muitas instituições da Igreja".
Isso, também, "em uma época em que a própria razão é ameaçada pelo utilitarismo, pelo ceticismo, pelo relativismo e pela desconfiança da razão para conhecer a verdade sobre os problemas fundamentais da vida", constatou.
Esta reforma, portanto, leva a cabo as recomendações feitas na encíclica ‘Fides et ratio', de João Paulo II, já que "a teologia sempre teve e continua tendo necessidade da filosofia". Caso contrário, disse o cardeal, "a teologia não tem o chão sob seus pés".
Que filosofia?
O cardeal Grocholewski explicou que a intenção da Igreja é recuperar a metafísica, isto é, uma filosofia que volte a apresentar as questões mais profundas do ser humano.
Os avanços tecnológicos e científicos, afirmou, "não abrangem a totalidade do saber; sobretudo, não saciam a sede do homem sobre as perguntas últimas: em que consiste a felicidade? Quem sou eu? O mundo é resultado do acaso? Qual é o meu destino? Hoje, mais do que nunca, as ciências precisam de sabedoria".
Pretende-se, portanto, "recuperar a vocação original da filosofia, ou seja, a busca da verdade e da sua dimensão sapiencial e metafísica", insistindo "na necessidade de ampliar os espaços da racionalidade", por um lado, e de "defender-se do perigo do fideísmo", por outro.
Nesse sentido, o reitor da ‘Angelicum', Charles Morerod, explicou a importância da metafísica para o estudo da teologia, e convidou a "recuperar com força a vocação original da filosofia".
"O cristianismo pressupõe uma harmonia entre Deus e a razão humana. A busca filosófica pode, portanto, confiar, e o crente pode evitar opor à sua fé uma verdade encontrada com a razão."
A reforma, portanto, pretende sublinhar "o caráter sapiencial e metafísico da filosofia". "O papel central da metafísica deve ser entendido, assim, à luz da importância da filosofia do conhecimento humano."
"A importância da filosofia está diretamente ligada ao desejo humano de conhecer a verdade e organizá-la. A experiência mostra que o conhecimento da filosofia ajuda a organizar melhor, em cooperação com outras disciplinas, o estudo de qualquer ciência."
"A metafísica quer conhecer o conjunto da realidade - que culmina com o conhecimento da ‘Causa primeira' de tudo - e mostrar a inter-relação entre os vários campos do saber, evitando o encerramento de cada ciência em si", acrescentou o reitor da ‘Angelicum'.
O tomismo
"A Igreja dá destaque à filosofia tomista, não como exclusiva, mas exemplar", recordou o cardeal Grocholewski, em seu discurso, citando a ‘Fides et Ratio', quando afirma que "nem todas as filosofias são compatíveis com fé e com uma razão adequada à verdade".
O Papa Bento XVI aprovou as alterações que reformam três artigos da Constituição Apostólica ‘Sapientia christiana', em 28 de janeiro, dia de São Tomás de Aquino. A maioria das mudanças se relaciona com as normas de aplicação.
O cardeal sublinhou também que a lógica na filosofia é necessária na medida em que é uma disciplina estruturante para a razão, desaparecida sobretudo devido ao atual colapso da cultura cristã.
Mais filosofia
Dom Jean Louis Bruguès explicou que a reforma afeta as faculdades eclesiásticas de filosofia, o primeiro ciclo de teologia, as instituições de filosofia filiadas ou ligadas a uma faculdade de teologia e as instituições teológicas agregadas a uma faculdade de filosofia.
Nas faculdades eclesiásticas de filosofia e nos institutos de filosofia, o primeiro grau dos estudos eclesiásticos dura de 2 a 3 anos. "Isso porque a experiência tem demonstrado que a duração anterior não era suficiente", disse ele. Entre as disciplinas obrigatórias - filosofia do conhecimento, da natureza, do homem e do ser -, agora se acrescenta uma disciplina estrutural: a lógica.
Também se estabelece uma hierarquia entre as disciplinas, de acordo com o grau de obrigação, e se enfatiza a importância de "ler os textos dos autores mais significativos".
Para melhorar a qualidade dos estudos dos futuros sacerdotes, professores e especialistas, portanto, será necessário ter professores devidamente qualificados, com doutorado em filosofia e, na medida do possível, que este título seja eclesiástico. E assim, as faculdades de filosofia precisarão de um mínimo de 7 professores estáveis (5, no caso dos institutos).
Nas faculdades de teologia, no entanto, o número total de anos de estudo não mudará, mas vai aumentar o peso da filosofia nos primeiros anos, também em número de créditos. Além disso, "o número de professores estáveis deve ser de pelo menos 2".
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário