Com uma mensagem de solidariedade com o povo palestino e com a condenação do antissemitismo e do antijudaísmo, o Sínodo dos Bispos se manifestou sobre o conflito que continua ensanguentando a Terra Santa e que é a base do fenômeno da emigração de tantos cristãos desta região.
Em nome dos 185 padres sinodais que participam da Assembleia Especial para o Oriente Médio, Sua Beatitude Antonios Naguib, patriarca de Alexandria dos Coptos e relator geral do Sínodo, leu ontem a Relação depois da Discussão (Relatio post Disceptationem), que recolhe os frutos da primeira semana de trabalhos.
"Ainda condenando a violência, venha de onde vier - lê-se no texto -, e invocando uma solução justa e duradoura do conflito entre palestinos e israelenses, expressamos nossa solidariedade com o povo palestino, cuja situação atual favorece o fundamentalismo." E acrescenta: "O conflito palestino-israelense repercute nas relações entre cristãos e judeus".
Além disso, "o conflito entre Israel e o povo palestino, assim como a guerra no Iraque, agravaram em alguns países do Oriente Médio as situações econômicas e políticas, o avanço do fundamentalismo e a restrição das liberdades e da igualdade que estão na base da fuga de tantos jovens e pessoas instruídas, que estão empobrecendo as igrejas locais de suas melhores forças".
"Em muitas ocasiões - prossegue o texto -, a Santa Sé expressou claramente sua postura, desejando que ambos os povos possam viver em paz, cada um em sua pátria, com fronteiras seguras, internacionalmente reconhecidas. A segurança se baseia na confiança e se alimenta na raiz da justiça e da honradez."
A propósito disso, os padres sinodais quiseram sublinhar que "a convivência pacífica é o fruto do reconhecimento real e prático dos próprios direitos e deveres" e que também por parte da Igreja no Ocidente se requer certa equidistância para evitar "tomar partido por uns esquecendo o ponto de vista e as condições dos outros".
Este tema foi abordado durante a conferência de apresentação da Relatio realizada hoje na Sala Stampa da Santa Sé, quando um jornalista do Jerusalem Post aludiu à apresentação do Kairos Palestine Document que se realizaria hoje diante da assembleia sinodal por Dom Michel Sabbah, que, entre 1987 e 2008, foi Patriarca latino de Jerusalém.
O documento, difundido antes do Natal de 2009, contém um apelo dirigido a cessar a ocupação dos territórios palestinos e o boicote que sufoca a economia da Palestina, e à eliminação do muro de separação em Israel.
Sobre esta questão, o Pe. Pierbattista Pizzaballa, O.F.M., custódio da Terra Santa, quis esclarecer que "o Kairos Palestine Document não é um documento oficial da Igreja Católica nem das igrejas cristãs da Terra Santa e de Jerusalém. É um documento que foi elaborado por alguns leigos cristãos, nem todos católicos, e também por alguns eclesiásticos".
"Não há nenhuma assinatura. Quando se dão iniciativas desse tipo no território de Jerusalém, é quase automático que o Secretariado mande uma mensagem de incentivo", indicou.
Sempre na Relatio, as igrejas do Oriente Médio, representadas no Sínodo e que abrangem 16 países, afirmam rejeitar o antissemitismo e o antijudaísmo, e sublinham que "as dificuldades das relações entre os povos árabes e o povo judeu se devem sobretudo à situação política conflitiva".
Por isso, é necessário distinguir "entre realidade religiosa e realidade política" e levar adiante a missão própria dos cristãos de ser "artífices de reconciliação e de paz, com base na justiça para ambas as partes".
Dialogo com o judaísmo
A Relatio entra depois no específico do diálogo inter-religioso como base da convivência pacífica entre os povos do Oriente Médio. A propósito disso, destacam-se as iniciativas pastorais locais de "diálogo com o judaísmo, principalmente a partir dos Salmos e da leitura e meditação dos textos bíblicos".
"A leitura do Antigo Testamento e o aprofundamento nas tradições judaicas ajudam a conhecer melhor a religião judaica. Estas oferecem um campo comum de estudos sérios e ajudam a conhecer melhor o Novo Testamento e as tradições orientais." Além disso, o texto convida a levar o diálogo também ao âmbito acadêmico, por meio da colaboração entre os institutos de formação.
Além disso, o vicariado católico de língua judaica dentro do patriarcado latino, que nasceu originalmente como Oeuvre Saint-Jacques em 1955, para responder às necessidades pastorais dos católicos presentes na sociedade judaica após o nascimento do Estado de Israel em 1948, "deve ajudar a sociedade judaica a conhecer e compreender melhor a Igreja e seu ensinamento".
O documento lamenta também que "a interpretação tendenciosa de alguns versículos da Bíblia justifique ou favoreça a violência".
Ao comentar este assunto na coletiva de imprensa, Dom Antoine Audo SJ, bispo de Alepo dos Caldeus (Síria), explicou que a referência tem a ver com "certos grupos de protestantes que chegam sobretudo ao Norte da África, à Turquia, à Jordânia e fazem uma leitura um pouco literal da Bíblia para justificar o Estado de Israel".
Por sua parte, o Pe. Pizzaballa falou dos chamados cristãos sionistas, que, por meio de uma leitura fundamentalista da Bíblia, sustentam que a segunda vinda do Messias acontecerá quando Israel tiver voltado à sua pátria. Isso leva, portanto, "a alguns movimentos dentro da sociedade israelense a usar a Bíblia para justificar escolhas de caráter político".
Relações com os muçulmanos
No que diz respeito ao diálogo levado a cabo com os muçulmanos, o acento é colocado na criação de "comissões locais de diálogo inter-religioso", ainda que a prioridade seja dada "ao diálogo da vida ou diálogo da proximidade", que torna necessário "um testemunho de fé autêntica" por parte dos cristãos. Isso porque "a verdadeira relação com Deus não precisa de religiosidade barulhenta, mas santidade autêntica", a qual "é valorizada reciprocamente por ambas as partes".
Igualmente, "a literatura árabe-cristã deve ser mais valorizada", do mesmo modo que "devem ser favorecidas atividades comuns no âmbito cultural, esportivo, social e educativo". Também aqui há um convite a investir em educação para alimentar o respeito e o conhecimento recíprocos e para superar "os preconceitos herdados pela história dos conflitos e das controvérsias, por ambas as partes".
Com este fim, é necessário também "purificar os livros escolares de qualquer preconceito sobre o outro e de qualquer ofensa ou deformação" e "evitar toda ação provocativa, ofensiva, humilhante e toda atitude anti-islâmica".
No entanto, para ser autêntico, "o diálogo deve ser realizado na verdade", enfrentando, "de forma respeitosa e caridosa", temas como a identidade do homem, a justiça, os valores da vida social digna, a reciprocidade e, em especial, a liberdade religiosa.
O texto recolhe também as propostas de alguns padres sinodais, que convidam a "não se limitar às correntes atuais moderadas do Islã, mas aproximar-se também dos fundamentalistas e dos extremistas, que afetam profundamente a massa".
Uma indicação recorda também a necessidade de "estudar a releitura dos hadiths de violência, ligados a um contexto histórico passado substituído pelo contexto atual de respeito dos direitos humanos". De fato, alguns hadith - que não são volumes nos quais Maomé, talvez através da boca dos seus seguidores, se pronuncia sobre questões controversas e guia os fiéis por meio de uma série de exemplos - estão na base das ameaças de morte contra quem, nos países árabes, pretende trocar de religião.
Durante a coletiva de imprensa, foi destacada a falta de um apelo contra a islamofobia. Intervindo sobre o tema, o Pe. Pizzaballa explicou que "no Oriente, a comunidade cristã vive dentro do mundo muçulmano, que tem dinâmicas que nem sempre são fáceis, certamente difíceis, mas isso [islamofobia] é mais um problema ocidental que oriental".
Fonte: Zenit.
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