Uma das questões centrais que provocou há quase mil anos o cisma entre as Igrejas Ortodoxas e Roma, o primado do Papa, converteu-se no centro da fase atual do diálogo teológico entre católicos e ortodoxos em busca da unidade plena.
"O papel do bispo de Roma na comunhão da Igreja no primeiro milênio" foi precisamente o tema da 12ª sessão plenária da Comissão Mista Internacional para o Diálogo entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica, realizada em Viena de 20 a 27 de setembro.
A reunião continuou trabalhando na redação de um documento conjunto, que começou a ser elaborada em 2009, durante a assembleia plenária do ano passado, celebrada em Pafos, Chipre.
"Nesta fase - revela o comunicado conjunto emitido pelos representantes católicos e ortodoxos no final do encontro -, a Comissão está discutindo este texto como um documento de trabalho e foi decidido que o texto deveria ser revisado. Foi decidido também formar uma subcomissão para começar a considerar os aspectos teológicos e eclesiásticos do primado em sua relação com a sinodalidade."
As comissões ortodoxa e católica sabiam perfeitamente, em 2007, quando foi decidido enfrentar a questão do primado do bispo de Roma em suas reuniões, que não resolveriam em poucos meses ou anos a questão mais decisiva do grande cisma do Oriente que separou o cristianismo em 1054. A reunião de Viena mostrou que, embora o caminho seja longo, a vontade de avançar é do interesse de católicos e ortodoxos, o que já foi visto como algo importante.
Em 24 de setembro, os dois copresidentes concederam uma coletiva de imprensa; por parte católica, o arcebispo Kurt Koch, novo presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos; e da parte ortodoxa, o metropolitano João Zizioulas de Pérgamo.
Este último constatou que "neste momento não há nuvens de desconfiança entre nossas duas igrejas. Nossos antecessores, em especial os responsáveis de ambas as igrejas, tanto por parte católica como ortodoxa, prepararam o caminho para uma discussão amigável e fraterna. E este espírito prevaleceu em nossas discussões".
"E por isso - acrescentou o representante ortodoxo - desejo assegurar que se continuarmos assim, Deus encontrará um caminho para superar as dificuldades que restam, e levará à plena comunhão nossas duas igrejas - as igrejas mais antigas, que compartilham o mesmo passado ecumênico, as mesmas tradições, o mesmo sentido da Igreja."
O arcebispo Koch, tocando na questão do primado do bispo de Roma, recordou que Joseph Ratzinger já havia afirmado, numa famosa conferência, pronunciada em Graz, em 1976, que "não podemos esperar mais da Ortodoxia o que se vivia no primeiro milênio".
"Portanto, a discussão fundamental é sobre como estas igrejas viviam no primeiro milênio e como podemos encontrar um novo caminho comum hoje. Esta discussão necessita de espaços de liberdade e paciência."
"Sei que algumas pessoas podem estar impacientes, mas a paciência é uma expressão do amor - garantiu o prelado suíço. As pessoas sabem, por experiência, o significado de duas pessoas que se separarem num matrimônio. E nós levamos mil anos de separação. Devemos e queremos empreender novos caminhos, pois Jesus nos deu a missão de viver juntos."
Na homilia, que o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, dirigiu na catedral da cidade durante a Eucaristia celebrada pelos membros católicos, na presença dos ortodoxos, explicou que "temos e necessitamos de um primado no sentido canônico, mas sobre ele está o primado da caridade. Todas as disposições canônicas na Igreja servem a este primado do amor".
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário