O vigário apostólico dos países árabes participa do Sínodo dos Bispos
Por Carmen Elena Villa
Dom Paul Hinder, ofmcap, é pastor de um rebanho forte na fé e disperso no território que diariamente vive e respira com o islamismo. Tem a missão de guiar a Igreja nos países árabes. A sede do vicariado está situada na cidade de Abu Dabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
O vicariado apostólico da Arábia compreende 5 países: Emirados Árabes (com 7 paróquias), Omã (4), Iêmen (4), Qatar (1) e Bahrein (1).
Compreende uma superfície de 3 milhões de quilômetros quadrados, que poderia ser considerada a "diocese" mais extensa do mundo. Não há cristãos locais, só imigrantes. Há paroquianos de 90 nacionalidades, especialmente das Filipinas, Índia, Indonésia, Nigéria, Europa e Estados Unidos.
As igrejas não têm sinais externos nem símbolos visíveis, como cruzes ou campanários. Os fiéis se reúnem para rezar em casas privadas, em geral situadas na periferia.
Desde 2005, este bispo capuchinho de 68 anos, nascido em Lanterswil-Stehrenberg (Suíça), guia cerca de 1,3 milhão de católicos.
Como é a fé das pessoas nos países árabes?
Dom Paul Hinder: É verdade que os católicos em geral vivem um pouco fechados entre eles, em um contexto de indivíduos que professam a mesma fé. Não só quando vêm à Igreja, mas também nos lugares de encontro, como o trabalho. Não é que estejam completamente isolados, mas é verdade que enfrentam uma situação de desafio de fé pessoal. Por exemplo, sobre os valores da própria vida ou como vivem a relação com Deus e a relação com os demais, ou no compromisso com e a partir do Evangelho.
Isso preocupa nossos fiéis, a uns mais, a outros menos. Por isso, eles se organizam frequentemente com o pretexto da oração, em associações nas quais podem viver esta fé, eu diria, mais desenvolvida, talvez que as outras, sobretudo na Santa Missa. A liturgia eucarística é muito importante para eles; de fato, nossas poucas igrejas sempre estão repletas de gente. Inclusive durante a semana assistem milhares de pessoas.
Os fiéis participam das obras de caridade?
Dom Paul Hinder: Sim. Existe todo um desafio também do ponto de vista moral, como viver uma vida conforme o Evangelho e o mandamento de Deus. Essa gente vive não somente o aspecto inspirado na devoção religiosa do sacramento. Eles mesmos se perguntam como podem ajudar seus irmãos que estão na prisão, nos hospitais. Visitam os doentes, levam-lhes a Comunhão etc.; organizam grupos e buscam fazer tudo o que estiver ao seu alcance, incluindo também a possibilidade de que possam se confessar. Também ajudando os sacerdotes aos poucos e indo a lugares aonde eles talvez não consigam chegar. E sem omitir as tarefas cotidianas da Igreja, eu gostaria de acrescentar que todas as catequeses estão nas mãos dos leigos: em Abu Dabi, há mais de 20 mil crianças na catequese, toda sexta-feira.
Quais são as principais riquezas da fé nestes países?
Dom Paul Hinder: Eu diria que é uma fé profunda, que se exprime também em uma devoção bastante intensa, vivida de diferentes maneiras e não somente sob o aspecto sacramental, mas também na veneração dos santos, na participação nos grupos de oração ou com a Bíblia, entre outras atividades. E, como comentei antes, são sensíveis e atentos na ajuda aos outros, tanto nos próprios países como nos de origem. Se há um desastre em outro país, por exemplo, no Paquistão, organiza-se uma coleta especial na igreja e as pessoas são generosas. Têm um sentido na partilha, apesar das problemáticas existentes.
Como os cristãos podem permanecer fiéis convivendo com uma realidade tão diferente, como o islamismo?
Dom Paul Hinder: Vivemos a presença cotidiana do islamismo (também acusticamente, sobretudo). Eu diria que os imigrantes vivem mais "junto" com os outros, não "como" os outros. É outra forma de viver. Há contatos profissionais inevitáveis, nos escritórios ou na vida cotidiana, quando se deve fazer algo oficialmente, sempre existe alguma coisa para fazer com os cidadãos locais. Está claro que os educadores são os mais expostos a esta situação, mas é um momento único para o diálogo com os muçulmanos. Acreditamos que sempre haverá um elemento marginal, eu diria que se pode encontrar alguma possibilidade, mas na vida cotidiana, pelo menos nestes países, não é tão presente nem tão factível.
Conte-nos sobre sua experiência pessoal como pastor de um povo tão especial, que vive junto a uma cultura e uma fé tão diversas.
Dom Paul Hinder: Ser pastor de um rebanho tão variado é um desafio que supera as capacidades de um homem. Se não existisse a promessa do Senhor de estar sempre conosco e se não existisse a fé intensa dos meus irmãos e irmãs, eu não poderia assumir esta missão. Estar exposto cada dia a uma fé tão potente como o Islã pode ser um estímulo para aprofundar na própria fé e em sua prática.
Os ataques que os cristãos sofreram no Oriente (Índia, Paquistão, Nigéria, Iraque), especialmente nos últimos dois anos, semeiam temor nos cristãos dos países árabes?
Dom Paul Hinder: Em nossos países, ao contrário dos que você mencionou, nós nos sentimos relativamente seguros. Existem e podem existir situações precárias de segurança em certas partes, mas geralmente não são ameaças diretas. Está claro que isso não elimina o fato de que frequentemente o fato de ser cristão tem consequências de discriminação.
Como é a relação com os cristãos não-católicos da Arábia?
Dom Paul Hinder: Geralmente é boa. O maior problema para nós é o proselitismo de alguns grupos evangélicos que pescam em nossas águas porque não têm permissão de fazê-lo entre os não-cristãos. Muito frequentemente trabalham com métodos mais do que questionáveis...
Como os católicos podem transmitir a religião aos seus filhos em
um contexto de restrição tão forte da liberdade religiosa?
Dom Paul Hinder: Não existe outra forma de fazer isso, a não ser nas próprias famílias. Estas, em geral, não têm tempo ou conhecimento suficiente da Bíblia ou da fé católica. É importante que enviem seus filhos a essas catequeses das nossas paróquias (em 2009, foram mais de 25 mil crianças cada final de semana). Em certas situações de liberdade restrita, devem fazê-lo, inclusive escondido ou em privado. É de admirar tantos leigos que colocam seus dons ao serviço da Igreja. Procuramos dar-lhes a formação necessária, ainda que nem sempre seja fácil.
O que os párocos e fiéis presentes no Sínodo esperam?
Dom Paul Hinder: Acho que os nossos fiéis esperam principalmente um estímulo em sua situação, que é tudo, exceto fácil. Esperam dos bispos que levem a sério suas responsabilidades de pastores, para que deem ao seu rebanho o pão da Palavra de o Pão da Vida. Finalmente, esperam ser reconhecidos, ou seja, que a Igreja inteira perceba sua existência e suas lutas. Neste sentido, esperam a solidariedade na fé, que se expressa especialmente na oração.
Fonte: Zenit.
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