segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Papa enfrentará a perseguição no Reino Unido



Conforme se aproxima a data para a viagem de Bento XVI à Escócia e Inglaterra – a meados de setembro –, a hostilidade contra a religião é cada vez mais intensa.
Peter Tatchell, um conhecido crítico da Igreja Católica, escreveu um artigo de opinião, publicado no dia 13 de agosto pelo jornal The Independent. “A maioria dos católicos se opõe a muitos dos seus ensinamentos”, reivindicou, em relação ao Papa.
Em seu papel de porta-voz da campanha de protesto contra o Papa, Tatchell prosseguiu com uma longa lista de “roupa suja” de ensinamentos da Igreja, descritos por ele como duros e extremos.
Tatchell foi eleito também pela emissora de televisão Canal 4 para apresentar um programa de 60 minutos sobre o Papa, que será transmitido durante a visita papal, informou o jornal Telegraph em 4 de junho.
Não será o único especial televisivo crítico contra a Igreja Católica. A BBC está trabalhando em um documentário de 4 horas sobre os escândalos de abusos por parte do clero, segundo informou o jornal The Guardian no último dia 3 de agosto.
Junto à não surpreendente oposição à visita por parte da Ordem de Orange da Irlanda e do pregador protestante Ian Paisley, o governo britânico foi pego de surpresa em um vergonhoso exemplo de preconceito anticatólico.
O Foreign Office teve de apresentar um pedido oficial de desculpas depois de que se conheceu um documento governamental sobre a visita, divulgado no dia 25 de abril pelo Sunday Times. Um documento que fazia parte de um pacote de instruções para os funcionários do governo e que sugeria que o Papa deveria despedir seus “poucos fiáveis bispos”, desculpar-se pela Invencível Armada e inaugurar uma clínica abortiva.
Nervos
Os ataques não ficaram sem resposta. Ainda que não sejam representantes oficiais da Igreja, criou-se um grupo de oradores católicos com o nome de Catholic Voices (Vozes Católicas). Sob a liderança de Jack Valero, diretor do Opus Dei no Reino Unido, a equipe de oradores está se disponibilizando para defender os ensinamentos da Igreja.
O apoio procede também de fontes leigas. O autodeclarado ateu Padraig Reidy criticou o caráter extremo da retórica anticatólica em um artigo publicado pelo jornal The Observer em 22 de agosto.
No dia 28 de julho, Kevin Rooney, também ateu, escrevendo para o site Spiked, descreveu os ataques à Igreja como “intolerantes, reprováveis e ignorantes”.
Rooney, que cresceu como republicano socialista em Belfast, disse que os críticos não só se opõem aos ensinamentos da Igreja, mas também querem impedir absolutamente que ela fale. Por outro lado, indicou, as acusações feitas contra a Igreja são consideradas imediatamente como verdadeiras, sem necessidade de provas.
“Assim como acontece com o direito à liberdade de expressão, parece que o direito a ser considerado inocente enquanto não se prove a culpabilidade não se estende à Igreja Católica”, observou.
Os problemas enfrentados pela Igreja estão longe de limitar-se à hostilidade verbal. Uma série de leis sobre crimes chamados “de ódio” e de “antidiscriminação” está criando contínuos desafios legais para os cristãos no Reino Unido.
De acordo com um folheto recentemente publicado sobre este tema por Jon Gower Davies, há mais de 35 leis do Parlamento, 52 decretos, 13 códigos de práticas, 3 códigos de orientação e 16 diretivas da Comissão Europeia que influenciam a questão da discriminação.
Em A New Inquisition: religious persecution in Britain today (Uma nova inquisição: a perseguição religiosa na Grã-Bretanha hoje, Ed. Civitas), esboça-se uma série de casos recentes, nos quais os cristãos sofreram por causa destas leis.
Adoção
O último exemplo disso foi a perda da agência Catholic Care, de Leeds, de uma apelação ao Supremo Tribunal sobre a questão de se podem continuar se negando a dar crianças em adoção a casais do mesmo sexo.
A origem do caso foi um regulamento de 2007 sobre a orientação sexual, que proibiu as agências de adoção de tal “discriminação”.
Segundo um artigo publicado em 19 de agosto pelo jornal Telegraph, a Catholic Care era a última agência de adoção católica que resistia à normativa. Desde que a lei entrou em vigor, em janeiro de 2009, as outras 11 agências de adoção católicas tiveram de fechar suas portas ou romper seus laços com a Igreja.
Houve muitos outros casos, nos últimos meses, nos quais os cristãos enfrentaram batalhas legais.
- Uma cuidadora ganhou sua batalha por continuar cuidando de crianças, depois de que isso lhe fora proibido pela prefeitura de Gateshead. A proibição se deveu ao fato de que uma menina de 16 anos que estava sendo cuidada por ela decidiu se converter do islã ao cristianismo. A cuidadora, que permaneceu no anonimato para proteger a identidade da garota, havia cuidado de mais de 45 crianças. Ainda que a questão tenha sido concluída, a mulher sofreu consideráveis perdas financeiras devido à proibição (The Christian Institute, 11 de julho).
- Um pregador cristão foi preso por dizer publicamente que a homossexualidade é um pecado. Dale McAlpine ficou em uma cela durante 7 horas e posteriormente foi acusado de “provocar assédio, alarme e angústia” (The Telegraph, 2 de maio). Depois dos protestos generalizados, retiraram a acusação (The Christian Post, 18 de maio).
- Um conselheiro matrimonial cristão foi proibido de ir à Corte de Apelação para tratar da sua demissão por parte de Relate Avon, depois de admitir que não poderia aconselhar os casais do mesmo sexo devido às suas crenças. Gary McFarlane perdeu sua reclamação por ser demitido, considerada improcedente, em um tribunal trabalhista e em uma audiência posterior no tribunal de apelações (Christian Today, 29 de abril).
- Shirley Chaplin, uma enfermeira cristã, perdeu uma demanda por discriminação depois da sua transferência a tarefas de escritório, a partir de sua negativa a retirar um crucifixo que usava no pescoço. Apesar de John Hollow, presidente do comitê do tribunal trabalhista, ter admitido que Chaplin usou o crucifixo durante 30 anos como enfermeira, disse que usá-lo não era uma exigência da fé cristã. O arcebispo da Cantuária, Rowan Williams, mencionou o caso em sua homilia da Páscoa. Afirmou que havia uma “estranha mistura de desprezo e temor com relação ao cristianismo” (The Telegraph, 6 de abril).
No começo deste ano, a situação chegou a tal ponto, que o ex-arcebispo da Cantuária, Lord Carey, junto a outros 6 bispos anglicanos, escreveu uma carta ao Sunday Telegraph protestando pelo fato de os cristãos na Grã-Bretanha estarem sendo perseguidos e tratados com falta de respeito.
Em um artigo sobre a carta, de 28 de março, na edição do Sunday Telegraph, explicou, os bispos afirmaram que, enquanto os crentes de outras religiões recebem um tratamento mais sensível, os cristãos são castigados.
“Houve numerosos casos de demissões de cristãos praticantes dos seus empregos por razões que são inaceitáveis em um país civilizado”, declarava a carta.
Direito de ser ouvido
A notoriedade das restrições aos cristãos chegou a tal ponto, que o Papa teve de intervir publicamente. Durante seu discurso de 1º de fevereiro aos bispos da Inglaterra e Gales, presentes em Roma para sua visita ad limina, fez um comentário sobre o tema.
Bento XVI observou que seu país se destacava por sua igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade. A seguir, convidou os bispos a se resistirem quando a legislação violasse a liberdade das comunidades religiosas.
“Em alguns aspectos, esta viola a lei natural na qual se baseia e pela qual se garante a igualdade de todos os seres humanos. Peço-vos, como pastores, que garantais que o ensinamento moral da Igreja se apresente sempre em sua totalidade e que seja defendido de forma convincente”, disse o Papa.
“A fidelidade ao Evangelho não restringe a liberdade dos demais: pelo contrário, presta um serviço à sua liberdade, oferecendo-lhes a verdade”, acrescentou.
Dada a preocupação do Papa sobre este assunto e os contínuos casos de perseguição cristã, certamente podemos esperar que ele fale sobre isso durante sua visita deste mês.


Fonte: Zenit.

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