Uma intervenção em uma rádio alemã do teólogo Joseph Ratzinger sobre o futuro da Igreja foi resgatada e publicada em espanhol pela revista de antropologia e cultura da Pontifícia Universidade Católica do Chile, Humanitas (http://www.humanitas.cl).
O diretor da publicação, Jaime Antúnez, em um ato de apresentação desta última edição (número 59), explicou que se trata de uma reflexão desenvolvida no ano 1968 pelo jovem professor Ratzinger, então sacerdote e catedrático em Tubinga, com o título: “Sob que aspecto se apresentará a Igreja no ano 2000?”.
“Há que fazer a composição de lugar do terremoto cultural que se vivia tanto fora como dentro da Igreja nesses anos finais da década de sessenta, quando se compôs o texto”, expressou o diretor de Humanitas.
Com a profundidade e inigualável caridade que lhe são próprias, o atual Papa penetra aqui nas causas do que se vivia nesse momento e descreve, com quarenta anos de antecedência, um futuro que não é diferente do que se vai desenhando hoje. Trata-se, pois, de uma leitura altamente recomendável para entender um tempo como o atual, carregado para a Igreja de crescentes problemas internos e ataques externos, explicou Antúnez.
“Em tempos de violentas convulsões históricas nas quais parece se desvanecer o que aconteceu até esse momento, e abrir-se algo que é completamente novo, o ser humano necessita refletir sobre a história, que o faz ver em sua justa medida o instante irrealmente sobre-exaltado", aconselha em seu ensaio o então professor Ratzinger.
O atual Papa recordava, entre outros momentos dramáticos, quando Pio VI, sequestrado pelas tropas da jovem república francesa, morreu prisioneiro em Valência, em 1799.
Já três anos antes, um dos dirigentes da república tinha escrito: “Este velho ídolo será destruído. Assim o querem a liberdade e a filosofia... É de desejar que Pio VI viva ainda dois anos, para que a filosofia tenha tempo de completar sua obra e deixá-lo sem sucessor”. E muitos temeram que seria assim, afirma em sua reflexão.
Não se faz ali ilusões, tampouco acerca dos tempos de provação que, com agudo realismo, predizia para hoje. O doutor Ratzinger afirmava, nos anos sessenta, que lhe “parece seguro que se aguardam tempos difíceis para a Igreja. Sua verdadeira crise apenas começou. Há de sofrer fortes abalos”.
Mas acrescentava em seguida que está totalmente seguro do que permanecerá no final: não será em nenhum caso a Igreja do culto político, a das grandes palavras dos que nos profetizam uma Igreja sem Deus e sem fé, realidade completamente supérflua e que por isso desaparecerá por si mesma.
“O futuro da Igreja pode vir e virá também hoje só da força dos que tenham raízes profundas e vivam da plenitude pura de sua fé”, afirma Ratzinger.
E acrescenta: “o futuro não virá de quem só dá receitas. Não virá de quem só se adapta ao instante atual. Não virá de quem só critica os demais e toma a si mesmo como medida infalível. Tampouco virá de quem elege só o caminho mais cômodo, de quem evita a paixão da fé e declara falso e superado, tirania e legalismo, tudo o que é exigente para o ser humano, o que lhe causa dor e o obriga a renunciar a si mesmo. Digamos de forma positiva: o futuro da Igreja, também nesta ocasião, como sempre, ficará marcado de novo com o selo dos santos. E, portanto, por seres humanos quem pode ver além dos outros, porque sua vida abarca espaços mais amplos”.
Ao concluir o ato de apresentação no Salão de Honra da Universidade Católica do Chile, o diretor de Humanitas expressou que lhe parecia pertinente agregar que “todos os presentes apreciam em Bento XVI, como em seu venerável sucessor, o Papa João Paulo II, uma providencial confirmação dessa profética previsão que confirma na fé, reconforta a alma e convida paternalmente a uma plena fidelidade à Igreja e a seu magistério”.
Na internet, em espanhol: http://www.humanitas.cl/web/index.php?option=com_content&view=article&id=684:ibajo-que-aspecto-se-presentara-la-iglesia-en-el-ano-2000-cardenal-joseph-ratzinger&catid=145
Fonte: Zenit.
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