“Você veio de tão longe para se tornar sacerdote?” – foi a pergunta que um miliciano fez a Jesús Anibal Gómez antes de assassiná-lo. “Sim, senhor, e com muita honra” – respondeu. “Pois se é religioso, morre com todos”, ordenou o miliciano.
Jesús Aníbal, junto com outros 14 companheiros, foram assassinados na estação ferroviária de Fernancaballero, um pequeno povoado da província de Ciudad Real, na Espanha.
Eles serão beatificados em breve, mas ainda se desconhece a data. O decreto em que se comprova o martírio destes seminaristas foi aprovado pelo Papa Bento XVI no dia 1 de julho passado.
“Quisemos ressaltar a figura de Jesús Aníbal porque foi o único mártir sul-americano dentre os 270 religiosos de nossa comunidade que morreram na perseguição religiosa espanhola de 1936”, disse – em conversa com ZENIT – o postulador da causa destes mártires, padre Vicente Pecharromán.
O futuro beato viveu um ano na Espanha, onde esperava concluir seus estudos de teologia para ser ordenado sacerdote da congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (claretianos).
Caminho do sacerdócio
Jesús Aníbal foi o mais novo de 14 filhos. Nasceu em 1914, em uma casa campestre localizada em Tarso, um pequeno povoado que hoje conta com 7 mil habitantes, na cordilheira ocidental colombiana. No parque principal desta localidade foi erguida uma estátua em sua honra, em 1962.
Ele tinha só 11 anos quando ingressou no seminário menor. “Era amado por sua inocência, sua alegria, por ser o mais novo da casa”, assinalou seu biógrafo, Carlos E. Mesa CMF, no livro Jesús Anibal, testigo de sangre (Editora Conulsa, Madri).
Sensibilidade e uma forte vida interior, assim como carinho por sua família e amor pela terra natal são as qualidades mais destacadas por quem o conhecia. Estudou em Bogotá até 1931, quando mudou para Zipaquirá, uma cidade a 48 km da capital colombiana, onde os claretianos contavam com uma casa filial.
Em 1935, Jesús Aníbal recebeu com alegria uma notícia que mudaria sua vida: deveria se mudar para a Espanha para se preparar para a ordenação sacerdotal. Ao chegar ali, começou a estudar assiduamente os livros do século de ouro espanhol, de Santa Teresa de Jesus, Luis de León, Luis de Granada.
“Se querem saber algo de mim, façam uma visita a Jesus sacramentado e ali me encontrarão”, escreveu para seus pais em uma de suas cartas.
Entre seus estudos e orações, Jesús Aníbal escrevia em seu caderno algumas resoluções concretas para seu combate espiritual: “considerar minha meditação como a base da vida interior de união com Jesus, colocar-me nas mãos de Jesus para saúde e enfermidade. Que Ele disponha de mim segundo sua vontade, tomarei a comunhão como ápice de minha vida”, dizem seus manuscritos que ainda se conservam.
O jovem seminarista chegou primeiro a Segovia, onde permaneceu pouco tempo, devido a que o clima não o ajudava, diante da sinusite crônica de que sofria. Por isso se mudou para o sul da Espanha. “Hoje penso sempre com muito consolo que Nosso Senhor tem desígnios muitos amorosos e especiais sobre mim”, escreveu Jesús Aníbal.
Assim viajou para Zafra, em Extremadura, quase fronteira com Portugal. No final de abril de 1936, começou a crescer a atmosfera de violência no sul da Espanha. Os seminaristas e teólogos claretianos foram enviados então para Ciudad Real.
“A nova comunidade, formada de improviso, era compartilhada por 8 sacerdotes, 30 estudantes e 9 irmãos missionários. De todos eles, seriam 27 os que terminariam sua vida com o martírio”, afirma o postulador.
Padre Pecharromán conta como os seminaristas “recomeçaram com seriedade notável os estudos, sem dispensar nenhuma obrigação da vida religiosa. Encarcerados no casarão cravado na cidade, não saíram de casa nos cerca de três meses em que ali estiveram, por causa do ambiente revolucionário que se respirava”.
“Não temos horta, e para o banho é preciso se virar como é possível”, escreveu Jesús Anibal para seus pais. “Em passeio, não saímos nem uma só vez desde que chegamos; de fato, guardamos clausura estritamente papal, assim as circunstâncias exigem”.
O superior conseguiu que os religiosos lhes outorgassem alguns salvo-condutos para ir a Madri. Assim empreenderam a viagem à capital. “Pouco tempo tiveram para arrumar suas pobres maletas, que não tinham nem sequer o indispensável. Despediram-se dos que ficavam”, narra o padre Pecharroman.
Mas os milicianos não respeitaram o salvo-conduto e chegaram à Estação de Fernancaballero. “Ordenaram que os religiosos descessem. Uns o fizeram de imediato, dizendo: seja o que Deus quiser, morremos por Cristo e pela Espanha. Outros resistiram, mas com as coronhadas dos fuzis, foram obrigados a descer”, disse uma testemunha do assassinato.
“Os milicianos colocaram os religiosos de frente para eles, ao lado do trem. Alguns dos irmãos estenderam os braços, gritando ‘Viva Cristo Rei e Viva a Espanha! Outros taparam o rosto”, assegura a testemunha.
Mas nem sequer o passaporte colombiano, nem a proteção do consulado salvou a vida de Jesús Anibal, que também foi assassinado, pelos simples fato de ser seminarista.
Jesús Aníbal Gómez passará assim a ser o décimo beato colombiano. Atualmente chegaram aos altares sete mártires da Ordem Hospitalar de São João de Deus, assassinados também na Espanha. A Colômbia conta ainda com os beatos Pe. Mariano de Jesús Euse Hoyos e a madre Laura Montoya Upegui.
Fonte: Zenit.
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