O último relatório anual sobre religiões na China, publicado pela Academia Chinesa de Ciências Sociais, questiona a necessidade de manter a Assembleia Nacional de representantes católicos e apela para uma explicação das funções da conferência episcopal e da Associação Patriótica.
O estudo, publicado no dia 11 de agosto em Pequim, está sendo realizado por Wang Meixiu, o único pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais dedicado ao estudo do catolicismo contemporâneo na China, infirmou Eglises d'Asia, agência de notícias de missões estrangeiras de Paris.
O pesquisador recorda que a Assembleia Nacional de representantes católicos, convocada pelas autoridades a cada cinco anos, talvez seja a maior autoridade da Igreja na medida em que seus membros elegem os dirigentes, tanto da conferência episcopal como da Associação Patriótica.
Contudo, constata que a celebração da 8ª assembleia, que deveria ter acontecido em 2009, foi adiada várias vezes, apesar das vagas, desde o falecimento, em 2005 e em 2007, dos presidentes da conferência episcopal da Associação Patriótica.
"Quanto mais adiar a escolha dos futuros dirigentes, mais importância terá a 8ª assembleia", indica Wang Meixiu.
Além disso, acrescenta, é preciso esperar a clausura da exposição universal de Xangai, em outubro de 2010, para que possa ser convocada a assembleia, na qual participam bispos, religiosos e leigos.
As autoridades dedicaram importantes recursos à exposição e não desejam que, em questão de imagem, seu desenvolvimento seja atrapalhado pela celebração de uma "assembleia católica possivelmente sujeita a críticas", explica.
Pode pensar-se que Wang Meixiu se refere a dois tipos de críticas. Na China, as autoridades encontram dificuldades crescentes para que os bispos "oficiais" e reconhecidos por Roma avaliem as medidas que elas tomam.
Por outro lado, parece provável que a eleição de Dom Joseph Ma Yinglin, bispo "oficial" de Kunming não reconhecido pelo Papa, como chefe da conferência episcopal ou da Associação Patriótica, suscite oposições no episcopado.
As autoridades chinesas sabem também que a escolha de um bispo não reconhecido por Roma não seria bem acolhida pela Santa Sé.
Para contrapor estas oposições, as autoridades multiplicam as pressões e as reuniões, como a "sessão de estudo" que cinquenta responsáveis da parte "oficial" da Igreja celebraram no último mês de julho em Pequim.
Em sua carta aos católicos chineses de 2007, o Papa Bento XVI indicou claramente que não era possível que as agências estatais se coloquem sobre os bispos e ditem qual deve ser a conduta de suas Igrejas locais.
Além disso, na declaração conclusiva da terceira reunião da Comissão do Vaticano para a Igreja na China, celebrada em Roma de 22 a 24 de março, a Santa Sé pediu aos bispos da China o compromisso pela unidade eclesial.
Entre outras coisas, foi pedido que evitassem "realizar gestos (como por exemplo, celebrações sacramentais, ordenações episcopais, participações em reuniões) que contradizem a comunhão com o Papa, que os nomeou pastores, e que podem criar dificuldades, às vezes angustiosas, dentro das respectivas comunidades eclesiásticas".
Isso inclui, entre outras coisas, a participação na Assembleia Nacional de representantes católicos.
Divisão de funções
Por outro lado, o relatório de Wang Meixiu defende uma visão mais clara das funções reservadas pela conferência dos bispos e a tarefa de conduzir a Igreja, e a Associação Patriótica de servir de vínculo, de "ponte", entre a Igreja e o Estado.
Uma organização assim permitiria um desenvolvimento melhor da Igreja, ao mesmo tempo em que melhoraria sua imagem, afirma.
Além disso, uma diferenciação clara das funções entre os dois organismos permitiria uma melhor aplicação da política religiosa do Estado, destaca.
O pesquisador, membro do instituto de estudos das religiões da Academia Chinesa de Ciências Sociais, destaca que durante a última década, a Igreja Católica na China multiplicou seus contatos com a igreja universal.
Também constata que a conferência episcopal, que reúne bispos "oficiais" - nos quais a qualidade episcopal é reconhecida tanto por Roma como por Pequim - e a Associação Patriótica de católicos chineses, apesar de serem entidades diferentes, dotadas cada uma de sua própria constituição, agiram de forma cada vez mais estreita nos últimos anos, exceto em algumas situações concretas.
Desta forma, em sua opinião, "foi debilitada a função, a eficácia e a influência de cada um destes organismos".
O relatório de Wang Meixiu, que não foi publicado na internet, oferece informação detalhada das cinco religiões oficialmente reconhecidas pelo regime chinês.
É o terceiro relatório deste tipo que foi realizado na China. Após duas edições anteriores, a deste ano coloca em destaque especialmente o estudo do protestantismo, como uma análise de um amplo estudo sobre o tema - o primeiro deste tipo - realizado com 200 mil crentes.
Fonte: Zenit.
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