sexta-feira, 5 de abril de 2013

A Igreja Católica e a África

Não obstante a feroz concorrência de diverso tipo de igrejas, sobretudo das correntes islâmicas e protestantes, a verdade é que aumenta cada vez mais o número de católicos em todo o continente africano. O quotidiano da Igreja Católica em África, contrariamente ao que sucede noutras latitudes, é animado por um número crescente de jovens um facto que deixa perceber que a actual tendência de crescimento se irá manter por muitos mais anos. Esses jovens, tanto padres como meros crentes, estão a contribuir para que a Igreja Católica ganhe um ritmo mais de acordo com aquilo que são os tempos da modernidade, tanto na concretização dos rituais como, sobretudo, na forma de abordar e resolver os problemas com que a humanidade actualmente se debate. Depois de gorada a expectativa de se ver agora no Vaticano um padre africano, o continente parece rever-se na pessoa do cardeal escolhido para comandar os destinos da Igreja Católica em todo o mundo. O facto dele se dizer defensor dos pobres e desprotegidos, faz com que a Igreja Católica em África veja nele a pessoa certa para conseguir um maior equilíbrio de fé entre ricos e pobres na certeza de a sua voz nunca será ignorada por parte daqueles que sempre os tem usado como meros objectos destinados a deles tirar tudo aquilo que podem para ser próprio proveito. Mas o crescimento do número de católicos no continente africano começou a ser notado depois do segundo Concelho do Vaticano, mais concretamente entre 1962 e 1965, onde a aprovação do uso vernáculo de diferentes línguas captou um número significativo de seguidores, o que foi acompanhado pela delegação de mais poderes às igrejas locais. Esta “indigenização” da igreja introduziu nos cultos cantos e danças nativas ao mesmo tempo que se assistiu a um crescente surgimento de novos padres africanos que assim passaram a ocupar os lugares que antes pertenciam a missionários europeus. Todas estas alterações fez com que as populações africanas se sentissem mais ligadas à Igreja que, por sua vez, passou a ter um melhor entendimento dos problemas que os crentes sentiam actuando de forma mais prática e directa na resolução dos problemas que lhes eram colocados pelos seus fieis. Outro motivo que tem contribuído para o seu crescimento tem sido o modo exemplar como a Igreja Católica em África tem conseguido manter-se a margem de todos os escândalos que envolvem padres europeus e americanos em casos de corrupção ou de abuso sexual de menores. Sendo quase um “oásis” no meio de tantas polémicas, os líderes africanos da Igreja Católica tem-se pautado por uma total discrição evitando pronunciamentos que possam configurar criticas ou apoios aos numerosos processos que frequentemente chegam ao Vaticano. Essa postura, mais virada para as questões pastorais do que para os problemas do quotidiano mundano, conferem-lhe uma imagem de grande credibilidade perante a opinião pública mesmo aquela que professa outras religiões. Este tipo de comportamento pode transmitir a ideia de que existe, por parte dos católicos africanos, uma certa independência em relação aquilo que é ditado desde o Vaticano, o que permite aos seus líderes trilhar caminhos que melhor se adaptem as necessidades dos seus seguidores. Os líderes protestantes, por exemplo, acham que os católicos africanos tem comportamentos e atitudes que não diferem muito dos seus, tentando fazer passar a imagem de que aquilo que os divide e muito pouco. Esta análise resulta da necessidade que sentem em travar o crescente número de dissenções, sobretudo entre a juventude, que encontra entre os católicos um sistema mais organizado e capaz de responder as suas necessidades de afirmação de fé. Na visitas que o anterior papa efectuou a países africanos não deixou de surpreender o número de jovens que participavam nas diferentes realizações então feitas e que mostra bem o enorme potencial de crescimento ainda existente. Segundo dados do Vaticano estima-se que existam cerca de 186 milhões de católicos em todo o continente africano, com uma maior incidência na região a sul do Saara. Apenas a norte do continente, devido à influência islâmica dos países vizinhos do mundo árabe e que os católicos se encontram em grande minoria muitos deles recorrendo à clandestinidade para fazerem a sua profissão de fé. Acredita-se que este novo Papa venha a olhar com mais atenção para o mundo africano incentivando e apoiando as diferentes obras que as diferentes congregações religiosas estão a desenvolver, muitas vezes debaixo da própria incompreensão dos governos dos países onde estão instalados. Esse incentivo pode ser determinante para que a Igreja Católica se assuma, cada vez mais, como uma parceira indispensável no desenvolvimento do continente africano e na construção de uma nova geração de jovens capazes de ter uma visão mais redentora sobre o futuro dos povos e das Naões. Uma nova geração que, ao mesmo tempo, seja capaz de dar as mãos a todos aqueles que, unidos pela fé, saibam caminhar juntos e resistir a tentação de recorrer a métodos obscuros para concretizar objectivos que estão longe de servir aquilo que o continente africano almeja para a sua afirmação perante o mundo. Roger Godwin| 3 de Abril, 2013 Jornal de Angola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário