segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Basta liberdade para realizar a cidade divina?

Será que os ensinamentos do economista Luigi Einaudi, ex-Presidente da República para ajudar a resolver a crise atual?

Qual é a relação entre liberdade econômica e a doutrina social da Igreja Católica?

Qual o papel das economias familiares e do trabalho autônomo, o respeito pela divisão de poder e da superioridade de leis comuns?

Onde estão as classes dominantes moralmente elevadas? O federalismo pode ser realizado na Itália? E uma federação das nações européias?

Para responder a estas perguntas e outras sobre este assunto, Francesco Tomatis, professor titular de filosofia teórica na Universidade de Salerno escreveu o livro: "Em direção a cidade divina. O encanto da liberdadeem Louis Einaud

Com este volume o autor propõe uma interpretação do pensamento de Einaudi destacando a constante reflexão sobre a ligação essencial entre a liberdade e o referencial à tradição religiosa cristã.

Francesco Tomatis nasceu em Carrù (Cuneo) em 1964, colabora com "Avvenire", "La Rivista del Club Alpino Italiano", "Ousitanio Vivo”. Responsável pela edição das obras de Schelling, Nietzsche, Pareyson, publicou os livros: kenosis do logos (1994), Ontologia do Mal (1995), O argumento ontológico (1997), Escatologia da negação (1999), Pareyson ( 2003), Filosofia da montanha (2005), Como Ler Nietzsche (2006), Diálogo dos princípios com Jesus, Sócrates, Lao Tzu (2007), Liberdade do saber, Universidade e diálogo Intercultural (2009).

ZENIT entrevistou Francesco Tomatis para saber mais...


O que tem a ver Luigi Einaudi com a cidade divina?
Tomatis: O título do livro, Em direção a cidade divina, retoma um artigo publicado em 1920 por Luigi Einaudi, muito significativo. Toda a visão política e econômica de Einaudi é incompreensível sem a constante referência a tensão dos homens em direção a uma cidade divina, ideal, mas também realizável na história, onde a personalidade de cada um pode livremente explicar-se em harmonia com o próximo. A cidade divina é tanto o pensamento divino de Platão como aquele cristão, tal como interpretada por Santo Agostinho. Einaudi, frequentemente se refere em seus escritos à viva cidade divina, como também ao decálogo bíblico e a Jesus Cristo como referência moral imprescindível.

Quais são as três dimensões da liberdade que o senhor descreve no livro?
Tomatis: Existem duas dimensões da liberdade muito conhecida, a individual, pessoal, que chega às profundezas da consciência moral, e a social, interpessoal, pública. Normalmente, é apenas entre estas duas liberdades que ocorre a disputa teórica-política, com notáveis divisões entre individualistas e coletivistas. Apesar de reconhecer e buscar o valor de ambos, de liberal atento a realidade social dos homens, Einaudi entendeu como nenhuma delas é suficiente a si própria, ou ambas em conjunto, mas apenas no contexto de uma dimensão espiritual da liberdade, por um encanto da liberdade que atrai o homem a uma abertura transcendente, constitutiva do ser humano.

Quais são as descobertas de Einaudi que podem ser úteis hoje para compreender e superar a crise?
Tomatis: Einaudi repetiu várias vezes, especialmente durante a primeira e a segunda guerra mundial, períodos de crise política e econômica grave, onde as crises financeiras não são superadas com a emissão de papéis: os "derivados" de hoje e também os próprios títulos de estado criado em excesso. Somente o trabalho e a economia de cada cidadão estão na base da prosperidade econômica. Acontece que as leis estatais eliminam toda forma de monopólio econômico, permitindo a livre concorrência, e evitando taxar as economias e a propriedade, e mesmo suas transferências. Também é fundamental ter uma forte presença do trabalho autônomo na sociedade, do agricultor ao profissional liberal, do artesão ao empreendedor, como um verdadeiro federalismo europeu, que não esteja vinculado à soberania nacional. A crise financeira atual e a fraqueza da União Européia demonstram que o discurso de Einaudi permanece ainda hoje inédito.

Basta a liberdade econômica para realizar o desenvolvimento?
Tomatis: Não, a liberdade econômica não é suficiente. Nem mesmo a liberdade política. Ambos são necessários, no entanto, baseiam-se na liberdade espiritual, que tem nas leis morais, no decálogo bíblico e nas palavras vivas de Jesus Cristo o próprio modelo. Quase todas as "dez palavras" do velho testamento indicam ao homem o que não fazer, negando as atividades negativas. A nova lei cristã propõe o amor ao próximo. São estes os livres vínculos que permitem, deixam espaço para uma autentica liberdade pessoal, social e ao desenvolvimento para todos e para cada um.

Qual é a relação entre o Magistério da doutrina social católica e o pensamento econômico de Einaudi?
Tomatis: Einaudi elogiou particularmente as intervenções do magistério do papa Pio XII. Primeiramente, de "católico liberal" que se professava Einaudi, por ter sido indicado como a liberdade pessoal querida por Deus e, portanto, dever de cada cristão católico defendê-la. Além disso, pois o Papa Pio XII introduziu a idéia da Igreja Católica supranacional, superando o conceito míope do internacionalismo, que pressupõe a soberania das várias igrejas nacionais. Mesmo que presente no atual magistério eclesial o pensamento econômico einaudiano, pode ser inferido pela encíclica Caritas in veritate do papa Bento XVI. Nesta, é indicado que apenas na luz da verdade, a caridade – via mestra da doutrina social católica -, com as implicações econômicas e sociais da mesma, podem encontrar orientações; como demonstrado em Einaudi que somente a verdade ou a liberdade divina pode dar sentido a vida econômica - social e a liberdade pessoal, a ética católico-liberal do dever moral e do amor evangélico defendida por ele e tenazmente perseguida por toda a sua vida exemplar.

Por Antonio Gaspari
Fonte: Zenit.

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