Erol Dora conseguiu. O advogado de 47 anos de idade, que vive e trabalha em Istambul, foi eleito, de fato, no domingo, 12 de junho, como deputado no parlamento turco. Graças aos 52.000 votos em Mardin - capital da província homônima no sudeste da Turquia, algumas dezenas de quilômetros da fronteira com a Síria -, Dora se tornará o primeiro cristão que se senta no parlamento de Ancara depois de quase meio século. Como recordou Thomas Seibert no jornal The National (10 de junho), o último cristão que ganhou um assento no parlamento turco foi o político armênio Berc Sadak Turan, durante os anos 60. No demais, o último deputado não-muçulmano foi eleito na década de 90, Cefi Kamhi, judeu.
Dora, que é casado e tem dois filhos, foi eleito como candidato independente do bloco Trabalho, Democracia e Liberdade, a única maneira de superar o limite proibitivo de 10%. A cláusula é, de fato, uma barreira para os partidos, mas não para os candidatos independentes. Em Ancara, o novo deputado, que pertence à minoria síria, vai sentar-se entre as fileiras do Partido para a Paz e Democracia (BDP), a formação pró-curda que apoiou sua candidatura. "Se eu entrar no Parlamento, serei a voz da comunidade síria, além de todos os outros grupos étnicos no sudeste": esta foi a promessa do advogado antes do veredicto das urnas (Hürriyet Daily News, 14 de junho).
"Sou de religião síria, mas sou um cidadão turco como os outros desta região", repetiu Dora, falando depois de sua eleição com Avvenire (15 de junho). "Estou feliz em contribuir para o meu país. Os sírios vivem nos territórios do sudeste há séculos, somos turcos para todos os efeitos e podemos ser eleitos para o Parlamento como todos os outros, é nosso direito", disse o novo deputado, orgulhoso de ter reunido um apoio tão grande entre a população muçulmana da sua cidade, Mardin, que sempre foi uma encruzilhada étnica e religiosa.
Para Dora, a obrigação primária da nova legislatura é dar à Turquia uma nova Constituição, para substituir o texto que foi interrompido após o golpe militar de 12 de setembro de 1980 e que deve proporcionar alívio para as minorias. "O objetivo é - declarou Dora a Avvenire - que todo o povo tenha uma Constituição que reconheça e leve em conta todos os grupos étnicos e culturais no país."
Para alterar a Constituição, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan - cujo partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) venceu no domingo, pela terceira vez consecutiva, as eleições legislativas - deve comprometer-se com a oposição. Apesar de sua vitória esmagadora e seus 326 assentos no novo parlamento, a formação filo-islâmica de Erdogan, que ganhou 49,8% das preferências, não conseguiu tocar a maioria absoluta prevista de dois terços dos assentos (367 sobre 550), que lhe permitiria realizar sozinho a reforma constitucional.
Erdogan não chegou, por pouco, a seu segundo objetivo, menos ambiciosos e de resultado incerto, ou seja, alcançar cerca de 330 deputados, o limite para poder mudar a Constituição, submetendo as modificações a uma consulta por referendo.
Não tendo sinal verde, o novo premier, que tem uma veia populista e autoritária - a Turquia é o país com o maior número de jornalistas atrás das grades (pelo menos 57) -, deverá, portanto, buscar o apoio da oposição, formada pelo Partido Republicano do Povo (CHP, 135 deputados), pelo Partido do Movimento Nacionalista (MHP, 53 deputados) e pelo bloco dos independentes (36 deputados, todos apoiados pelo BDP).
A eleição de Erol Dora foi saudada como um sinal positivo por muitos observadores e expoentes cristãos, entre os quais o vigário delegado do Vicariato Apostólico de Istambul, Pe. Lorenzo Piretto OP.
"A eleição do advogado Dora é realmente um bom sinal para o país", disse o padre dominicano a Fides (14 de junho). "Dora é conhecido porque, como um advogado, muitas vezes defende os cristãos envolvidos em processos e é uma referência para a defesa dos seus direitos. Existem outros cristãos presentes nos conselhos comunais, mas um cristão no Parlamento nacional não foi visto por muitos anos", continuou o sacerdote.
Consciente de que ainda há muitas questões em aberto, o Pe. Piretto é otimista. "O governo do AKP, que venceu as eleições, deu bons sinais de abertura no passado; esperamos que continue se ampliando: o problema fundamental é o reconhecimento do status legal às comunidades religiosas. Um exemplo positivo foi, recentemente, o retorno do orfanato de Büyükada ao Patriarcado Ecumênico de Istambul."
Nos últimos meses, Erdogan mandou, de fato, vários pequenos sinais para a comunidade cristã. Como destacou o Financial Times Deutschland (12 de junho), o deputado curdo Süleyman Çelebi, envolvido com seu clã na batalha legal contra o conhecido mosteiro de Mor Gabriel - o centro cultural e espiritual da cada vez menor comunidade síria (ou caldeia) da Turquia -, não fez parte da lista dos candidatos do AKP.
Outros gestos significativos se deram em março passado, com a nomeação de um cristão armênio na equipe do ministro dos Assuntos Europeus, Egemen Bagis, considerado um dos conselheiros mais próximos de Erdogan, e depois a nomeação de outro armênio como embaixador turco na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OSCE). De acordo com o sociólogo Ayhan Aktar, da Universidade Bilgi de Istambul, trata-se de dois movimentos que quebraram um tabu antigo: o da presença dos cristãos no aparelho estatal (Domradio, 11 de junho).
A questão agora é: Quais são as reais intenções de Erdogan, que, em seu discurso de vitória, prometeu trabalhar por todos os cidadãos, de todas as religiões e estilos de vida, mencionando especificamente as minorias cristãs? Sua abertura é sincera ou apenas um hábil movimento eleitoral, o truque típico para as negociações com a União Europeia? Só o futuro demonstrará isso. Também Erol Dora terá de ser forte. Ele não carrega apenas as expectativas de toda uma comunidade, mas foi eleito com o apoio de uma formação política que o próprio ministro Erdogan não hesitou em qualificar como um "partido terrorista" (Hürriyet Daily News, 14 de junho).
Fonte: Zenit - (Paul De Maeyer)
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