Em 9 de julho, em Juba, capital do Sudão do Sul, uma declaração oficial sancionará a criação do 54º país africano. O Sul, cristão e animista, oficializará a separação do regime islâmico do Norte.
A criação do Sudão do Sul é segura, mas ainda está ameaçada por enfrentamentos e focos de guerra civil.
Entre as personalidades que estão trabalhando pela reconciliação, destaca-se Dom Cesare Mazzolari, desde 1999 bispo da diocese de Rumbek (Sudão do Sul) e há 30 anos missionário para o povo sudanês. ZENIT o entrevistou.
Com a constituição do Sudão do Sul, o que mudará para o povo e para a situação geopolítica do Norte da África?
Dom Mazzolari: A secessão do Sudão do Sul representa um objetivo de liberdade para um povo oprimido por mais de 20 anos de guerra civil. Prevejo uma época de cristandade que se aprofundará cada vez mais. Este símbolo de liberdade africana, de liberdade genuína, fortemente desejada, é visível também no Norte da África, com as revoluções que se sucederam nos últimos meses. Isso não significa que deverá haver divisões em outros Estados da África, mas certamente o percurso feito pelo Sudão do Sul foi valorizado e apoiado transversalmente em toda a África.
Qual é a posição da Igreja Católica? E que de que forma os cristãos podem ajudar ao nascimento e desenvolvimento do Sudão do Sul?
Dom Mazzolari: Para um país que tem a taxa mais alta de pessoas analfabetas no mundo (somente 15% dos homens e 9% das mulheres sabem ler e escrever), agora, mais do que nunca, precisamos formar a classe dirigente do futuro para que a autodeterminação desse povo seja plena e madura, no sinal da esperança e de uma fundamental recuperação da identidade. Como Igreja, temos, ainda hoje, uma grande responsabilidade na construção do novo Estado: devemos ensinar a arte paciente do diálogo, da comunicação e da reconciliação, para colocar as bases de um novo país que praticamente só conhece o caminho da violência.
Quais são os projetos educativos para o desenvolvimento promovido pela associação CESAR que o senhor dirige? Em particular, como pretende construir o primeiro centro para a formação de professores do Sudão do Sul?
Dom Mazzolari: CESAR nasceu em 2000, com o objetivo de buscar ajuda fora da África, e constitui um verdadeiro enlace entre a missão e seus doadores. Os fundos recolhidos são utilizados em diversos âmbitos, segundo as necessidades do momento: da pastoral à educação, da saúde às ajudas humanitárias, como está documentado no site www.cesarsudan.org.
Atualmente, estamos na construção de um centro para professores em Cuiebet, localidade a 80km de Rumbek. É uma escola que formará cada ano 30 professores capazes de oferecer uma instrução básica a mais de 5 mil crianças, somente nos primeiros cinco anos de atividade.. Levar a cabo esta obra requer o compromisso das instituições internacionais; nosso apelo se dirige a elas, para que possam dar um novo impulso aos projetos, nesta terra martirizada pela guerra civil e pela pobreza. Por isso, sustentamos as instituições de uma embaixada italiana em Juba, que poderia naturalmente colocar em marcha uma mudança significativa nesta direção.
De que maneira as instituições internacionais, os governos e as igrejas cristãs podem contribuir para a realização dos projetos de desenvolvimento para o Sudão do Sul?
Dom Mazzolari: Infelizmente, o Sudão do Sul é o país mais pobre do mundo: 90% dos habitantes vive com menos de um dólar por dia. No entanto, a superfície e o subsolo deste país esconde enormes riquezas a serem descobertas: petróleo, ouro, madeiras preciosas, como ébano e mogno. Faltam pessoas que saibam explorar esta riqueza para dá-la a conhecer dentro e fora das fronteiras do Sudão do Sul. A ideia de construir uma carpintaria se dirige precisamente a isso: investir no Sudão do Sul, dando a possibilidade aos cidadãos de trabalhar os recursos que a terra oferece.
Quais são as dificuldades que o senhor prevê encontrar? E quais os recursos humanos a serem mobilizados?
Dom Mazzolari: Não teremos a integração imediata, razão pela qual o Norte e o Sul deverão aceitar ser pobres pelo menos por mais 10 anos. Não há hospitais, escolas, fontes de água, infraestruturas. Será necessária a ajuda da comunidade internacional para alcançar muitos dos objetivos que a independência trará consigo. Os contínuos ataques provocadores do governo de Cartum, com a ocupação militar da área de Abuei, disputada pelos jazigos petrolíferos de que dispõe, convidam claramente à guerra. Mas o governo do Sul está reagindo às provocações, fazendo-as cair no vazio. A atmosfera, portanto, não é a mais serena, mas apesar disso estou convencido de que o povo está decidido a independizar-se - e suportar silenciosamente o governo de Cartum é uma demonstração disso.
Fonte: Zenit - (Antonio Gaspari)
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