sábado, 10 de julho de 2010

Metáfora do esporte: não se vence apenas pelos talentos, a inteireza é determinante

No contexto do Mundial de Futebol, em que o esporte, usado como metáfora, “contribui para explicar os desafios de viver adequadamente este dom que é a vida”, fica evidente que a construção de um talento vitorioso depende de muitos fatores, “de um conjunto de articulações e investimentos para dar frutos”.

“A vida não é apenas um dia após o outro. A vitória de viver depende de muitos fatores: não basta apenas ter um talento para garantir o sucesso de se poder viver de maneira adequada”, afirma o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, em artigo enviado a ZENIT hoje.

“Quando não se pode contar com a conjugação de vários fatores, o talento, por mais especial que seja, corre sempre o risco de perder força e de não alcançar metas possíveis da sua inerente constituição.”

“O sucesso que se almeja para a vida, em cada uma das suas etapas e, em função de metas definidas, exige âncoras para fazer florescer os talentos”, destaca o arcebispo.

Segundo Dom Walmor, a cultura tem uma grande responsabilidade nesse contexto. “O substrato cultural, considerado nas suas diversidades, é determinante para que o florescimento de talentos e as responsabilidades assumidas possam chegar a bom termo”.

Ele cita também a importância do equilíbrio emocional, “capaz de sustentar um indivíduo em condições necessárias para se manter o ritmo e recuperar-se das perdas reavendo, em tempo hábil, a capacidade de retomar metas na direção da vitória proposta”.

“O equilíbrio emocional tem tudo a ver com a configuração afetiva de cada um, que, por sua vez, remete ao substrato familiar e cultural que ampara o modo de viver”, explica.

De acordo com o arcebispo, o talento “precisa dessa ambientação, que inclui investimentos de toda ordem, emoldurados por uma cultura consistente”. “Essa consistência, envolvendo variados aspectos emocionais, comportamentais e morais, é o substrato que mantém um indivíduo na condição de alcançar metas.”

O prelado considera que “é muito pouco, e não raramente desastroso, associar talentos ao dinheiro. Isto se verifica de modo muito prejudicial quando, pela força do talento, se é projetado para uma condição em que o volume de dinheiro e de benesses conquistados não tem sustentação humanística, espiritual e moral”.

Aqui se considera “o desafio permanente de saber perder - com elegância e sem perder a cabeça - além da capacidade exigente de administrar a vitória, na parcialidade de sua duração”.

“Se o talento permite antecipar condições favoráveis de vitória, esta pode se esvair facilmente quando não há um lastro de humanidade e de formação integral, escolar, familiar e social que mantenha os indivíduos talentosos equilibrados nos embates próprios da proposta de vitória.”

Segundo Dom Walmor, essa leitura aplica-se “no âmbito do esporte, que se joga e se projeta em todas as condições da vida, sobretudo, no exercício de responsabilidades cidadãs e nas tarefas de importância social e política no conjunto do funcionamento de uma sociedade”.

“A perda do equilíbrio emocional e a falta de substrato humanístico e moral são constatáveis, trazendo enormes prejuízos, nos mais diversificados âmbitos da vida. A consequência aponta para o comprometimento da qualidade dos resultados das atividades e responsabilidades assumidas”, afirma.

Dom Walmor assinala ainda que “a estatura humanística, com a qual se precisa contar para exercer a cidadania e cumprir os cargos e encargos assumidos, é resultado e fruto de um investimento grande e empenhado, com alcance social e político de importância decisiva”.

“Do contrário, projetado pelo talento e ajudado pela oportunidade, na hora crucial em que o equilíbrio e a elegância humanística são imprescindíveis, o medo pode colocar as chances de conquistas em risco. Não se vence apenas pelos talentos. A inteireza é sustentáculo e é determinante”, afirma.

Por: Alexandre Ribeiro


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