O cardeal Jorge Urosa Savino, arcebispo de Caracas, defendeu a liberdade garantida pela Constituição da Venezuela, ao intervir ontem perante a Comissão Coordenadora da Assembleia Nacional.
Sua presença havia sido pedida pela deputada Cilia Flores, presidente do Corpo Legislativo, depois de declarações públicas do purpurado nas quais havia constatado a vontade do presidente Hugo Chávez de instaurar no país o socialismo marxista e de expressar suas reservas, assim como o resto do episcopado, sobre algumas das leis promovidas pelo executivo.
As declarações do cardeal haviam suscitado insultos por parte do presidente Chávez e de expoentes de sua linha política, motivo pelo qual a deputada Flores considerou oportuno oferecer ao cardeal uma oportunidade para esclarecer suas posições.
Ao sair do encontro, realizado a portas fechadas, o cardeal Urosa qualificou o diálogo de cordial, sereno, com grande franqueza e, às vezes, "duro, mas com muito respeito".
Recordou que os bispos venezuelanos, em cumprimento de sua missão, têm o direito e o dever de "iluminar" seus fiéis e a isso dedicou em boa parte sua intervenção.
Em defesa da liberdade garantida pela Constituição
"Emiti minhas apreciações como cidadão venezuelano dentro dos direitos que me são outorgados pela Constituição - afirmou. Por isso, exijo que cessem os ataques contra a minha pessoa que se difundem em alguns programas de meios de comunicação do governo."
Recordou que "opinei que o presidente Chávez quer levar o país pelo caminho do socialismo marxista. Pois bem: eu não disse nada novo, pois o presidente, em várias ocasiões, afirmou ser marxista, como fez, por exemplo, nesta Assembleia em 15 de janeiro de 2010, e está decidido, repete-o permanentemente, a converter a Venezuela em um Estado socialista".
Segundo o cardeal, "levar-nos por este caminho implicaria em deixar de lado importantes princípios consagrados na atual Constituição".
"O Estado socialista marxista é totalitário, pois ocupa todos os espaços, assim como aconteceu nos países submetidos ao regime socialista ou comunista, como os da Europa Central, da União Soviética no passado, e Cuba ainda no presente", afirmou.
Mas o prelado não só defendeu seu direito à liberdade de expressão, mas também defendeu este direito para os demais representantes da Igreja e, em última instância, para todo cidadão.
Por este motivo, afirmou que algumas das leis promovidas pelo governo vão contra a Constituição, como declararam algumas das instituições de maior prestígio do país, em referência à Lei do Conselho Federal de Governo, a Lei de Reforma da Lei Orgânica de Descentralização, Delimitação e Transferência de Competências do Poder Público; a Lei Orgânica de Educação; a Lei da Força Armada Nacional Bolivariana; a Lei sobre a Organização e Regime do Distrito Capital; a Lei para a Defesa das Pessoas no Acesso aos Bens e Serviços; a Lei Orgânica de Processos Eleitorais; e o atual Projeto de Lei de Comunas.
"Em geral, essas leis afetam o pluralismo político, fundamental para a vida democrática, pois incorporam a concepção socialista, para implantar uma pátria socialista, o que consagra como obrigatória para todos os venezuelanos uma ideologia, um sistema e um partido, o qual é alheio ao espírito e à letra da Constituição, que fala de Estado social de direito e de justiça, e propugna como um dos valores fundamentais o pluralismo político", afirmou.
Estas leis, acrescentou, "seguem uma linha de centralização do poder, contra o federalismo e a descentralização, o que vulnera as capacidades de ação dos venezuelanos da província".
"Todas estas leis seguem a linha de dar mais poder ao governo central e à presidência da República, em detrimento das capacidades e do poder do povo, das pessoas, das regiões, da família, do cidadão, e consagram um Estado e um governo cada vez mais poderosos acima da ação e iniciativa das pessoas, dos cidadãos comuns."
Ao concluir, reafirmou, "junto com meus irmãos, os bispos da Igreja Católica na Venezuela, nossa opção pelos pobres, nossa atitude de disposição ao diálogo, de serviço ao povo venezuelano, de participação no âmbito dos direitos que nos são outorgados pela Constituição, e em cumprimento do nosso dever como pastores ao serviço do Povo de Deus, sem discriminações políticas nem de ordem alguma, que vive em concreto em condições históricas, sociais, econômicas e políticas que todos temos de procurar melhorar".
Fonte: Zenit.
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