quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

IV Domingo do Tempo Comum

Ciclo C
Textos: Jr 1, 4-5.17-19; 1 Co 12, 31-13,13; Lc 4, 21-30
Ideia principal: Cristo e os seus seguidores seremos sinal de contradição.
Síntese da mensagem: Hoje é a continuação do Evangelho da semana passada. Um autêntico cristão- chame-se Papa, bispo, sacerdote, religiosa, leigo- sempre será sinal de contradição, a exemplo de Cristo, que não foi compreendido, que jogou na cara dos seus compatriotas a falta de fé, e por isso  quiseram jogá-lo do barranco para baixo (evangelho). Diante disto devemos reagir com a caridade de Cristo (2 leitura), sem medo e com a confiança em Deus, quem nos consagrou desde o batismo para ser profetas para as nações e está do nosso lado para nos salvar (1 leitura).
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, Cristo foi desde que nasceu sinal de contradição; assim disse Simeão a Maria e a José quando estes o apresentaram no templo (cf. Lc 2, 21-40). Jesus foi falar três vezes na sua cidade, Nazaré. Na primeira o aplaudiram até o ponto de sair fumaça das palmas da mão, porque falava “como os anjos”, era o seu paisano e não tinha mais do que falar. Na segunda o vaiaram porque emendou a página ao profeta Isaias, o filho do carpinteiro ao profeta, até ai podemos chegar!, dizendo que o Messias não é o Deus das vinganças, mas o Deus das bondades e do perdão. Na terceira vez, foi a vencida: porque igualou diante de Deus os estrangeiros, judeus e pagãos, empurram-no pelas ruas até os arredores da cidade, ao precipício, e uma investida do povo e… como pode passar pela cabeça de alguém colocar no mesmo nível pagãos, estrangeiros e judeus, estes últimos que eram raça eleita por Deus? Definitivamente esse Jesus de Nazaré pirou de vez. Sinal de contradição! Porque prega outra Notícia diferente- as bem-aventuranças-, mais interior e não tanto exterior e escrava de preceitos, e que não fazia ressoar o eco do Antigo Testamento… está desfigurando a religião de Israel! Porque ia nos banquetes, comia e bebia com pecadores. Porque permitia ser tocado pelos pecadores, era considerado um proscrito e que cheirava mal. Porque deixava que o acompanhassem mulheres que o serviam nas suas necessidades, e não cumpria a lei de Moisés. Porque ensinava nas ruas e nas estradas sem ter o seu título e sem ser escriba sabichão e sem levar um livro debaixo do braço, era criticado. Porque deixava que as crianças se aproximassem Dele, e as acariciava e abençoava, estava debaixo da lupa dos fariseus e dos doutores da lei. Porque era um peregrino itinerante que não tinha onde reclinar a cabeça, era considerado esquisito e fora do comum. Sinal de contradição! “Veio aos seus e os seus não o receberam”(Jo 1,11). Para quem Jesus é sinal de contradição e pedra de escândalo? Para os soberbos, para os que se resistem a crer, converte-se em “rocha de escândalo” (cf. 1 Pe 2,8). E é o mesmo Senhor quem adverte: “Bem- aventurado o que não se escandalize de mim” (Mt 11,6).
Em segundo lugar, a Igreja também foi, é e será sinal de contradição. A pregação da Igreja, a sua mesma presença no meio do mundo, resulta incômoda quando, fazendo-se eco do ensinamento de Cristo, pronuncia o que não deseja ser ouvido; quando recorda que o homem não é Deus, que a lei ditada pelos homens nem sempre coincide com a lei de Deus; quando desafia os convencionalismos pacificamente aceitados pelo nosso egoísmo, pela nossa comodidade e pela nossa soberba; quando proclama a verdade do matrimônio uno, indissolúvel, fecundo, até a morte. A Igreja é sinal de contradição quando não comunga com as ideologias de moda. Como Jeremias (1 leitura) e como Cristo, a Igreja não deve se amedrontar. É Deus quem faz para o profeta praça forte, coluna de ferro e muralha de bronze. A força da Igreja não provem do poder das armas, o do dinheiro, o do prestigio mundano. A força da Igreja provem da sua fidelidade ao Senhor. A resistência da Igreja radica na força paradoxal do amor; um amor que “desculpa sem limites, crê sem limites, espera sem limites, aguenta sem limites” (1 Cor 13,7). A autêntica prioridade para a Igreja, escreveu o Papa Bento XVI, é “o compromisso laborioso pela fé, pela esperança e pelo amor no mundo”. Com essa prioridade devemos trabalhar todos, aceitando o desafio da rejeição, e dando, incansavelmente, testemunho do amor de Deus.
Finalmente, os autênticos seguidores de Cristo, os profetas de Deus experimentarão também este sinal de contradição. Esta é uma constante que acompanha os autênticos profetas, desde o Antigo Testamento até os tempos presentes. Os falsos profetas, os que dizem o que as pessoas querem escutar e, sobretudo, o que compraz os ouvidos dos poderosos, prosperam. Mas os profetas verdadeiros resultam incômodos e provocam uma reação em contra quando na sua pregação tocam temas candentes, colocando o dedo na ferida de alguma injustiça ou situação de infidelidade. Se não, perguntemos a São João Batista ao denunciar o adultério do rei Herodes. Ou ao beato Oscar Romero, que ganhou o apelido de “a voz dos sem voz”. A sua defesa dos mais desfavorecidos de El Salvador fez que o Parlamento britânico o propusesse como candidato para o Premio Nobel da Paz em 1979. Desgraçadamente, os seus contínuos chamamentos ao diálogo, para que os ricos não se aferrassem ao poder, e os oprimidos não optassem pelas armas, não surtiram efeito, apesar da popularidade que alcançaram as suas homilias dominicais. Obstinados em reprimir toda oposição, agentes do Estado terminaram por assassinar o monsenhor Romero, no dia 23 de marco de 1980, e continuaram violando os direitos humanos, provocando uma guerra civil em El Salvador que duraria onze anos e causaria 70.000 mortos.
Para refletir: reflitamos nestas palavras do Papa Francisco: “Mantemos o olhar fixo em Jesus, porque a fé, que é o nosso “sim” à relação filial com Deus, vem Dele, vem de Jesus. É Ele o único mediador desta relação entre nós e o nosso Pai que está no céu. Jesus é o Filho, e nós somos filhos Nele. […] Por isto Jesus diz: veio trazer divisão; não é que Jesus queira dividir os homens entre si, ao contrário: Jesus é a nossa paz, a nossa reconciliação. Mas esta paz não é a paz dos sepulcros, não é neutralidade, Jesus não traz neutralidade, esta paz não é uma fábula a qualquer preço. Seguir Jesus comporta renunciar o mal, o egoísmo e eleger o bem, a verdade, a justiça, inclusive quando isto requer sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim, divide; sabemos disto, divide inclusive as relações mais próximas. Porém, atenção: não é Jesus quem divide. Ele põe o critério: viver para si mesmos, ou viver para Deus e para os demais; fazer-se servir, ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a Deus. Eis aqui em que sentido Jesus é “sinal de contradição” (Homilia de S.S. Francisco, 18 de agosto de 2013).
Para rezar: Senhor, dai-me coragem para poder ser sinal de contradição sem medo, seguindo vosso exemplo e de tantos irmãos e irmãs cristãos, que inclusive deram a vida por Vós e pelo Evangelho
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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