quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A transmissão da fé em família



A Semana Nacional da Família também se relaciona com a temática do Ano da Fé: “a transmissão e a educação da fé na família”. Nada mais apropriado. Embora a fé possa, e precise, ser transmitida também em muitos outros contextos, além da família, é bem verdade que esta é um dos sujeitos fundamentais na transmissão e educação da fé.
A própria constituição da família, mediante o casamento entre um homem e uma mulher, é também uma aposta de fé. Não que o casamento e a família dependam da fé: são realidades naturais e não, sobrenaturais. Apesar de tudo o que se diga ou mova em contrário, os jovens continuam casando e formando família, mostrando que essas realidades não ficam “fora da moda”, como bem confirmaram tantos jovens ao Papa Francisco na JMJ-Rio...
No entanto, Deus quer ajudar o casal a viver bem o casamento e realizar bem a vida e a missão da família. A Igreja tem grande apreço ao propósito do casal, que inicia sua vida a dois com um olhar de fé profunda. De muitos modos, ele pode experimentar que Deus está presente em sua vida e o abençoa e conduz. Por isso, a fé viva e a vida cristã generosa do casal são um poderoso auxilio para ele.
Já na celebração do casamento religioso, os nubentes respondem esta pergunta: “estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus lhes confiar e a educá-los na lei de Cristo e da Igreja?” A resposta é “sim!” A paternidade e a maternidade são vistas à luz da fé em Deus; e a educação cristã dos filhos também é um compromisso de fé assumido pelo casal diante de Deus. Por isso, a transmissão da fé e a educação dos filhos no caminho da vida cristã e eclesial é, desde logo, parte da missão dos pais católicos.
É missão do casal criar um ambiente doméstico que fale da nossa fé: não devem faltar a oração em família, a presença de sinais religiosos na casa, como a Bíblia, o crucifixo ou alguma imagem sacra. A busca do batismo para os filhos, o ensinamento das primeiras atitudes e gestos cristãos, o aprendizado das primeiras orações, a transmissão, aos filhos, da “imagem” cristã de Deus e a introdução na comunidade da Igreja também fazem parte dessa missão dos pais católicos. Em tudo, porém, o fator decisivo na educação é o exemplo dos próprios pais; os filhos pequenos aprendem vendo.
No esforço atual da Igreja em promover uma “nova evangelização”, recordamos esse papel fundamental dos pais e da família cristã. É no contexto da família que são transmitidos (ou deixam de ser transmitidos) os valores que marcam a vida das pessoas. O que se aprende nos primeiros anos da vida tem importância decisiva. Uma boa experiência da nossa fé e a iniciação à vida cristã e eclesial enriquecem a educação dos filhos.
A transmissão da fé da Igreja conta com a ação de todos os seus membros. Uma geração passa à outra o tesouro do Evangelho e o patrimônio da vida cristã e eclesial, enriquecido com o próprio testemunho. É um contínuo receber, acolher, viver e passar os outros; se hoje cremos, é porque outros, antes de nós, fizeram isso generosamente, há quase dois mil anos.
Agora é a nossa vez de fazê-lo. Não por mero automatismo cultural ou por necessidade ritual, mas de modo consciente, generoso e alegre. É um tesouro, que arrebata nosso coração e dá sentido a toda a vida. Amanhã ainda haverá fé no mundo se nós, hoje, não formos um elo quebrado nessa corrente de transmissão da fé cristã católica.

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 13.08.2013
Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

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