sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"O poder necessário" do papa como chefe de Estado

Em 2013, o Édito de Milão completa 1.700 anos. Através dele, em 313, o imperador Constantino deu fim às perseguições contra os cristãos. A tradição liga esse evento à "doação de Constantino", com que o imperador teria presenteado ao papa São Silvestre os territórios da Igreja. A "doação de Constantino" é uma farsa histórica demonstrada definitivamente em 1440 pelo humanista Lorenzo Valla. O poder temporal do papa, a partir do século VIII, tem outras explicações, e não depende nem de doações nem de conquistas militares. Ao contrário do que às vezes se diz, este poder temporal ainda existe no Estado da Cidade do Vaticano, reconhecido pelo Tratado de Latrão de 11 de fevereiro de 1929, que reconhece à Santa Sé a soberania sobre uma porção territorial bem menor que a dos antigos Territórios Papais. Naquele dia, o papa Pio XI comparou a amplitude do novo Estado com o corpo de São Francisco de Assis: "Parece-nos ver as coisas como eram em São Francisco: um volume de corpo apenas suficiente para manter unida a alma". Sem corpo, independentemente de quão pequeno fosse, o papa não teria tido liberdade real, liberdade que ficou demonstrada nos dias da ocupação nazista de Roma: a inviolabilidade extraterritorial da Santa Sé permitiu que o papa salvasse muitos membros da futura República Italiana, graças ao estadista Pietro Nenni e, especialmente, à mediação entre as partes em conflito para que não houvesse combates em Roma. Se o papa fosse, como queria Giosuè Carducci, o "cidadão Mastai", aquela ação diplomática não teria sido possível. O livro “O Poder Necessário”, de Andrea Lonardo, recém-publicado na Itália pela Editora Antonianum, explica a verdadeira origem histórica do poder temporal da Igreja. Foi a mudança da capital do império para Constantinopla, comandada por Constantino em 330, que deu início ao processo. O afastamento do poder imperial, forçado a enfrentar primeiro a ameaça persa e depois a árabe, gerou uma situação em que Roma se uniu sempre mais em torno da autoridade papal. O imperador ainda exercia poder sobre Roma, tanto que voltou a residir na cidade em 663, deportou o papa Martinho I para Constantinopla e tentou várias vezes matar o papa Gregório II (715-731). Mas o bispo de Roma foi se tornando, de fato, o árbitro dos acontecimentos romanos e o gestor dos assuntos administrativos da defesa da Urbe contra os longobardos. Quando estes conquistaram Ravenna, em 751, foi só o papa que se levantou para defender o antigo território romano-bizantino. Serviço: Andrea Lonardo, “O Poder Necessário - Os bispos de Roma e a dimensão temporal no Liber Pontificalis, de Sabiniano a Zacarias (604-702)”. Editora Antonianum, Roma, 2012. O livro, em italiano, pode ser encomendado à Editora Antonianum por e-mail: edizioni@antonianum.eu. Na Itália, pode ser encontrado em: Roma: Librerie Apostoline, Via Merulana, 124. Assis: Libreria Internazionale Francescana, Piazza Porciúncula, 1, Santa Maria degli Angeli (e-mail: info@libreriafrancescana.it). Fonte: Zenit.

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