segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Servidores, não donos da Palavra

Em seu mais recente artigo, intitulado “Servidores, não donos da palavra”, Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina, no Estado do Paraná, alerta para o fato de que o ser humano é chamado a uma nova responsabilidade em relação à Palavra de Deus, pois facilmente se torna dominador, manipulador, dono da Palavra. Para o prelado, muitas vezes o homem domestica a Palavra conforme seus interesses, deformando o Evangelho, torcendo, ajeitando e manipulando a mensagem. Para bem interpretar a Palavra, explica Dom Orlando, precisamos da fé, do estudo, da luz do Espírito Santo e do magistério da Igreja. O arcebispo cita São Paulo, que alertou que não devemos falsificar a Palavra, silenciá-la, emudecê-la, acorrentá-la, ocultá-la, ignorá-la. “Não devemos pregar a nós mesmos, tornando estéril a Palavra que anunciamos, com nosso comportamento errado e más ações. Prejudicamos a Palavra pela incoerência da vida. Assim, a Palavra perde sua força e transforma-se em palavrório, prédica, demagogia, lábia, som vazio, tagarelice, retórica”, afirma. Dom Orlando lembra também que no Evangelho de Lucas, Jesus perguntou ao seu interlocutor: “Como lês as Escrituras”? (Lc 10,26) e em outra ocasião Jesus diz claramente: “A Escritura não pode ser anulada” (Jo 10,35). Nas palavras do Concílio Vaticano II a Igreja precisa “ouvir piamente, viver santamente, anunciar fielmente, porque ela ilumina a mente, fortalece a vontade e ordena os afetos, cura as feridas”. De acordo com o prelado, a nova responsabilidade para com a Palavra que ele se refere quer dizer: ter bons microfones e saber usá-los, resolver os problemas de acústica, zelar pela comunicação na liturgia, ter cuidados com a voz, preparar os leitores, dar orientações sobre os cantos e a música, preparar a homilia, orientar os fotógrafos, ter ministro do som, zelar pelas celebrações da Palavra. “O destino da Palavra é o ouvido, o coração e os lábios. Ela não pode cair no chão. Uma Palavra vivida e bem proclamada transpassa os corações. Ardia o coração dos discípulos quando Jesus pregava a Palavra. Precisamos alcançar a meta de sermos uma ‘religião da Palavra' e não do livro. Nossa meta é a animação bíblica de toda a vida da Igreja”. Ele ainda faz questão de salientar que a responsabilidade para com a Palavra significa: ouvir, silenciar, interiorizar, escutar a Palavra. Dom Orlando afirma que a Igreja tem que ser “mestra da escuta” para ser discípula, profética e missionária. Sem a Palavra cai a profecia e enfraquece a missão. Por fim, o arcebispo nos convida a dar à Palavra de Deus o primado que ela merece, pois ela vem antes do catecismo, antes do terço, antes das devoções. E conforme dom Orlando, o grande erro e engano é supor que o povo conhece a Palavra, pelo contrário, grande é o analfabetismo bíblico. “Por isso o Papa nos convida a uma redescoberta, a uma maior familiaridade e maior amor para com a Palavra de Deus, pois, ela é o coração de toda a atividade eclesial. Longe de nós o medo de colocar as Escrituras na mão do povo, oferecendo estudos e incentivando a vivência da Palavra, regra suprema da fé”, conclui. Fonte: Rádio Vaticano

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