Sem liberdade religiosa, não poderá haver verdadeira paz: esta é a mensagem que o Papa lançará ao mundo em 1º de janeiro de 2011, Dia Mundial da Paz, segundo divulgou hoje a Santa Sé.
“Liberdade religiosa, caminho para a paz” é o tema escolhido pelo Pontífice para esse dia, que é comemorado desde 1968 e no qual o Papa reflete sobre a situação mundial e a superação dos conflitos.
Bento XVI escolheu este tema precisamente enquanto “no mundo registam-se várias formas de limitação ou negação da liberdade religiosa, de discriminação e marginalização baseadas na religião, até a perseguição e a violência contra as minorias”, informa a Santa Sé.
Em sua mensagem, o Papa insistirá na importância de “discernir” sobre o fenômeno religioso e suas manifestações, “excluindo a ‘religiosidade’ do fundamentalismo, da manipulação e da instrumentalização da verdade do ser humano”.
“Tudo o que se opõe à dignidade do ser humano se opõe à busca da verdade e não pode ser considerado como liberdade religiosa”, sublinha o comunicado vaticano.
A liberdade religiosa, “estando arraigada na própria dignidade humana e orientada à busca da ‘verdade imutável’, apresenta-se como a ‘liberdade das liberdades’” e é “autenticamente tal quando é coerente com a busca da verdade e com a verdade do ser humano”.
O comunicado recolhe, a respeito disso, tanto a doutrina do Concílio Vaticano II, na declaração Dignitatis Humanae, como o abundante magistério de Bento XVI sobre liberdade religiosa, tanto na encíclica Caritas in veritate como em outras intervenções.
Recolhe-se especialmente o conteúdo do seu discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas, de 18 de abril de 2008, durante sua viagem apostólica aos Estados Unidos.
Nele, o Papa insistiu na devida inclusão do direito à liberdade religiosa dentro dos direitos humanos, “como expressão de uma dimensão que é ao mesmo tempo individual e comunitária, uma visão que manifesta a unidade da pessoa, ainda distinguindo-se claramente entre a dimensão de cidadão e a de crente”.
Em sua intervenção, Bento XVI esclareceu o conceito de laicidade positiva, um termo destacado durante seu pontificado e que marcou muitos dos seus discursos.
“É inconcebível que os fiéis tenham de suprimir uma parte de si mesmos – sua fé – para ser cidadãos ativos. Nunca deveria ser necessário renegar de Deus para poder usufruir os próprios direitos”, afirmou o Papa na ONU.
“Os direitos relacionados com a religião necessitam como nunca de serem protegidos se forem considerados em conflito com a ideologia secular prevalecente ou com posições de uma maioria religiosa de natureza exclusiva.”
De fato, é previsível que a mensagem papal do próximo dia 1º de janeiro trate não somente dos países onde as minorias sofrem assédio, mas também, segundo a nota vaticana, “onde as comunidades de crentes não são uma minoria e sofrem também formas mais sofisticadas de discriminação e marginalização, no âmbito cultural e da participação na vida pública civil e política”.
“O ser humano não pode ser fragmentado, dividido por aquilo em que crê, porque aquilo em que crê tem um impacto sobre sua vida e sobre sua pessoa”, reza a nota vaticana, recordando a importância dada pelo Papa ao conceito integral de pessoa.
“A recusa de reconhecer a contribuição à sociedade que está radicada na dimensão religiosa e na busca do Absoluto por sua própria natureza, expressão da comunhão entre pessoas privilegiaria indubitavelmente uma abordagem individualista e fragmentaria a unidade da pessoa”, acrescentou o Papa em seu discurso à ONU.
A próxima mensagem, portanto, inscreve-se dentro da ampla reflexão do Papa sobre a paz e a pessoa. De 2006 até hoje, os temas foram: a verdade (Na verdade, a paz, 2006), a dignidade da pessoa humana (A pessoa humana, coração da paz, 2007), a unidade da família humana (Família humana, comunidade de paz, 2008), o combate contra a pobreza (Combater a pobreza, construir a paz, 2009) e, finalmente, a proteção da criação (Se queres cultivar a paz, preserva a criação, 2010).
“Um percorrido que tem suas raízes na vocação do ser humano à verdade (capax Dei) e que, tendo como estrela polar a dignidade humana, alcança a liberdade de buscar a verdade”, afirma a nota.
Fonte: Zenit.
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