quinta-feira, 8 de julho de 2010

Duns Scoto, fiel cantor da Encarnação

O Papa Bento XVI quis oferecer hoje, dentro do ciclo de catequeses sobre grandes teólogos e pensadores da Idade Média, a figura do beato Duns Scoto, o defensor da Imaculada Conceição.
Escocês de nascimento, Scoto lecionou teologia em Oxford, Cambridge e Paris, até sua morte em Colônia, em 1308.
Um dos traços que o Papa quis sublinhar da sua vida foi sua lealdade ao Papa, ao afastar-se de Paris quando, "após o começo de um grave conflito entre o rei Felipe IV o Belo e o Papa Bonifácio VIII, Duns Scoto preferiu o exílio voluntário, ao invés de assinar um documento hostil ao Sumo Pontífice, como o rei havia imposto a todos os religiosos".
Este fato "nos convida a recordar quantas vezes, na história da Igreja, os crentes encontraram hostilidade e sofreram inclusive perseguições por causa de sua fidelidade e de sua devoção a Cristo, à Igreja e ao Papa", afirmou.
"Nós todos contemplamos com admiração esses cristãos, que nos ensinam a proteger como um bem precioso a fé em Cristo e a comunhão com o Sucessor de Pedro e, assim, com a Igreja universal", prosseguiu.
Ainda que seu culto tenha sido quase imediato à sua morte, foi em 1993 que o Papa João Paulo II o beatificou, chamando-o de "cantor do Verbo encarnado e defensor da Imaculada Conceição".
"Antes de tudo, meditou sobre o mistério da Encarnação e, ao contrário de muitos pensadores cristãos da época, sustentou que o Filho de Deus teria se feito homem ainda que a humanidade não tivesse pecado."
Este pensamento, "talvez um pouco surpreendente", reconhece o Papa, nasce "porque, para Duns Scoto, a Encarnação do Filho de Deus, projetada desde a eternidade por parte de Deus Pai em seu plano de amor, é cumprimento da criação e torna possível a toda criatura, em Cristo e por meio d'Ele, ser cumulada de graça e dar louvor e glória a Deus na eternidade".
Duns Scoto, "ainda consciente de que, na realidade, por causa do pecado original, Cristo nos redimiu com sua Paixão, Morte e Ressurreição, reafirma que a Encarnação é a maior e mais bela obra de toda a história da salvação e que esta não está condicionada por nenhum fato contingente, mas é a ideia original de Deus de unir finalmente todo o criado consigo mesmo na pessoa e na carne do Filho".
Esta visão teológica " abre-nos à contemplação, ao estupor e à gratidão: Cristo é o centro da história e do cosmos, é Aquele que dá sentido, dignidade e valor à nossa vida".
Imaculada Conceição
Duns Scoto refletiu não somente sobre "o papel de Cristo na história da salvação, mas também o de Maria", especialmente no que se refere à Imaculada Conceição.
Scoto argumentou, contra o parecer dos seus coetâneos, que "Maria está totalmente redimida por Cristo, mas já antes da sua concepção", o que se chamou de "Redenção preventiva".
Este argumento "foi depois adotado também pelo Papa Pio IX em 1854, quando definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria".
Também desenvolveu "um ponto no qual a modernidade é muito sensível. Trata-se do tema da liberdade e da sua relação com a vontade e com o intelecto".
No entanto, sublinhou "a liberdade como qualidade fundamental da vontade, iniciando uma postura de tendência voluntarista", a qual "corre o risco, de fato, de levar à ideia de um Deus que não estaria ligado tampouco à verdade nem ao bem".
"O desejo de salvar a absoluta transcendência e diversidade de Deus com uma afirmação tão radical e impenetrável da sua vontade não leva em consideração que o Deus que se revelou em Cristo é o Deus ‘logos', que agiu e age repleto de amor a nós."
O próprio Papa recordou que "a liberdade foi o grande sonho da humanidade, desde o início, mas particularmente na época moderna".
"Precisamente a história moderna, além da nossa experiência cotidiana, ensina-nos que a liberdade é autêntica e ajuda na construção de uma civilização verdadeiramente humana somente quando está reconciliada com a verdade", afirmou.

Fonte: Zenit.

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