sábado, 5 de janeiro de 2013

Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo

Multidões se extasiavam, há poucos dias, diante do espetáculo de luz e som que marcavam a passagem do ano. Ao brilho da luz que irrompia na explosão dos fogos, no jogo dos canhões de luz que, dançando, se perdiam no espaço até se extinguirem. Os corações vibravam numa alegria que depois se esvaia, perdida no cansaço e na escuridão que se seguia, agravada pela densidade da fumaça da queima dos fogos. Os magos seguiram a estrela. Para todos nós, com certeza nunca faltará uma luz em nosso caminho para nos guiar para Cristo. Os jovens que para cá virão no próximo mês de julho, vêm também em busca dessa luz que é Cristo. Faltam 200 dias para a JMJ Rio 2013. Os passos dados, as preparações feitas já despertam a curiosidade dos noticiários, e reflexões são elaboradas para, sob vários olhares, tentarem compreender a Igreja que vive a sua missão evangelizadora. Cristo se manifestou como luz para todos os homens! A salvação foi dirigida também aos “gentios”, que recebem a mesma possibilidade de encontrar, em Cristo, a salvação. Cristo é a luz verdadeira que deveria vir a este mundo; Ele ilumina as trevas da humanidade. A Luz. A humanidade busca a Luz, mas a sobra do pecado, qual nuvem escura e negra, tenta obstruir este anseio do mais profundo do nosso coração. E as luzes deste mundo são fugazes, perdem-se como os canhões de luz que rodopiam na escuridão e, depois, se apagam. Não preenchem o vazio do íntimo do nosso ser, como escreve Santo Agostinho: “Estáveis dentre de mim e eu te procurava fora. Inquieto está nosso coração enquanto não repousa em Vós”. A Luz verdadeira veio ao mundo, e mesmo aquele povo que tinha sido preparado pelos seus patriarcas e profetas para acolhê-la, não a receberam. Apenas os de coração aberto, que a buscavam na sinceridade de suas vidas, sentiam sua presença, conduzidos pela Estrela. E puseram-se a caminho. A fé dava-lhes força para prosseguir a jornada, apesar das distâncias, da aspereza do caminho. Como a Samaritana junto ao poço de Jacó, também a eles foi revelado que a salvação viria dos judeus. Bateram às portas de Jerusalém, que tinha ciência de que a Luz estava por vir, inclusive, de que surgiria da raiz de Jessé, na pequenina Belém. Mas, a ambição e a ânsia do poder ofuscavam-lhes a mente e maquinaram abafar aquela pequena chama que luzia numa manjedoura. E despediram os Magos. E eles partiram à luz da Estrela que pousou onde estava o Menino e sua Mãe, e O adoraram. A humanidade, hoje, numa cultura globalizada, está confusa e perdida, como profetizou Isaias: “Um povo que vivia nas trevas...” Precisa que se lhe aponte uma grande Luz, capaz de dar sentido ao desenvolvimento técnico que alcançou, mas incapaz de lhe dar a paz. O apóstolo Paulo, na sua carta aos Efésios, nos fala da misericórdia de Deus que se abre pela pregação apostólica, no anúncio da manifestação da salvação para todos os povos. Um povo que vivia nas trevas viu uma grande Luz. Escrevendo aos Romanos (cap.10), como que lamenta a falta de arautos a apontar essa Luz a todos os corações: “Como poderão invocar aquele em que não creram? E, como poderiam crer naquele que não ouviram? E como poderão ouvir sem pregador?” E conclui, com Isaias: “Quão maravilhosos os pés dos que anunciam boas notícias.”. Ao olharmos, como Jesus, a Jerusalém, a cidade de hoje, o mundo contemporâneo, o nosso lamento é desesperador ante a cultura da degradação moral e da morte. Debatemo-nos, inutilmente, à procura das causas imediatas e concluímos por soluções contaminadas pela mesma cultura, como guerras, opressões, prisões e mortes, incapazes de nos dar a Paz.Como Herodes e sua turma, não nos abrimos ao brilho da Estrela de Belém. Não há salvação senãoem Jesus. Aide mim, se não evangelizar, exclama a Igreja com o apóstolo. O “Ano da Fé”, em seguimento ao Concílio Vaticano II, nos concita a uma nova evangelização. A não fecharmos em nós mesmos o dom que recebemos. Não que a mensagem de Cristo tenha envelhecido. Sua luz é perene e eterna. A nossa pregação é que tem de se tornar atual, capaz de iluminar, pelo Evangelho, as mentes e corações, a evolução técnica e social da humanidade, incentivando-a e reconhecendo seus valores, mas indicando-lhes que os ponteiros deste desenvolvimento têm de apontar para o Infinito. Nós, cristãos, não podemos aceitar que o sal da terra se torne insípido e a luz fique escondida. A nova cidade dos homens somente encontrará a paz se brilhar sobre ela a Luz. Então veremos a realização da visão profética de Isaias: ”A luz nasceu para os que habitavam a região da sombra da morte. Multiplicaste o povo e fizeste nascer a alegria”. † Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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