“São inaceitáveis o cerceamento da religião ou a sua instrumentalização pelo Estado, o que depõe contra a laicidade verdadeira”, afirma o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer.
“A Igreja aceita e defende que o Estado seja ‘laico’, não como instância repressora da religião ou das convicções religiosas da sociedade, mas como garante da liberdade religiosa, não impondo, nem impedindo a prática religiosa aos cidadãos.”
Ao comentar – em artigo na edição desta semana do jornal O São Paulo – a mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz de 2011, o arcebispo afirma ainda que a pretensão de excluir os sinais e símbolos religiosos dos espaços públicos “é intolerância e desprezo pela contribuição positiva da religião para a cultura e o convívio social”.
“Lamentável seria se os crentes em Deus tivessem que deixar de lado sua fé, ou renegar a Deus, para serem reconhecidos como cidadãos de pleno direito”, escreve.
Segundo Dom Odilo, o Papa na sua mensagem, “ensina que a liberdade religiosa consiste na possibilidade de expressar, sem restrições ou impedimentos, a própria forma de crer, ou de não crer e, de acordo com as próprias convicções, de interagir socialmente”.
“Evidentemente, respeitados os direitos alheios e a legítima ordem pública. Significa isso que as pessoas de religião devem ter o direito de se organizar em função da afirmação e difusão de suas convicções e de contribuir para o convívio social e o bem comum com suas práticas.”
Como recorda o arcebispo, a liberdade religiosa “é um direito humano fundamental e uma conquista da civilização política e jurídica, fazendo parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948)”.
“O diálogo sadio das organizações religiosas com as instituições civis é fundamental para desenvolver um clima de confiança e a colaboração positiva para o desenvolvimento integral e harmonioso da pessoa e da sociedade. A busca da verdade e a colaboração para o bem comum devem marcar esse diálogo.”
“E as religiões têm a tarefa de ajudar a sociedade a manter a referência aos valores fundamentais e mais elevados do convívio social, como a dignidade da pessoa e seus direitos inalienáveis, os valores morais, a esperança e o amor, bem como a promoção da justiça, da solidariedade social e da paz”, afirma o arcebispo.
Segundo Dom Odilo, “aprende-se desde cedo, ou não se aprende, o respeito pela religião dos outros e pela liberdade religiosa, através da educação na família, na escola e no convívio social”.
“O exemplo dos adultos é fundamental na formação das novas gerações para a tolerância religiosa positiva, o convívio sereno e a colaboração solidária com pessoas de fé diferente.”
O cardeal afirma que “o respeito e o apreço pelo outro é condição para que se possa pretender respeito a si mesmo. Isso, por certo, não avaliza o indiferentismo, nem o sincretismo religioso; conhecer bem a própria fé e religião é condição para um diálogo verdadeiro e também a valorização do que é dos outros”.
Para o arcebispo, os meios de comunicação e os formadores de opinião “têm nisso um papel educativo determinante, podendo desencadear intolerância, preconceitos e uma cultura de discriminação religiosa, ou ajudar a criar um clima de respeito e tolerância”. A paz depende da valorização da liberdade religiosa”, afirma.
Fonte: Zenit.
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