sábado, 8 de janeiro de 2011

FESTA DO BATISMO DO SENHOR

Mt 3, 13-17
“Este é o meu Filho amado, que muito me agrada”

Hoje, o Domingo depois da Epifania, celebra-se tradicionalmente a Festa do Batismo do Senhor. O batismo de Jesus por João Batista no Rio Jordão é tão importante teologicamente que é tratado por cada um dos quatro evangelistas, cada qual da sua maneira, dependendo da situação da sua comunidade e dos seus interesses teológicos. A história logo se tornou um problema para os primeiros cristãos, pois levantava a questão de como Jesus, sem pecado, podia ter sido batizado e, um ritual de purificação dos pecados. Por isso, Mateus deixa fora a referência de Mc 1, 4 ao perdão dos pecados, a adiciona vv. 14 e 15. Para João, o batismo era tão difícil de ser harmonizado com a sua cristologia, que omite qualquer referência ao atual evento, e no seu lugar, faz com que João Batista indica Jesus como o “Cordeiro de Deus” (Jo 1, 29-34).

O texto já nos apresenta o programa da vida e missão de Jesus - a justiça do Reino. Em Mateus, a palavra “justiça” designa a fidelidade nova e radical à vontade de Deus. O significado disso será mostrado ao longo do Evangelho. Também Jesus, unindo-se aos pecadores, já está desde o começo rejeitando a visão de um Messianismo triunfante.

Os sinóticos (Mt, Mc e Lc) ressaltam o fato que “o céu se abriu”. Marcos é mais contundente ainda quando enfatiza que “os céus se rasgaram”. É uma maneira simbólica de expressar que em Jesus acontece a união definitiva entre o céu e a terra (At 7, 56; 10, 11-16; Jo 1, 51) e uma revelação celeste (Is 63, 19; Ez 1, 1; Ap 4, 1; 19, 11). A revelação maior é a confirmação da identidade de Jesus como o Servo de Javé. Mateus, escrevendo dentro de um ambiente de polêmica com o judaísmo formativo do fim do primeiro século, muda a tradição original (Mc 1, 9-11; Lc 3, 21-22), onde as palavras do Pai se dirigiam a Jesus, para dirigi-las aos ouvintes :“Este é o meu Filho muito amado, aquele que me aprouve escolher” (v. 17). Estas palavras associam a terminologia de Sl 2, 7, que repete a profecia de Natã em 2Sm 7, 14 (tu és meu filho...) a Is 42, 1 (meu bem amado que me aprouve escolher). A passagem de Isaías apresenta o Servo que não levanta a voz (42, 2), nem vacila, nem é quebrantado (42, 4). (A tradução grega da Septuaginta usou uma palavra que podia expressar tanto o termo hebraico para “filho” como para “servo”). Fazendo fusão desses textos do Antigo Testamento, Mateus une em Jesus duas figuras proféticas - a do Filho da descendência real davídica e do Servo de Javé. Assim, prevê que o messianismo de Jesus implica a vocação do Servo Sofredor, e rejeita pretensões messiânicas triunfalistas. Podemos dizer que o Batismo é para Jesus o assumir público da sua missão como Servo de Javé. A voz do céu confirme a sua opção de vida. O Pai confirma que Ele reconhece Jesus, desde o início do seu ministério público, como seu Filho (Sl 2, 7), seu bem-amado, objeto da sua predileção.

Um dos sentidos mais importantes do nosso batismo também é o nosso compromisso público com a vontade do Pai. Todos nós podemos sentir a veracidade da mesma frase usada pelo Pai diante de Jesus - cada um de nós também é verdadeiramente filho(a) do Pai celeste (1Jo 3, 1), a quem aprouve escolher-nos. Nada pode fazer com que o Pai abandone esse amor incondicional e gratuito - nem a nossa fraqueza, nem o pecado (Rm 8, 39). Importante é reconhecer que Deus nos amou primeiro, incondicionalmente, e cabe a nós responder a este amor gratuito por uma vida digna de filhos e filhas do Pai, no seguimento de Jesus (1Jo 4, 10-11). Jesus não achou privilégio ser o amado do Pai, mas assumiu as consequências - uma vida de fidelidade, que o levava até a Cruz - e a Ressurreição! (Fl 2, 6-11). Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o compromisso do nosso batismo, comprometendo-nos com o seguimento do Mestre, no esforço de criação do mundo que Deus quer, um mundo onde reinam o amor, a justiça e a verdadeira paz. O nosso batismo confirma que somos parceiros de Deus no ato permanente de criação, fazendo crescer o Reino d’Ele, que “já está no meio de nós” (Mc 1, 14).

Fonte: Tomas Hughes, SVD.

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