Entrevista com mons. Rafael Hernández Urigüen
Ser secretário é algo sério, ético e benéfico para a empresa, explica mons. Rafael Hernández Urigüen em seu novo livro sobre crescimento pessoal e assistência administrativa.
Este sacerdote é professor e capelão na escola ISSA (School of Management Assistants), situada no centro de San Sebastián, pertencente à Universidade de Navarra. Passaram por ela 3.000 graduados, que cursaram programas no campo dos negócios e da assistência administrativa.
As páginas do livro desvelam como a ética insere-se na vida do secretário ou da secretária administrativa, compartilhando a confiança das cúpulas dirigentes. Em um momento de corrupção e crise, a obra destaca a realidade do secretariado administrativo, uma função que, com mérito, pode mudar a empresa.
O título do livro é “Assistentes administrativos: crescimento pessoal/excelência corporativa (Editorial EIUNSA, Madrid, 2009).
–Os secretários são meros executores de tarefas?–Hernández Urigüen: No livro são evidenciadas, com mais de cem testemunhos, as amplas atribuições e faculdades que há anos possuem os profissionais do management assistance e em geral as secretárias e secretários de direção, já que na atualidade não são apenas meros “executores” de ordens e indicações, e sim executivos colaboradores, os quais fazem parte de um grupo seleto da equipe diretiva.
Por serem pessoas de confiança, tanto pessoal como corporativa, gozam cada vez mais de uma maior autonomia, além de fomentarem a proatividade. É essencial, portanto, que não atuem segundo os caprichos arbitrários, mas dispondo de uma boa bagagem de virtudes e valores éticos.–Em momentos de crise, por que deu tanta importância ao secretário administrativo?
–Hernández Urigüen: Diante a atual crise econômica mundial, ocasionada devido às más decisões financeiras e econômicas, volta a se manifestar a prioridade de obter uma formação e reciclagem ética em todas as áreas e de maneira particular em todos os âmbitos empresariais.
Será preciso trabalhar de forma justa e solidária, pensando no bem da empresa e no bem comum e não visando ao benefício pessoal ou para amigos mais próximos.
Quem possui firmeza ética trabalha sempre ‘pensando no coletivo’ (no bem comum, na dignidade da pessoa humana, nos objetivos justos da empresa e organização) e ‘atuando no âmbito local’: trabalhando bem, guardando o segredo profissional, favorecendo a boa comunicação, com veracidade, lealdade, companheirismo.–Que constitui a "excelência pessoal" que você sugere?–Hernández Urigüen: A indicação ética específica para secretários se resumiria assim: “cresça em valor e virtude e assim alcançarás a excelência humana”.
Um grupo de mulheres e homens que trabalhem “virtuosamente” gera uma concentração de sinergias que terminam configurando as empresas e organizações até convertê-las em excelentes.
A imagem corporativa da empresa é a soma da qualidade pessoal de seus trabalhadores. Todavia recordo de um lema, da empresa de meu pai, que marcou minha infância: “Uma empresa vale o que valem seus homens”.
Nas páginas do meu livro se exemplificam os traços desta “excelência pessoal” sobre três pilares evidenciados por Arantza Larraz há três anos, uma das mais lembradas professoras de ISSA: “competência profissional, nível cultural e categoria humana”; estes três pilares da excelência sustentam as virtudes e os valores.
O livro sustenta que ainda que ninguém confunda o bem útil com o bem moral, é evidente que não se possa fazer o bem sem trabalhar bem. O bem merece ser bem realizado.
Na filosofia clássica, não só se pedia para fazer o bem, mas realizá-lo com beleza. Chegava a considerar a ética como a arte de viver. O trabalho é uma das dimensões constitutivas do homem, e semelhante à inteligência, vontade, o ser livre, a capacidade de estabelecer comunhão com os demais.–"Crescer como pessoa" sendo secretário em que é diferente de fazê-lo sendo chefe?
–Hernández Urigüen: Sendo assistente, secretários executivos, etc., a laboriosidade, a discrição, a lealdade e as demais virtudes e valores humanos se encontram no marco de quem é colaborador ou de quem colabora com mais proximidade dos diretores.
Portanto, a disciplina, a docilidade, a flexibilidade e outras qualidades humanas se concretizam em pessoas que “obedecem” e, ao mesmo tempo, sem servilismo, tomam muitas iniciativas dão criatividade às atividades, objetivos e trabalhos.
As virtudes e os valores humanos coincidem com os “chefes”, respondendo a sua pergunta. Mas o modo concreto como estes valores são realizados apresentam características próprias e diferentes das de quem dispõe da definitiva capacidade de decisão: um ajudante administrativo, uma secretária ou secretário executivo não possuem as competências de um Conselho de Administração. Ou dos diretores de uma empresa. –Você fala de "empresa intercultural". Que significa a ética empresarial em um entorno intercultural?–Hernández Urigüen: A mobilidade geográfica, a globalização e os distintos estilos de trabalhar com pessoas de diferentes civilizações definem o mundo empresarial no qual vivemos.
A dimensão ética, que é o motivo da elaboração deste livro, terá em conta o mundo dos valores pessoais, sociais e culturais, olhando-os como algo positivo, isto é, valorizando-os.
Uma tradição religiosa ou civilizatória que não respeite os direitos humanos, a lei natural, para expressar em termos mais precisos, não há que tentar impor seus contravalores como “riquezas” em prol da diversidade.
Um contravalor, ou um antivalor, por sua índole, carece absolutamente de voz ou direito a ser imposto no conjunto da multiculturalidade com pretensões de integração para uma almejada interculturalidade.
Integrar-se no conjunto de encontro e hamonia com práticas de eliminação do outro, ou diminuição de sua dignidade, não é verdadeira integração, mas parasitismo que explira sua situação de impunidade –trata-se de uma tradição que o Estado de direito respeita– para eliminar ou diminuir o outro, indefeso.
As teses defendidas pelo livro coincidem com muitas ideias que depois encontrei em um magnífico e recente documento do Papa: “Caritas in veritate”.
Acredito que esta encíclica de Bento XVI aponta ideias e linhas de força que podem servir para qualquer profissional de boa vontade, seja cristão ou não, a expor suas atitudes éticas no mundo empresarial e organizacional. As linhas de força que apoiam a justiça e o amor como fontes naturais de qualquer projeto, a perspectiva constante do bem comum e a inovação inspiradas em uma gratuidade solidária, sem dúvida terminarão por transformar o mundo empresarial.
A leitura deste documento me impulsionou a abrir um fórum gratuito de consulta e coaching ético para que possam intervir assistentes e secretários de todo o mundo, contribuindo com seus testemunhos e experiências: http://asistentes-secretarias-oscoaching.blogspot.com/.
(Miriam Díez i Bosch)
Fonte: Zenit.
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