Devido à extensão e ao grande número de católicos no Brasil, para a visita ad limina apostolorum –realizada pelo episcopado a cada cinco anos–, os bispos dividiram-se em 13 grupos.
ZENIT falou com Dom Alessandro Ruffinoni, bispo auxiliar de Porto Alegre, cujo trabalho pastoral focaliza-se especialmente nos imigrantes. O prelado interveio no congresso “Desafios atuais de uma Igreja a caminho”, que se realizou hoje na Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma.
–Quais são as expectativas desta visita ad limina?
–Dom Alessandro Ruffinoni: São muitas, porque viemos bispos dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A partir de amanhã, estaremos com várias congregações e dicastérios para discutir acerca da realidade que vivemos em nossas regiões. Também falaremos das dificuldades que encontramos e especialmente queremos escutar o que nos propõem. Queremos amar nosso trabalho de bispos e pastores. É minha primeira visita ad limina porque faz quatro anos que sou bispo. Sem dúvida, é para mim um momento emocionante, sobretudo pelo encontro com o Papa.
–Quais são os principais desafios evangelizadores da arquidiocese de Porto Alegre e desta região do Brasil?
–Dom Alessandro Ruffinoni: É uma arquidiocese de 3.500.000 de habitantes, é uma grande região, onde os principais desafios que temos são a formação do clero, ter mais sacerdotes, o aumento das seitas e sobretudo uma formação de nossos leigos para formar outros leigos, porque nós lhes confiamos muitas tarefas pastorais. Devem preparar-se e preparar os outros a resistir às denominações religiosas que prometem saúde, sucesso e que às vezes, quando alguém está desesperado porque não tem saúde, eles trabalham facilmente para que se liguem a estas seitas.
–E sua expansão é cada vez mais forte, por quê?
–Dom Alessandro Ruffinoni: Não quero criticar, mas há algo real: penso que isso ocorre porque as seitas se baseiam no milagre, na cura, no sucesso econômico, de modo que as pessoas desesperadas que necessitam de saúde ou trabalho para melhorar sua vida facilmente caem nos braços destas denominações. Nós, católicos, por não termos acolhido algumas pessoas, estas se sentiram rejeitadas e acolhidas em outras religiões. Mas isso como Igreja devemos fazer um exame de consciência e acolher as pessoas que estão presentes na diocese.
–Quanto à pastoral dos imigrantes, como se desenvolve tanto em Porto Alegre como no Brasil?
–Dom Alessandro Ruffinoni: A pastoral dos imigrantes está sempre presente em todas as dioceses. Temos a Semana do Imigrante todos os anos, em junho. Temos muitos estrangeiros. Em nossa região, temos muitos países limítrofes: Argentina, Chile, Paraguai, além de muitos países orientais. Mas a maioria vem de outros Estados do país para encontrar trabalho e uma situação melhor de vida, porque o Rio Grande do Sul é considerado um dos Estados de maior progresso econômico.
–Estão se aplicando nesta região as indicações da Conferência de Aparecida?
–Dom Alessandro Ruffinoni: É um documento que é necessário colocar em prática corretamente. Fala-se muito de conversão pastoral. É necessário seguir fazendo a pastoral como se fazia antigamente. Aparecida nos convida a uma conversão pessoal: sacerdotes, bispos, cristãos. Além de uma conversão pastoral: que se faz com as estruturas que temos, como usá-las melhor, como acolher melhor as pessoas, como ir ao encontro destas pessoas que têm sede de Deus. Este é um grande desafio de Aparecida e da missão continental. Será um compromisso da Igreja na América Latina evangelizar continuamente. Ir ao encontro dos irmãos que estão próximos e daqueles que se afastaram da fé.
–Quais são principais características da fé do povo de Porto Alegre? Que podem contribuir para a Igreja universal?
–Dom Alessandro Ruffinoni: O povo brasileiro é basicamente crente. É necessário purificar algumas coisas mas é um povo que necessita do espiritual, que tem sede de Deus e por isso é necessário evangelizá-lo bem. Se nós nos contentamos em preparar as pessoas mas não lhes damos nada, elas desaparecerão porque há outras pessoas que saem ao seu encontro. Diria que o povo do Rio Grande tem fé. É verdade que há realidades exigentes que começam a abandonar esta fé, que há indiferença, mas a maioria do povo tem sede de Deus.
(Carmen Elena Villa)
Fonte: Zenit.