“A cada cinco minutos, um cristão é assassinado por razão da sua fé. A cada ano, 105 mil cristãos no mundo são condenados ao martírio: um verdadeiro holocausto, do qual se fala muito pouco.” Estes são alguns dos dados fornecidos na conferência de Roma intitulada “Os bons serão martirizados. As perseguições aos cristãos no século 21”.
O evento foi realizado na Universidade Pontifícia Lateranense, por ocasião do 20º aniversário do nascimento, em Roma, de “Luci sull' Est”, uma associação de voluntariado leigo de inspiração católica que, depois da queda da União Soviética, começou a enviar livros, terços e outros materiais religiosos aos países ex-soviéticos.
Entre os participantes, destacam-se: o bispo de San Marino-Montefeltro, Dom Luigi Negri; o eurodeputado Magdi Cristiano Allam; o diretor de Asia News, Pe. Bernardo Cervellera; e o representante da OSCE para a luta contra a discriminação dos cristãos e diretor do Centro de Estudos das Novas religiões (CESNUR), Massimo Introvigne. O moderador foi o jornalista Julio Loredo.
Autossuficiência do homem
Ao tomar a palavra, Dom Negri afirmou que o martírio dos cristãos é uma parte importante no mistério da iniquidade, já que não nasce da maldade, mas de um ódio intelectual, ideológico, da impossibilidade de acolher a mensagem de Cristo e da “ideologia sobre a autossuficiência do homem”, “porque todas as ideologias convergem, muito além das suas diferenças, no fato de que o homem se converteu no deus de si mesmo”.
O bispo de San Marino-Montefeltro falou depois sobre o “carisma do martírio” como da “maior confirmação do Espírito de Deus”. “A modernidade – acrescentou – termina no ateísmo, e o ateísmo acaba na violência. A verdade ideológica não é inclusiva, mas se afirma na exclusão do que é diferente. Por isso, nos regimes totalitários, os diferentes eram eliminados.” Em definitiva, uma “lógica férrea, na qual não entram o satanismo e a corrupção”.
O prelado falou depois de uma ideologia que se apoia nos poderes fortes, definida por Bento XVI como tecnociência, e concluiu dizendo: “Os mártires existem e, com sua contribuição, eles nos convidam a ser cristãos autênticos”, já que “as testemunhas apaixonadas de Cristo são incansáveis comunicadoras da sua vida divina a todos os homens”.
Emergência humanitária
“A intolerância, a discriminação e a perseguição dos cristãos de hoje – disse Massimo Introvigne – é uma emergência humanitária que afeta todos nós; é um problema para a sociedade civil.”
“No livro 'World Christian Trends AD 30-AD 2200', o investigador David Barrett determina o número dos martírios cristãos no mundo em 70 milhões, 45 milhões dos quais aconteceram no século 20 – explicou Introvigne. O número é de 160 mil na primeira década deste século e se calcula que serão cerca de 105 mil na segunda década. Isso significa um mártir a cada cinco minutos. São assassinados não por motivos bélicos, mas religiosos.”
O interessante, acrescentou o diretor do CENSUR, é que “todos sentem simpatia pelas vítimas, mas também existe um assassino. Só que 'sobre isso, nós os escutaremos em outro momento', como diziam a São Paulo”. Entre os assassinos, cabe destacar o fundamentalismo islâmico, como no Paquistão, onde a apostasia implica na pena de morte e se considera como blasfêmia não acreditar no Islã.
Referindo-se a isso, Introvigne falou de outros 34 casos de condenação à morte similares ao de Asia Bibi, ainda que também haja regimes comunistas, como o da Coreia do Norte e da China, além de nacionalismos religiosos, como na Índia e na Indochina.
“Além do assassinato e da tortura – precisou Introvigne –, existe entre nós a intolerância, que é um fenômeno cultural: depois, está a discriminação, que é um fenômeno jurídico, para chegar à violência, que entre nós e mais raro”, como na França, onde “a polícia explica que se ataca uma igreja a cada dois dias”.
O caso da China
O Pe. Bernardo Cervellera, observador atento das questões religiosas nos países orientais, aprofundou na situação da China, da qual, atualmente, temos uma imagem “turística, com grandes arranha-céus, uma renda média elevada”, mas onde não se respeitam os direitos humanos e se leva adiante uma perseguição religiosa “como não se via desde os anos 50”.
O diretor de AsiaNews citou os muitos casos de bispos que foram detidos pela polícia porque se negaram a aderir à igreja patriótica. “Recentemente, antes das olimpíadas de 2007, 37 bispos clandestinos foram submetidos à prisão domiciliar”.
O Pe. Cervellera considerou importante, nesta situação, “o trabalho realizado por João Paulo II e por Bento XVI, graças ao qual muitos bispos do partido pediram perdão e voltaram à Igreja”.
“E o fato de que a Igreja esteja mais unida que nos anos 80 explica também o incremento da perseguição”, um aspecto que testemunha, no fundo, “um grande fracasso do partido comunista chinês, depois de 60 anos de perseguição”. Contudo, “muito além das perseguições – concluiu Cervellera –, há esperança. Neste país, atualmente, milhões de pessoas buscam a fé e cada ano 150 mil chineses pedem para ser batizados”.
Identidade
O eurodeputado e jornalista Magdi Cristiano Allam recordou que, nos países islâmicos, “de cada 10 perseguidos, 7 são cristãos e, de 1945 até hoje, 10 milhões de cristãos foram obrigados a deixar suas terras, junto a um milhão de judeus”.
O político egípcio de origem islâmica explicou que, no caso do Islã, a perseguição não é fruto da ideologia, mas de razões religiosas e, de fato, o judaísmo e o cristianismo são considerados heresias, enquanto o Islã é concebido como a única e verdadeira religião, chamada a converter todos.
Allam afirmou a necessidade de adquirir a certeza sobre a nossa identidade e sobre as raízes da nossa civilização: “Se nos tornarmos um terreno baldio, seremos terra de conquista”.
O ex-diretor do Corriere della Sera, que se converteu ao catolicismo e foi batizado em São Pedro em 2008 pelo próprio Papa Bento XVI, considerou que “o relativismo é uma ideologia, porque nega o uso da razão e proíbe avaliar os conteúdos religiosos, e assim compara as religiões, considerando-as iguais, prescindindo dos seus conteúdos”.
“A pessoa só é cristã se crê em Jesus Cristo – prosseguiu. Quando se coloca no mesmo nível Cristo e Maomé, acabamos diminuindo a certeza da nossa fé cristã, além de não nos declararmos cristãos e de legitimar o Islã – este é o único núcleo do problema. Ou recuperamos a certeza do que somos ou a nossa civilização acabará desaparecendo.”
Magdi Allam falou depois das incoerências: “Quando se ultraja outras religiões, todos se indignam, mas se o Papa é o ultrajado, isso é considerado liberdade de expressão”. Hoje, achamos que amamos o próximo odiando-nos entre nós, e na ideologia da falsa bondade, aceitamos que o próximo exija prescindir de nós mesmos”.
O eurodeputado concluiu recordando que é necessário “ter a certeza de quem somos, a certeza da verdade”, já que há “valores não-negociáveis, como a sacralidade da vida e a liberdade religiosa”. Também convidou a encontrar a força “de testemunhar a certeza em Cristo em uma terra cristã. Somente se formos fortes por dentro, teremos a autoridade para pedir liberdade para todos os cristãos do mundo”.
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário