Na Argentina, a Comissão de Legislação Penal discutiria hoje sete projetos a favor do aborto. No entanto, este debate foi adiado para o dia 1º de novembro.
Os líderes de algumas confissões cristãs quiseram e unir para pronunciar-se a favor da vida, com o documento intitulado “Compromisso pela vida”.
ZENIT entrevistou, a propósito do tema, Dom Carlos Humberto Malfa, bispo de Chascomús e presidente da Comissão de Ecumenismo, Relações com o Judaísmo, Islã e Religiões, da Conferência Episcopal Argentina.
Antes desta iniciativa, os líderes de diversos credos na Argentina tiveram outros diálogos ecumênicos?
Dom Malfa: Certamente. Na Argentina, desde o Concílio Vaticano II, aprofundou-se em um trabalho pela oração, o diálogo e o testemunho comum de todos os que cremos em Cristo. Na última década, a Igreja Católica na Argentina encontrou a possibilidade de relacionar-se com comunidades evangélicas livres, batistas e pentecostais, com alguns de cujos grupos se realizaram encontros de oração em torno da Palavra de Deus. A relação é muito fraterna e cálida com os bispos ortodoxos do Patriarcado Ecumênico, Antioquia, Moscou, os das antigas igrejas orientais, o bispo siro-ortodoxo de Antioquia e da Igreja Apostólica Armênia.
O senhor acha que isso representa um passo adiante no processo de diálogo e aproximação com relação a outros credos?
Dom Malfa: O documento “Compromisso pela vida”, que elaboramos, exigiu a docilidade de todos à ação do Espírito, encontrar-se, dialogar, escutar-se, coordenar esforços e, nesse processo, nós nos sentimos muito próximos, trabalhando como irmãos. Sim, fortaleceram-se os laços de comunhão. Recebemos significativas adesões posteriores e outras ainda chegarão. Como católicos, alegra-nos muito o caminho realizado com batistas e pentecostais, que também assinam o documento.
Como o senhor vê, em geral, a situação do diálogo inter-religioso na Argentina?
Dom Malfa: Estamos agradecidos e esperançosos com relação ao que se conseguiu na relação com o judaísmo e no diálogo inter-religioso, em particular com os muçulmanos. Esta relação de amizade e fraternidade se reproduz em muitos lugares da Argentina, país pluralista em sua composição, ainda que majoritariamente católico, pela riqueza da contribuição da imigração, de diversas religiões e procedências; então, o diálogo da vida na convivência cotidiana precedeu e abriu quase naturalmente o diálogo entre culturas e religiões.
Nossa comissão episcopal, por exemplo, inclui em seu título as “relações com o judaísmo, o islã e as religiões”, sinal da amplitude do nosso compromisso, que se refletirá no dia 11 de outubro, quando, no claustro do histórico Convento de São Francisco, nos reuniremos para comemorar, com espírito de “Peregrinos da Verdade, Peregrinos da Paz”, os 25 anos do profético e histórico Encontro de Assis, convocado pelo inesquecível Beato João Paulo II em 1986.
O senhor acha que, com outras igrejas cristãs, existem pontos em comum sobre os quais se pode continuar dialogando?
Dom Malfa: Antes de concluir a sua missão como presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o cardeal Kasper, que visitou a Argentina em três oportunidades, publicou o livro “Colher os frutos”, no qual aborda os resultados do esforço de quatro décadas do diálogo da Igreja Católica com a Comunhão Anglicana, luteranos, metodistas e reformados, com o compromisso de prosseguir o diálogo com essas e outras confissões, com o acento colocado no ecumenismo espiritual, alma de todo o movimento ecumênico: sem conversão do coração, sem oração, sem purificação da memória, não estaríamos semeando em terra boa.
E quais são estes pontos?
Dom Malfa: O primeiro e fundamental é anunciar Cristo, nosso Senhor e Salvador, em um mundo tentado pelo esquecimento de Deus, pela perda de valores e sentido da vida. A Palavra de Deus é lugar de encontro dos cristãos, como se manifestou no último sínodo e na posterior exortação apostólica, Verbum Domini; examinar-nos juntos, na nossa fidelidade à Palavra, abre ao diálogo da caridade e da verdade.
De que outras maneiras os líderes religiosos podem, na Argentina, continuar lutando contra as manifestações da “cultura da morte”?
Dom Malfa: Remito-me à declaração “Não uma vida, mas duas”, da Comissão Permanente do Episcopado Argentino, do último dia 18 de agosto. Lá se proclama que a vida é um presente que recebemos de Deus e que torna possível todos os outros bens humanos. Mais adiante, lemos: “Uma decisão legislativa que favorecesse a despenalização do aborto teria consequências jurídicas, culturais e éticas. As leis vão configurando a cultura dos povos e uma legislação que não protege a vida favorece uma cultura da morte. A lei, enquanto base de um ordenamento jurídico, tem um sentido pedagógico para a vida da sociedade”.
Depois, os bispos dizem: “Convidamos os nossos fiéis leigos e todos os cidadãos a refletirem e expressar-se com clareza a favor do direito à vida humana”. E no parágrafo conclusivo: “Longe estamos de desejar que este debate provoque mais divisões na sociedade argentina. Solicitamos, por isso, que as expressões vertidas sobre este tema se realizem com o máximo respeito, eliminando toda forma de violência e agressividade, já que estas atitudes não estão à altura do valor e da dignidade que promovemos”.
Para terminar, eu diria que, como discípulos de Cristo, católicos e cristãos de outras confissões têm uma boa notícia para transmitir, que provém do próprio Deus e que Ele semeou em todos os corações: “O Evangelho da Vida”.
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário