Em algumas regiões do Quênia se esgotaram os recursos da terra e as reservas de água, e a necessidade afeta tanto a população local como milhares de refugiados da Somália, o que suscita gestos de amor e solidariedade, mas também tensões.
“A situação é dramática” em um campo de refugiados somalis de Dadaab, que alberga mais de 400 mil pessoas, segundo informa a colaboradora do Catholic Relief Services (CRS), Suzanna Tkalec, à agência Fides.
"Em Dadaab, o CRS está trabalhando para consertar os banheiros em um campo de reassentamento onde, em teoria, são transferidos do campo principal cerca de 800 refugiados por dia – explica Tkalec. Isso não é suficiente, já que a Dadaab continuam chegando diariamente entre 800 e 1.300 novos refugiados.”
A responsável da Cáritas adverte que “as necessidades são enormes, já que inclusive as comunidades locais se encontram em sérias dificuldades”. “Se prestarmos atenção nos que são os mais vulneráveis, em primeiro lugar se encontram os refugiados recém-chegados da Somália, depois são as comunidades locais e os refugiados que estão muito tempo nos campos”, continua.
Tkalec ajuda o presidente da Cáritas Somália, o bispo de Djibuti e administrador apostólico de Mogadíscio, Dom Giorgio Berton, na gestão de emergências dos refugiados somalis de Dadaab.
Denuncia o problema que supõe o fato de que nenhuma organização trabalhe com as comunidades locais, que também perderam tudo.
“Se também se pensa que os recursos escassos da terra, principalmente a água, são compartilhados pelas comunidades locais e pelos refugiados da Somália, entenderemos que há tensões, porque agora não há nada para ninguém: as reservas de água se esgotaram.”
“Levando em consideração que a ajuda é distribuída somente aos refugiados, há manifestações diárias dos quenianos. Chegamos ao ponto de que as pessoas do lugar fingem ser refugiados. Isso não é nada novo, já que inclusive nesta região são quenianos de origem somali, têm a mesma língua, cultura e tradições dos refugiados”, acrescentou Susana Tkalec.
Segundo a responsável da Cáritas, “em Djibuti, a situação é ainda mais difícil, porque é um país deserto por completo. Ao longo do seu território, há problemas de acesso de água. As comunidades rurais, inclusive os nômades que perderam tudo, em particular o rebanho de animais, aproximam-se das cidades. Por conseguinte, os recursos se tornam escassos para todos”.
Violência
No fim de semana passado, pelo menos 26 pessoas morreram em intensos combates na região de Gedo, perto da fronteira com o Quênia, entre as forças do governo do presidente Ahmed e grupos armados da insurreição dirigida pelas milícias radicais islâmicas de al Shabaab.
Os combates se concentraram na região de el-Walk, onde centenas de famílias buscaram refúgio na floresta e, de lá, atravessaram a fronteira com o Quênia, dirigindo-se à cidade de Mandera.
Ao mesmo tempo, muito além da fronteira, a polícia queniana levou a cabo a perseguição de um homem depois da agressão a um casal de turistas britânicos em um resort de luxo em Kiwayo, a cerca de 50km ao sul da fronteira com a Somália.
A agressão acabou com o assassinato do homem e o sequestro da mulher. A polícia suspeita de bandidos somalis que teriam cruzado a fronteira.
Enquanto isso, no deserto do Sinai, cerca de 600 imigrantes originários do Nordeste Africano se encontram sequestrados por grupos armados que se movimentam livremente nessa região de risco, pela crise entre o Egito e Israel, denunciou a Rádio Vaticano na segunda-feira.
Solidariedade
Os bispos do Quênia criaram um fundo de emergência (Catholic Charity Emergency Fund) para as populações afetadas pela seca, que causou estragos em vários países da África Oriental.
Também foram organizadas coletas de alimentos em paróquias, escritórios diocesanos e outras entidades da Igreja.
Segundo o episcopado do Quênia, as pessoas mais vulneráveis são os pastores do norte, nordeste, noroeste e sul, e as famílias mais pobres que vivem da agricultura de subsistência nas planícies das regiões costeiras e do sudeste.
A seca, causada pela escassez de chuvas em 2010 e neste ano, causou, recordam os bispos, “a escassez de alimentos, um forte aumento dos preços dos alimentos, a falta de água, a migração e os conflitos, a desnutrição, o abandono escolar e a perda do gado”.
Cúpula de emergência
Neste contexto, líderes políticos da África Oriental realizaram uma reunião de emergência em Nairóbi para debater as medidas a serem tomadas contra a crise alimentar e a seca que afeta a região, divulgada pelo L’fOsservatore Romano nesta quarta-feira.
Os participantes destacaram a necessidade não somente de ajuda de emergência, mas de infraestruturas e políticas estruturais. Também lançaram um apelo a organismos internacionais, Estados e empresas, para que financiem a construção de infraestruturas, “indispensáveis para a criação de um mercado regional de produtos alimentares”.
Na reunião, esteve presente o presidente do Quênia, Mwai Kibai; da Tanzânia, Jakaya Kikwete; da Somália, Sharif Ahmed; do Sudão do Sul, Salva Kiir Mayardit, bem como o primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, e os ministros de Exteriores de Burundi, Djibuti, Ruanda e Sudão.
O presidente do Quênia, promotor da reunião, comentou, na intervenção inicial dos trabalhos, que “a situação se tornou extremamente difícil também pelo fluxo de refugiados da Somália” e que “é preciso tomar medidas a longo prazo, o mais breve possível, para prevenir crises desse tipo”.
Sobretudo devido à guerra civil que se prolonga, com diversas fases e modalidades, há 20 anos, a população somali é a que está sofrendo as piores consequências da fome, que afeta mais de 13 milhões de pessoas em diversas regiões do Nordeste Africano.
Fonte: Zenit.
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