No mundo ocidental, especialmente no anglo-saxônico, vemos há anos tentativas de eliminar da vida pública, em nome do “politicamente correto”, as referências ao cristianismo e à fé cristã, por considerá-los ofensivos aos não cristãos.
Basta pensar, por exemplo, na batalha legal travada nos Estados Unidos em torno ao monumento aos Dez Mandamentos, colocado em 2010 no átrio do Alabama State Judicial Building pelo então presidente do Tribunal Supremo do estado, Roy Moore. Ou a moda nos países anglo-saxônicos de usar a expressão “holiday season” ou “festive season” (época de férias ou de festas) para se referir ao período natalino.
Na Itália repercutiu o caso da cidadã italiana de origem finlandesa Soile Tuulikki Lautsi, que processou o Estado pedindo a eliminação do crucifixo nas salas de aula da escola freqüentada por seus filhos, em Pádua. Ela perdeu a causa.
Agora é a Austrália da primeira-ministra trabalhista Julia Gillard que quer escrever mais um capítulo da crescente alergia aos cristãos. Segundo o Daily Telegraph de Sydney (2 de setembro), o organismo responsável pelos programas escolares decidiu eliminar dos livros-texto os tradicionais termos “BC” (Before Christ”, ou “Antes de Cristo”) e “AD” (do latim Anno Domini” ou “Do ano do Senhor”, ou seja, “Depois de Cristo”), substituindo-os por termos neutros.
Segundo o plano, que deveria entrar em vigor já no próximo ano escolar, mas foi adiado por causa dos protestos, serão usadas só as siglas “BCE” (“Before Common Era” ou “Antes da era comum”) e “CE” (“Common Era” ou “Era Comum”). Os dois termos, que não modificam o sistema de datação baseado no nascimento de Jesus Cristo como ponto de partida, mas que lhe tiram a referência explícita, não são novos. Remontam ao século VI, quando o monge Dionísio, o Exíguo, introduziu “a era cristã” ou “vulgar”.
Para complementar a mudança de época será usada a expressão “BP” (“Before Present”, ou seja, “Antes do tempo presente”), uma escala cronológica usada nas disciplinas arqueológicas (a datação através do carbono 14) e científicas (como a geologia) e que por convenção tem como ponto fixo o “presente” do ano 1950 d.C.
Este movimento suscitou reações negativas, começando pelo arcebispo anglicano de Sydney, Peter Jensen, que falou no Daily Telegraph de “uma tentativa intelectualmente absurda de eliminar Jesus da história humana”.
“É absurdo porque a vinda de Cristo permanece no ponto central de datação e porque a frase 'era comum' não tem sentido algum e é enganosa”.
Também foi contundente a rejeição de outro conhecido expoente protestante, o reverendo Frederick Nile, que desde 1981 ocupa quase ininterruptamente um assento na Asambleia Legislativa do estado de Nova Gales do Sul. O reverendo, que também é presidente do partido conservador Christian Democratic Party (CDP), definiu a proposta do organismo como uma “vergonha absoluta” e um “insulto final”.
O ministro de Educação, Christopher Pyne, também rejeitou a iniciativa, recordando que “a Austrália é o que é hoje” graças “aos fundamentos da nossa nação na herança judaico-cristã”. Segundo a opinião do político, que é deputado pelo Partido Liberal (LP) no Parlamento Federal de Camberra, “prostrar-se diante do politicamente correto” equivale a “negar o que somos como povo”.
Igualmente firmes são as palavras de seu colega de partido, o deputado federal Alexander Hawke. “É a enésima tentativa de reescrever a nossa história segundo as diretrizes do politicamente correto” (The Hills Shire Times, 6 de setembro).
Mike Thomas, presidente do Hills Shire Council, em Nova Gales do Sul, afirma que “temos burocratas demais com trabalho de menos”. “Não consigo acreditar que o dinheiro dos contribuintes seja esbanjado desta maneira”, completa.
Por sua vez, o ministro da educação de Nova Gales do Sul, Adrian Piccoli, declara não ver a necessidade da reforma. “Não é meu papel como ministro microgerir o plano de estudos, mas sou da opinião comum de que o cristianismo faz parte da nossa cultura e não vejo necessidade de mudar as datas” (The Daily Advertiser, 4 de setembro).
O projeto para eliminar os termos “BC” e “AD” surge num momento em que as escolas católicas são muito requisitadas na Austrália, inclusive por famílias não católicas. Pesquisa recente mostra que 20.000 dos 48.783 estudantes nas escolas católicas daquele estado do sul da Austrália não são católicos.
De acordo com o site Adelaide Now (30 de agosto), alguns dos pais em questão declararam que se sentem atraídos pelas escolas confessionais porque elas são mais acessíveis economicamente e por incentivarem um senso de comunhão que falta nos institutos do sistema público. O único problema para os pais não católicos é que, às vezes, há mais ensino religioso do que eles gostariam...
Como declarou o responsável por Catholic Education South Australia (CESA), Paul Sharkey, a afluência dos não católicos coloca as escolas católicas perante um desafio. “Por um lado, se você se concentra na fé católica e tenta impor aos estudantes as expressões tradicionais – crença, rituais ou ensinamentos –, simplesmente eles rejeitarão a imposição”, explicou. “Por outro lado, se se tenta traduzir as convicções católicas e as práticas em termos facilmente compreensíveis para os estudantes, corre-se o risco real de desvirtuar a fé católica”.
“Nosso desafio é implicar os estudantes em um diálogo verdadeiro entre a fé católica e o que lhes importa de suas vidas”, concluiu Sharkey.
No entanto, a seguinte pergunta permanece: Como se pode realizar este diálogo se o nome de Cristo é um tabu?
Fonte: Zenit.
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