Otto Neubauer, diretor da Academia para a Evangelização, da Comunidade Emanuel em Viena, falou no último sábado, na presença do Papa Bento XVI – dentro do encontro do Ratzinger Schülerkreis – sobre as dificuldades no processo de aprendizagem que a Comunidade Emanuel enfrentou em seu compromisso pela nova evangelização.
Precisamente o tema da nova evangelização, que foi o centro da reunião, guiará as reflexões da 13ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, em outubro do ano que vem. Também será objeto do encontro do Papa, nas próximas semanas, com os representantes da Igreja que trabalham no âmbito da nova evangelização no Ocidente.
Em sua intervenção, Neubauer descreveu o rápido progresso da secularização que se dá atualmente na Europa como uma oportunidade para difundir livremente o Evangelho e compreender novamente a kenosis (inclinação) do Senhor diante dos pobres e abandonados.
O diretor da Academia para a Evangelização de Viena explicou que a pobreza poderia se tornar o degrau necessário entre os não-crentes chamados “leigos” e os cristãos. Por um lado, de fato, a negação de Deus pode evidenciar a fome imensa que se tem d'Ele. Porque “a verdadeira e maior pobreza da Europa é a dramática impossibilidade de ser aceitos e amados, a falta da experiência da bondade de Deus”.
Por outro lado, os cristãos, em particular, e a Igreja são afetados pela tendência a ter um olhar condescendente e de “condenação do mundo”, da qual deriva uma falsa confiança em si mesmos e a falta de compreensão da própria pobreza diante de Deus. Este olhar é o obstáculo que está na base da obra de pregação da Igreja e revela um tipo diferente de pobreza, isto é, a falta de compreensão da dependência da misericórdia divina. Por isso, é indispensável uma profunda conversão e autoevangelização dos próprios cristãos, que devem ser capazes de oferecer um testemunho humilde e apaixonado de Cristo como Salvador.
Neubauer descreveu, depois, o processo de aprendizagem da Comunidade Emanuel, em sua tentativa de levar adiante as missões paroquiais de formas novas nas áreas de língua alemã. Em uma primeira fase, a comunidade teve de aprender que “a hospitalidade do Senhor transforma tudo”. É preciso ir à paróquia para preparar o caminho para a missão. Os membros da comunidade que deixaram seu ambiente para aventurar-se “pelas ruas, nas praças, nas casas, nas cafeterias”, puderam experimentar – como um choque saudável – sua pobreza e sua dependência do Espírito de Deus. Ao mesmo tempo, puderam constatar como seu “balbuciente” testemunho era acolhido rapidamente pelas pessoas.
Neubauer resumiu o “primeiro passo da aprendizagem” afirmando que “a evangelização precisa sobretudo de um contato autêntico e, através desse contato, da experiência e do testemunho do 'sim' incondicional de Deus aos homens. E isso sim é Cristo!”.
O segundo passo da aprendizagem para uma comunidade missionária é o de “adorar Cristo nas pessoas que encontramos na missão”. O convite à adoração eucarística – parte integrante da Comunidade Emanuel – levou a novas formas de culto, dirigidas de maneira particular aos jovens.
Os evangelizadores deveriam aprender “a interceder pelas pessoas na adoração e no louvor diante do Senhor, de maneira que possam habitar cada vez mais em nosso coração”. Dessa maneira, através do “ser habitados”, aprenderiam – disse, citando o discurso de Bento XVI aos membros da Cúria Romana, em 21 de dezembro de 2009 – como, dessa missão adorante e dessa compaixão vivida, “os homens podem, de alguma forma, agarrar-se a Deus sem conhecê-lo”.
Como terceira fase, Neubauer falou da experiência segundo a qual somente uma comunidade que vive de forma fraterna e cultiva amizades humanas e espirituais é capaz de levar adiante um trabalho missionário. Os grandes acontecimentos, como a Jornada Mundial da Juventude, só podem dar fruto quando vividos “em pequenos grupos de amigos”. Porque “todos nós precisamos desse alimento simples de amor, isto é, da fraternidade concreta, da amizade entre nós e com o Senhor”.
O diretor da Academia para a Evangelização deplorou o fato de que, em algumas dioceses, ter querido criar reduçõesem estruturas muito rígidas fez que muitos jovens missionários fossem deixados para trás, enquanto os movimentos saíram involucrados em uma “onda de clericalismo” na nova evangelização. Na Igreja, leigos e clero devem colaborar em um clima de estima recíproca e fraternidade humilde. Neubauer aludiu à decisão da arquidiocese de Viena de instituir “escolas de discipulado”, de vários tipos, que possam ser gestionadas também por leigos, desenvolvendo, assim, novas forças missionárias.
O quarto e último passo, segundo Neubauer, é aprender que “as humilhações e feridas devem ser a matéria da nova evangelização”. A Igreja deve admitir as próprias culpas e os próprios fracassos com humilde, sem tentar defender-se de maneira precipitada. Ao mesmo tempo, a Igreja na Europa deve aceitar o fato humilhante de que ela mesma está empequenecendo e está “envelhecendo” cada vez mais.
Deus, prosseguiu, “escolheu os chamados pagãos para fazer surgir novamente sua palavra – afirmou. Por isso, rezo ao Senhor para que possamos acolher as humilhações da nossa época como portas de entrada da presença divina. Tenho quase a impressão de que esta sociedade pode conhecer a luz da sua bondade somente a partir de um grupo pequeno, humilhado e miserável”.
Fonte: Zenit.
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