A Igreja na Albânia sofreu uma perseguição massiva e violenta sob o ditador comunista Enver Hoxa. Mas o comunismo, diferente do laicismo, não foi capaz de arrancar Deus do coração do povo, afirma um assessor do Vaticano que começou seu ministério sacerdotal na Albânia.
Dom Segundo Tejado Muñoz, subsecretário do Pontifício Conselho Cor Unum, relembra o seu primeiro destino ministerial como a melhor época da sua vida.
Ele falou com o programa de televisão Deus chora na Terra, da Catholic Radio and Television Network (CRTN), em colaboração com Ajuda à Igreja que Sofre, sobre o que um sacerdote deve aprender ao exercer o ministério entre pessoas que arriscaram a vida pela fé.
- Você chegou na Albânia logo depois da morte de Enver Hoxa. Como foi essa experiência?
Dom Tejado: Eu fui para a Albânia trabalhar e ajudar nas primeiras etapas do estabelecimento da Igreja depois da queda do comunismo. Eu não sabia nada da Albânia porque a Espanha tinha pouca relação com os Bálcãs. A minha experiência foi maravilhosa; difícil, mas maravilhosa. Eu entendi que Deus tinha me chamado para ir para a Albânia. É um país muito pobre e eu encontrei um povo necessitado; nos países comunistas, as pessoas muitas vezes ficam contra a fé, mas na Albânia não. O povo respeitava a minha condição sacerdotal. Foi o início da Igreja. O papa foi lá em 1994 e consagrou os primeiros bispos. Foi uma experiência muito boa, mas muito difícil também, porque a Igreja foi perseguida e teve que começar de novo, começar a falar de Jesus, falar do Senhor e organizar toda a Igreja.
- O que foi mais chamativo na chegada à Albânia?
Dom Tejado: Eu vi uma população e uma Igreja que tinha sofrido muito na época comunista, mas a perseguição não destruiu uma coisa no coração deles. Era uma coisa que vinha do céu. Na era comunista eles diziam que o céu estava fechado.
- O país era totalmente ateu. Como é que ainda havia sementes de fé?
Dom Tejado: O comunismo não conseguiu destruir a esperança das pessoas. Aqui nos nossos países, a secularização destruiu essa esperança no nosso coração. Lá, mesmo com o comunismo, o senso de Deus foi mantido. Você pode falar de Deus com aquele povo de uma forma que não consegue na nossa sociedade secularizada, onde as pessoas não encontram nem em Deus nem na fé nada de importante nem interessante. Quem ficou embaixo dos regimes comunistas sabe discutir e se abrir para Deus.
- Os católicos albaneses sofreram uma perseguição muito dura?
Dom Tejado: Eles sofreram muito, a Igreja na Albânia é uma Igreja mártir. Eles continuaram unidos a São Pedro, ao papa, e aquilo foi muito importante para eles. Enver Hoxa pediu para a Igreja católica na Albânia virar uma igreja nacional, como na China, mas os bispos e os padres se negaram. "Nós vamos permanecer em união com Pedro, com o papa". E por isso eles foram perseguidos e sofreram uma situação terrível.
- Esses testemunhos influenciaram a sua vocação de padre?
Dom Tejado: Ah, claro! Quando você fala com os perseguidos, alguma coisa fica em você. Você fica cara a cara com uma pessoa que arriscou a vida por Cristo; isso é muito importante para um padre, arriscar a vida por Cristo e pela Igreja.
- Que riscos, por exemplo?
Dom Tejado: Eu sou chamado a arriscar a vida todo dia por Cristo, fazer a vontade dele. É uma experiência espiritual. Se você conhece uma pessoa que correu riscos não um dia, mas a vida inteira, por Cristo, você se pergunta por que não fazer o mesmo e oferecer a vida por completo a Cristo. Isso é muito importante para um padre... E não só para um padre, mas para todo cristão.
- Uma parte de você ficou na Albânia?
Dom Tejado: A metade do meu coração. Eu fiquei lá nove anos. Foi o meu primeiro destino como padre, e, como primeiro destino, eu me lembro dele com muito carinho. Foi um período muito bonito da minha vida, o melhor. De verdade, e também pelas dificuldades, as cruzes, que Cristo permitiu na minha vida. Ele me tornou mais humilde, e ser humilde, você sabe...
- A Madre Teresa veio da Albânia. Até que ponto ela é importante para a Igreja católica de lá?
Dom Tejado: A Madre Teresa é uma figura muito importante para todos nós. Ela nasceu em Skopje, a parte albanesa da Macedônia. Para os albaneses, ela é muito especial porque, depois da queda do comunismo, os albaneses estavam perdendo a esperança. A mensagem da Madre Teresa, "nada é impossível para Deus", é uma mensagem que eu trouxe de lá, e é uma mensagem para todas as pessoas. Se nós temos esse tipo de modelos na nossa vida, nada é impossível para nós se estamos com Deus. A visita do papa e da Madre Teresa, como dizem os albaneses, foi como se o céu se abrisse de novo. A era comunista tinha fechado o céu, e a Madre Teresa e o papa abriram o céu outra vez.
Fonte: Zenit.
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