O Códice Calixtino, uma obra do século XII de valor incalculável, desapareceu da catedral de Santiago de Compostela. É um dos objetos mais importantes do patrimônio histórico e artístico da Espanha. Sua falta foi descoberta na última terça-feira, mas o furto, segundo a polícia, deve ter acontecido na semana passada.
O arcebispo de Compostela, Julián Barrio, informou à imprensa nesta quinta-feira sobre a desaparição do códice, que fora patrocinado pelo papa Calixto II, originando daí o seu nome.
O deão José María Díaz explica que só três pessoas têm acesso à caixa forte do arquivo da catedral onde o códice era guardado, junto com outros documentos de valor: o próprio deão e dois colaboradores. Um deles, o medievalista, foi o último a ver o códice na caixa forte na quinta ou sexta-feira passada. Na terça, o medievalista José Sánchez, na hora de fechar o arquivo, notou a falta do códice e me chamou no mesmo instante.
O deão acrescenta que o Códice Calixtino nunca é levado para a sala de estudos e pesquisas, mas outros documentos que também estão na caixa forte podem ser levados para esta sala. Por isso, há um fluxo contínuo na sala da caixa forte. Quando se mostra o Códice Calixtino a alguém, no entanto, é sempre na minha presença, diz o deão, e sempre sem retirá-lo da sala da caixa forte.
Na catedral, câmeras controlam cada ângulo do claustro. As imagens já estão sendo analisadas. No entanto, não há sinais de violência, já que nenhuma das portas ou fechaduras foi forçada.
O conjunto de pergaminhos furtado não possuía seguro. Existe um seguro geral para a catedral, mas não há garantia expressa de que ele cubra o furto de um exemplar tão valioso. O melhor que pode acontecer é que o códice esteja nas mãos de alguém que conheça o seu valor incalculável, porque assim temos a segurança de que ele não vai estragá-lo, comentou uma das autoridades policiais.
A polícia da Galícia dispôs todos os efetivos necessários para recuperar o texto. Nesta quinta-feira, dois especialistas da Brigada Central do Patrimônio Histórico se uniram à investigação. O Governo da Galícia explicou à imprensa que foram ativados os protocolos europeus para controlar os mercados em que obras desse tipo podem ser comercializadas.
O primeiro guia do Caminho de Santiago
Composto por cinco livros e dois apêndices, encadernado num tomo único em 1964, o códice, que nasceu com o objetivo de propagar a devoção ao apóstolo Santiago, era um guia para os peregrinos, com conselhos, indicação de possíveis alojamentos e descrições da rota, das obras de arte e dos costumes locais ao longo do Caminho de Santiago. Contém ricas ilustrações e as partituras de 22 peças polifônicas entre as mais antigas da Europa. Mede 30 por 21 centímetros e é formado por 225 pergaminhos.
O texto do códice é atribuído ao monge cluniacense do século XII Aymerico Picaud, clérigo de Pitou, acompanhante do papa Calixto, Guido de Borgonha, na sua peregrinação a Santiago, por volta de 1109.
O original furtado possui uma réplica exata, que fica exposta aos visitantes do museu e com a qual os especialistas estão trabalhando. O original era exibido em restritas ocasiões. A última vez, segundo A Voz de Galicia, foi há dois meses, para uma equipe do Ministério de Cultura do país.
Trata-se, enfim, de um dos mais destacados roubos de patrimônio religioso da história da Espanha. Por ser um dos países mais ricos em obras deste gênero, há antecedentes de furtos comparáveis, alguns com final feliz.
Em novembro de 1979, desapareceram do museu paroquial de Santa Eulália de Paredes de Nava, em Palência, cinco magníficas pinturas de Pedro Berruguete relativas aos reis de Israel. Um mês mais tarde, elas reapareceram, junto com outras obras de arte sacra, num casarão de Madri. Os autores do roubo continuaram agindo. Em abril de 1999, acabaram presos depois de roubar cinco esculturas dos séculos XV e XVI na igreja de Mijangos, em Burgos.
Em setembro de 1996, foram presos cinco israelenses que acabavam de roubar cinco livros do mosteiro de Montserrat, na Catalunha: três manuscritos em hebraico e dois em latim.
No mesmo mês, dois encapuzados assaltaram o museu diocesano da Seu de Urgell, também na Catalunha. Eles roubaram o códice de Comentários ao Apocalipse, do Beato de Liébana.
No final de janeiro de 1997, a joia medieval foi recuperada no consultório de um psiquiatra de Valência, guardada em um armário entre medicamentos. O roubo tinha sido organizado por cinco indivíduos. O chefe da quadrilha cortou uma página do códice milenar para mostrá-la a possíveis compradores. Infelizmente, a página ainda não foi recuperada, ainda que tenha sido reconstruída.
A ministra da Cultura, Ángeles González-Sinde, disse que a ação da polícia tem dado bons resultados contra roubos desse tipo.
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário