A Comissão “Murphy”, que trouxe à luz três informes documentando os abusos sexuais na Irlanda, publicou um quarto informe, agora sobre o acobertamento de abusos sexuais na diocese de Cloyne.
Dom John Magee, bispo de Cloyne, que renunciou em 2010, ignorou as diretrizes sobre proteção infantil da Conferência Episcopal Irlandesa, de 1996, ao não informar sobre ao menos 9 de 15 denúncias, inclusive de três anos atrás.
O relatório, de mais de 400 páginas, elaborado pela juíza Yvonne Murphy, investigou acusações contra 19 sacerdotes e foi concluído no fim do ano passado. Aborda o período de 1996 a 2009.
O documento revela que o bispo delegava todas as causas a Dom Denis O'Callaghan, que escondia “na sua própria casa” os documentos sobre os abusos. O clérigo admitiu voluntariamente que estava mais preocupado com o cuidado pastoral dos padres do que das vítimas deles.
“Aceito em sua totalidade o ponto de vista da comissão de que a principal responsabilidade pela falta de implementação dos procedimentos da Igreja na diocese recai sobre mim”, afirmou Dom Magee à imprensa.
Em 2010, Bento XVI aceitou a renúncia de Dom Magee ao governo pastoral da diocese de Cloyne. Desde 2009, o bispo esteve envolvido na investigação do encobrimento de casos de abusos sexuais.
Dom Dermot Clifford, arcebispo de Cashel and Emly, foi nomeado administrador da diocese.
Graves erros
O cardeal Seán Brady, arcebispo de Armagh e Primaz da Irlanda, disse em comunicado que o Informe Cloyne "representa mais um dia negro na história da resposta dos líderes eclesiais ao grito das crianças que sofreram abusos por parte de pessoal da Igreja".
"As revelações deste informe confirmam graves erros de juízo e sérias falhas de liderança. É deplorável e totalmente inaceitável".
O cardeal Brady, presidente da Conferência Episcopal Irlandesa, afirmou que os “sérios erros” da diocese de Cloyne foram investigados em 2008 pela Comissão Nacional Eclesial para a segurança das crianças na Igreja católica.
“Felicito a Comissão pela determinação em levar a termo o mandado de desenhar e supervisar a aplicação de melhores práticas de proteção das crianças em toda a Igreja”, afirmou. “Um aspecto positivo do informe da juíza Murphy é a confirmação de que as estruturas estabelecidas pela Igreja para revisar e prestar contas à sociedade mostrou-se efetivo".
O cardeal reiterou que a conferência episcopal tem trabalhado para criar um “ambiente totalmente diferente do que existia no passado”. Observou que a prática padrão é que todas as acusações de abuso sejam agora remetidas às autoridades, e que “pessoal de segurança seja preparado e esteja presente em cada uma das 1.386 paróquias da ilha”.
O informe Cloyne “mostra mais uma vez a necessidade de vigilância contínua e plena cooperação com as autoridades civis e com a Comissão Nacional na área crítica da proteção das crianças”.
O purpurado também declarou apoio a uma legislação que obrigue a informar às autoridades sobre acusações de abuso sexual contra crianças.
O cardeal pediu orações por “todos os que sofreram e sofrem por consequência de abusos” e lembrou o trabalho da Igreja para dar apoio às vítimas através da iniciativa Towards Healing (Rumo à Cura).
A Towards Healing oferece consulta telefônica e um serviço de referência de consultoria e psicoterapia para as pessoas que sofreram abusos físicos, emocionais ou sexuais quando crianças, por parte de pessoas que trabalham ou trabalhavam na Igreja Católica na Irlanda.
Pedido de perdão
Dom Clifford, arcebispo de Cashel e administrador apostólico de Cloyne, aceitou os resultados do informe e agradeceu à comissão por “ter investigado a fundo".
"É a primeira vez que os sobreviventes de abusos sexuais em Cloyne podem ver as suas histórias reconhecidas publicamente”, afirmou.
"Peço humildemente perdão em meu nome, como administrador da diocese, e em nome do seu clero, a todos que sofreram e às suas famílias”, declarou o arcebispo. “Estou horrorizado com a profundidade dos danos e dos sofrimentos causados por uma minoria do clero da diocese, como este informe mostra”.
"É uma grande dor também para as famílias das vítimas de abusos, cuja forte relação com a Igreja católica, em muitos casos, foi afetada ou destruída".
O arcebispo lamentou que “os procedimentos da Igreja nos casos de acusações de abusos sexuais contra menores” não tenham sido seguidos. “Significa que as autoridades eclesiais em Cloyne falharam, não assumindo seus compromissos quando recebiam as denúncias", disse.
"Desde a minha nomeação como administrador apostólico, em março de 2009", acrescentou o prelado, “fez parte da minha tarefa garantir os procedimentos adequados em todas e cada uma das acusações por abusos sexuais contra menores".
Fonte: Zenit.
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