Dom Cesare Mazzolari, bispo de Rumbek, Sudão do Sul, faleceu por volta de 8 da manhã do último sábado, 16 de julho, no hospital estatal da cidade, que é capital do estado de Lagos.
Dom Mazzolari, dos padres combonianos (MCCJ ou Missionários Combonianos do Coração de Jesus), concelebrava a missa quando, no início da consagração, passou mal e se agachou sobre uma cadeira, levando uma mão ao peito. Com ajuda de padres, freiras e fiéis, foi levado à sacristia e depois para o seu quarto, onde foi visitado por um médico, e em seguida para o hospital de Rumbek, mas não resistiu.
A morte do bispo, de 74 anos, aconteceu apenas uma semana após a solene cerimônia de proclamação da independência do Sudão do Sul, pela qual Dom Mazzolari tinha trabalhado ativamente.
Nascido em 9 de fevereiro de 1937 em Brescia, Itália, Cesare Mazzolari entrou ainda menor de idade no seminário dos combonianos, porque desejava intensamente ser missionário.
Ordenado em 17 de março de 1962, foi enviado para Cincinnati, Estados Unidos, onde trabalhou na pastoral com os mineiros de origem mexicana e africana. Quase vinte anos depois, em 1981, foi enviado ao Sudão, primeiro à diocese de Tombura-Yambio e depois à arquidiocese de Juba, atual capital do novo país. Em 1990 foi nomeado administrador apostólico de Rumbek, onde permaneceu até a morte.
Dom Mazzolari experimentou na própria pele as consequências da segunda fase da longa e dramática guerra civil sudanesa (1983-2005), que terminou em 9 de janeiro de 2005 na capital do Quênia, Nairóbi, com o Acordo Compreensivo de Paz (CPA).
Depois de reabrir em 1991 a missão de Yirol, "a primeira de uma longa série”, o então administrador apostólico foi capturado e mantido refém durante 24 horas pelos rebeldes do movimento independentista do Exército Sudanês de Libertação Popular (SPLA).
Em 6 de janeiro de 1999, recebeu a ordenação episcopal do papa João Paulo II. Como lema, o novo bispo cunhou a frase "Per reconciliationem et crucem ad unitatem et pacem" (Pela reconciliação e pela cruz, à paz e à unidade).
Com a morte do bispo de Rumbek, a Igreja católica africana perde uma das suas figuras mais relevantes. “Um homem de fronteira”, testemunha o padre Albanese, da diocese. "Ele tinha uma empatia enorme com as pessoas, conseguia captar os problemas delas, os anseios. Ele deu voz a quem não tinha voz e se consumiu até o fim”, afirmou o padre para a Rádio Vaticano.
"Ele já era como uma vela que pouco a pouco ia se consumindo, mas se entregou totalmente e esperou que o seu Sudão, o Sudão do Sul, chegasse a ficar independente. Ele esperou que os anseios de democracia, de participação desta sociedade civil, fossem respeitados de verdade".
O último grande projeto lançado por Dom Mazzolari, que lutou para melhorar a situação do seu povo e denunciou as atrocidades cometidas pelo regime sudanês durante a guerra, foi a construção do primeiro centro de formação para professores do Sudão do Sul, cuja primeira fase será inaugurada no próximo 10 de outubro.
"Agora precisamos formar a classe dirigente do futuro, para que a autodeterminação do povo sul-sudanês seja plena e madura, cheia de esperança, e recupere fundamentalmente a identidade", declarara em 30 de maio passado, na apresentação de uma biografia escrita pelo jornalista Lorenzo Fazzini e publicada com o título Um Evangelho para a África. Cesare Mazzolari, bispo de uma Igreja crucificada.
"Como Igreja”, prosseguiu o bispo, “nós temos ainda hoje uma grande responsabilidade na construção do novo Estado. Temos que ensinar a arte paciente do diálogo, da comunicação e da reconciliação para alicerçar uma nação nova".
Conhecido também por ter libertado 150 escravos, Dom Mazzolari "tinha a capacidade de ler a realidade com muito realismo", destacou o padre Albanese para a Rádio Vaticano.
Homem de esperança
Em junho deste ano, Dom Mazzolari concedeu entrevista a ZENIT, falando de suas esperanças quanto ao Sudão do Sul. Esperanças que animaram durante anos o seu próprio trabalho na região.
“Prevejo uma época de cristandade que se aprofundará cada vez mais. Este símbolo de liberdade à africana, de liberdade genuína, fortemente desejada, é visível também no Norte de África, com as revoluções que vêm acontecendo nos últimos meses”, afirmou o bispo.
“O Sul do Sudão”, escreveu em carta pastoral, dias antes da proclamação da independência, “está orgulhoso de ser uma nova nação e está preparado para conquistar a sua própria identidade no mundo”.
“A Igreja perseverou na oração e na difusão da fé em Deus, animando o compromisso com a reconciliação numa região que sangra com os conflitos, as divisões e os problemas tribais”.
O Sudão “precisa se entregar a um Deus que ama o povo sudanês, enquanto a Igreja tem que guiar as iniciativas de solidariedade para com o Sul do Sudão, permitindo que o povo se sinta parte da família global mediante sinais de comunhão”.
Fonte: Zenit.
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