“O desenvolvimento humano integral vai além da posse de bens e se expressa na adesão aos valores antropológicos e éticos mais elevados, como a fraternidade, a solidariedade e o bem comum”, afirma o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer.
Tais valores – prossegue o prelado – “são sumamente importantes quando se trata de debelar a fome”.
Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo no sábado passado, Dom Odilo afirma que quando o desenvolvimento econômico local e globalizado integra esses imperativos éticos ele é capaz de favorecer o bem comum mais que os interesses de parte.
“A constante afirmação dos interesses fechados de países, grupos e setores, conseguida pela pressão de quem já é mais forte, até mesmo pelas armas, produziu o mundo que vemos: de um lado, mesas abarrotadas e gente superalimentada; de outro, multidões famintas a se baterem por escassas migalhas. Tem jeito de mudar isso?”, questiona.
O Papa, na encíclica Caritas in veritate – explica Dom Odilo – indica mais questões do desenvolvimento humano integral.
“Somos parte de uma grande família e precisamos superar a indiferença diante das necessidades do próximo, seja ele pessoa, povo ou país. A humanidade é uma única família e todos estão no mesmo barco, para o bem e para o mal: Ou vai pra frente esse barco, com todos dentro, ou afundam todos juntos.”
“O bem de um é o bem de todos; a falta de paz de um é a falta de paz de todos. Quando se levar a sério a consciência dessa responsabilidade de uns pelos outros, de um povo pelo outro, dos fartos pelos famintos, será possível combinar de forma nova as regras da convivência neste condomínio familiar maravilhoso que o Criador colocou à nossa disposição”, destaca o cardeal.
Segundo Dom Odilo, a solução para o problema da fome “está menos na roça e nas mãos calejadas dos agricultores que nos gabinetes e fóruns das decisões políticas, econômicas, financeiras e comerciais. A fome será superada mais pela ponta da caneta do que pelo cabo da enxada”.
“Uma renovada fraternidade e solidariedade são urgentes necessidades morais na família humana, onde é direito que os mais sadios e fortes olhem pelos mais fracos e doentes.”
“Não dá para continuar a fazer de conta que o problema é apenas dos outros. De fato, a atual migração de milhões de pessoas para países ricos ou regiões mais desenvolvidas mostra que as pessoas vão atrás do pão: Se o pão não chega onde as pessoas estão, elas vão lá onde o pão se encontra. O problema é de todos”, afirma.
Segundo o cardeal, a eliminação da fome e da subalimentação “requer a superação das barreiras do egoísmo, da insensibilidade e da indiferença, sinais preocupantes de um subdesenvolvimento humano e moral, e a abertura para uma fecunda gratuidade na relação de pessoas, organizações e povos”.
“Gratuidade é uma das mais nobres disposições humanas e leva a pensar de modo desinteressado no bem do próximo; é expressão de fraternidade verdadeira na família humana.”
Dom Odilo considera que “planos e programas continuam sendo necessários, assim como o respeito pelas regras e pela justiça; mas tudo isso será animado por disposições novas, capazes de dar brilho a um bilhão de olhares famintos no mundo”.
Fonte: Zenit.
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