Depois de três meses exercendo o cargo de secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Dom Joseph William Tobin confessa que sente saudade da vida missionária de sua vocação como sacerdote redentorista, ainda que seu trabalho também se entenda como missionário.
“Não é um simples trabalho de papelada ou documentos”, assegura. “Trata-se de buscar que as congregações, que os consagrados e consagradas do mundo respondam cada vez mais com fidelidade a sua vocação”, disse a ZENIT o novo bispo, em seu escritório na praça Pio XII, perto da praça de São Pedro.
Dom Tobin passou assim de ser o superior geral dos Missionários Redentoristas, cargo que exercia desde 1997, a secretário da citada Congregação vaticana, após a nomeação do Papa de agosto passado.
Nascido em Wayne County, Detroit (Michigan, Estados Unidos), em 1952, Dom Tobin foi ordenado sacerdote em 1978 e bispo no dia 9 de outubro passado.
Como acolheu essa nomeação do Papa?
Dom Joseph William Tobin: É um voto de confiança da parte do Santo Padre, que me faz sentir indigno, mas por sua vez impulsiona a cumprir essa tarefa, porque sei que o Papa ama a Igreja e também tem um amor particular pela vida consagrada. Ao me dar essa missão, ele compartilha comigo uma responsabilidade pastoral que está muito próxima de seu coração. Antes de tudo, respeito e dou graças a Deus e aceito com muita humildade este gesto de confiança.
O senhor vem de ser superior dos redentoristas. Que ensinamentos isso traz para seu novo cargo?
Dom Joseph William Tobin: Tive a sorte de acompanhar uma comunidade internacional. Somos cerca de 5 mil consagrados no mundo, trabalhando em 78 países. Isso me ofereceu uma espécie de escola cotidiana para aprender a pluriculturalidade da vida consagrada, buscando sempre o eixo e a força que nos une, que é o espírito religioso.
Creio que servir a uma comunidade pluricultural com suas luzes e sombras me serviu de preparação para esta nova missão. Também a trabalhar em uma equipe que é internacional.
Que desafios tem de enfrentar como secretário dessa Congregação vaticana?
Dom Joseph William Tobin: Há alguns muito urgentes. Por exemplo, o estado muito difícil de muitas congregações religiosas na África, que foram fundadas e às vezes abandonadas no âmbito diocesano e local. Devemos nos perguntar como ajudá-las e conservar os elementos necessários e às vezes tão básicos como alimento e moradia. Também recursos para a formação inicial e contínua.
Que a Igreja universal pode fazer por essas congregações?
Dom Joseph William Tobin: Um valor muito importante é a solidariedade. Somos uma família. Há consagrados e consagradas nas igrejas locais que têm muitos recursos e quem sabe elas podem viver de modo mais simples. O resultado seria um apoio maior a irmãos e irmãs que enfrentam condições muito difíceis. O mais importante é que não se sintam isolados ou abandonados. As congregações por pequenas que sejam pertencem à Igreja universal, especialmente quando gozam da aprovação no nível diocesano ou pontifício, devem se sentir parte da Igreja, apoiadas e fortalecidas.
Como trabalhar para que as antigas comunidades permaneçam fiéis ao carisma original?
Dom Joseph William Tobin: Sempre convido os redentoristas a refletir sobre a inspiração de Santo Afonso Maria de Ligório. É verdade que a secularização é um desafio, mas há outros. Recordo que uma vez, visitando uma província que vivia sob uma ditadura militar, os irmãos em um momento me diziam: “ainda que temos denunciado o regime e alguns de nós acabamos presos, este modo de pensar dos militares nos penetrou e às vezes nos tratamos uns aos outros como militares”. Como disse Paulo VI na Evangelii Nuntiandi, “a Igreja sempre tem necessidade de ser evangelizada, se quiser conservar seu frescor, seu impulso e sua força para anunciar o Evangelho”. Para nós se trata de ir ao interior de uma cultura sem perder a alma.
Há uma crise de resposta ao chamado à vocação à vida consagrada...
Dom Joseph William Tobin: Especialmente no Ocidente. Na Nigéria, por exemplo, não há crise. Os redentoristas recebem desse país, a cada ano, 500 pedidos para entrar, e escolhamos 14. Em outros países da África a situação é mais ou menos similar. Também no Vietnã, Tailândia, Indonésia há muitas vocações. É verdade que em alguns países, especialmente na Europa Ocidental, Canadá e Estados Unidos, há crise, mas em outras partes do mundo a crise consiste em um bom número de formandos com poucos recursos. A crise não é sempre numérica.
Que contribuem as congregações religiosas para a Igreja como corpo místico de Cristo?
Dom Joseph William Tobin: Os consagrados devemos mostrar e evidenciar em nossa vida uma certa liberdade, que é diferente da liberdade do leigo. É verdade que os leigos são livres para ir onde os religiosos não podem. Mas nós somos ainda mais livres para viver uma vida missionária por não ter tantas responsabilidades de família. Se não usamos bem esta liberdade, devemos nos questionar. Isso porque a vida consagrada não é de irresponsabilidade, mas de uma liberdade radical. Creio que é muito bom que a Igreja enfatize a vocação do batismo. Mas devemos recordar que tanto no Concílio Vaticano II, e logo João Paulo II, na exortação Vita Consecrata, disse-nos que a vida consagrada é essencial dentro da vida da Igreja. “Com a profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus – virgem, pobre e obediente – adquirem uma típica e permanente ‘visibilidade’ no meio do mundo”, disse o Papa.
Fonte: Zenit.
Nenhum comentário:
Postar um comentário