Sem Deus, o homem não sabe para onde ir nem consegue descobrir quem é, afirma Bento XVI na Caritas in veritate, nº 78.
É o início da conclusão dessa encíclica do Santo Padre. A frase é uma mensagem especialmente contundente sobre como a doutrina social da Igreja deve se realizar na sociedade. A mensagem final da doutrina social católica (DSC) deixa claro que o principal obstáculo para o desenvolvimento do homem é o fato de ele deixar de lado o Criador, o que faz com que o desenvolvimento vire um humanismo desumano.
A Doutrina Social da Igreja Católica é a ferramenta que usamos dentro da Igreja no diálogo com as várias ciências, uma vez que ela tem intrinsecamente uma dimensão interdisciplinar (Conselho Pontifício Justiça e Paz, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n º 76) que lhe permite alcançar a sociedade graças a uma leitura complexa da sociedade mesma, além de um critério de valorização dos resultados de várias ciências sociais (Asolan P., F. Felice, Notas sobre a doutrina social da Igreja: as tarefas pendentes da pastoral social, pág. 145, Fondo Editorial UCSP, Arequipa, Peru).
As ciências sociais e a DSC estão intimamente relacionadas não por uma exigência moralista, mas porque, sendo ciências e por um motivo epistemológico (G. Crepaldi, S. Fonte, A dimensão interdisciplinar da Doutrina Social da Igreja, Cantagalli, Siena, 2006, pág. 129), devem levar em conta as relações que surgem delas e que não podem nem fundamentar-se nem se orientarem a elas mesmas. É por esta razão que a DSC tem algo a dizer: porque, sendo de natureza teológica moral (Conselho Pontifício Justiça e Paz, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 73), ela orienta a conduta das pessoas (João Paulo II, Sollicitudo rei socialis, nº 41). Se não existisse o caminho da DSC, que é basicamente o da caridade como valor primário, não poderia existir, por exemplo, a relação entre mercado e solidariedade. O caminho da caridade, que não se limita apenas a relações circunscritas, deve ser, de fato, um critério supremo e universal de toda a ética social (Conselho Pontifício Justiça e Paz, Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 204); deve levar em consideração a centralidade da pessoa humana presente na sociedade e nas ciências sociais, com a ajuda da DSC.
A sociedade que possui vários saberes e atores precisa da DSC. É neste âmbito que a Igreja pode e deve conversar com a parte concreta dos saberes. A confiança na Igreja pode se realizar através da DSC e é nela que a teoria do magistério pode se tornar realidade e se demonstrar na prática. Este trabalho específico é responsabilidade do leigo, que, fortalecendo a sua vida moral e espiritual, pode operar a mudança autêntica na sociedade civil de forma direta, com seu próprio trabalho, em seu local de trabalho, nas escolas, nas universidades. Se o leigo aplica o caminho da caridade nas suas ações cotidianas, nas suas relações humanas, o efeito multiplicador desta ação não terá limites. Assim, poderemos dizer que ele se cumpre na frase "Não se esqueçam que os bons sempre vencem no fim" (S. Zamagni, A economia do bem comum, Città Nuova, Roma, pág. 13).
A DSC, através do caminho da caridade e considerando a sua dimensão interdisciplinar, tem a força necessária para provocar uma mudança social nos novos fenômenos da sociedade contemporânea.
A primeira força é a empresa, especialmente a responsabilidade social da empresa, e a segunda é a universidade católica. Cada uma das duas situações tem oportunidades específicas, mas ambas têm o mesmo instrumento, que é a DSC, uma forma exata de diálogo entre o mundo dos negócios e a ética, além de ponto exato para reforçar gradualmente a identidade e a missão da universidade católica a fim de responder às exigências da Ex corde Ecclessiae.
O caminho é difícil e ainda temos que encontrar o jeito concreto de passar da sala de aula para a ação, com a meta de cumprir a nossa missão de leigos. No entanto, é um grande desafio que nos compromete com responsabilidade, e estamos cientes de que, com a ajuda de todos, continuaremos aprendendo, para que a DSC seja percebida não como um estudo abstrato de princípios, mas como o método exato voltado a colocar o homem no centro da sociedade, bem como um grande instrumento de evangelização na hora de transmitir, confiar e especialmente acreditar que, sem Deus, não sabemos para onde ir.
Diego Arias Padilla Fabián, da Universidad Católica San Pablo
Fonte: Zenit.
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