A "bondade" dos padres de amanhã depende muito da "qualidade" dos educadores de hoje, e o seminário se confirma como o local indispensável para uma formação sacerdotal adequada aos desafios dos tempos, especialmente em um mundo culturalmente globalizado.
Estas são as conclusões obtidas no final da segunda semana de estudos para os formadores em seminários, organizada de 6 a 10 de fevereiro pelo Centro de Formação Sacerdotal da Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Santa Croce) e focada no tema O ministério da direção nos seminários.
A iniciativa, que coincidiu com o simpósio dos bispos e dos superiores religiosos em matéria de abuso sexual, este realizado na Universidade Gregoriana, é uma clara manifestação do interesse da Igreja em responder à base dos problemas: a formação dos candidatos.
O encontro contou com cerca de setenta educadores em seminários de todo o mundo, homens da cúria, bispos responsáveis pelas vocações e professores universitários com experiência em formação sacerdotal. O diálogo vivo permitiu esclarecer aspectos específicos e trocar experiências valiosas, que podem atender aos desafios do mundo contemporâneo.
Discernimento vocacional e seleção de candidatos
O relatório sobre "Discernimento de idoneidade para as ordens religiosas" foi confiada ao Secretário da Congregação para o Clero, Dom Celso Morga, que explicou de que maneira um freio nas deserções que ocorrem no sacerdócio pode ser conseguido com uma reflexão melhor sobre as condições dos candidatos, levando-se em conta "a mobilidade cultural, as expectativas sociais ou econômicas, os condicionamentos de família e os conflitos que podem surgir de uma pastoral ideologizada".
Devemos também discernir adequadamente todos os "fatores internos", que têm a ver com "a rigidez de personalidade, a falta de saúde física ou mental, os enganos intelectuais ou os desenganos amorosos, as conversões drásticas, o egocentrismo, a fragmentação na educação religiosa, a falta de auto-controle ...".
Com os dados em mãos, o bispo constatou que em toda a Igreja, desde os anos 1980, houve "um aumento sustentado no número de sacerdotes" e uma atenção privilegiada "para a maior qualidade da sua seleção", tanto que, na prática, chegam a ser ordenados sacerdotes "apenas um terço dos seminaristas".
Dom Agostino Superbo, arcebispo de Potenza, na Itália, e vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, delineou os critérios para a seleção dos candidatos ao sacerdócio, que devem integrar as exigências institucionais (disponibilidade para uma doação total ao Evangelho, qualidades humanas e qualidades intelectuais para um serviço abnegado oferecido aos outros, personalidade aberta) com o bem do próprio jovem, "que deve ser o protagonista da sua própria biografia".
No discernimento vocacional é imprescindível, portanto, considerar "as famílias e as comunidades cristãs das quais o candidato procede, em um diálogo regular", e respeitar tanto a "fase preliminar", que prepara para o seminário, quanto o uso prudente de "uma pausa formativa", que ajude a "superar as dificuldades e a amadurecer os critérios".
Identikit do reitor e do formador
"Homem de Deus, completo e bem preparado, com vontade de se dedicar integralmente, com um amor inegável por Cristo e pela Igreja, transparente, mais pai do que pedagogo, paciente e bondoso, reto de espírito", são as características que um reitor de seminário deve ter para realizar a sua função corretamente, de acordo com Dom Paolo Rabitti, arcebispo de Ferrara-Comacchio, também na Itália, que aproveita a própria experiência ao longo dos anos.
O reitor também deve manter uma "total interação com o bispo, o respeito pelo presbitério, o amor exigente e paternal para com os educadores" e ser "atuante na formação permanente".
Quem ofereceu o identikit do formador em seminários foi o arcebispo de Tacna e Moquegua, no Peru, Dom Marco Antonio Cortez Lara, que falou de "um homem firme na fé, com uma forte identidade sacerdotal, com uma personalidade madura , pleno de certeza da sua própria vocação, aberto aos contatos humanos, culto, prudente e sábio". Em síntese, "íntegro", de modo a ser "crível para os jovens" e capaz de atraí-los "mais pelo testemunho de uma vida alegre e autêntica do que pela disciplina ou pelos ensinamentos teóricos".
Os formadores devem, portanto, ser capazes de "trabalhar com paixão e com verdade" nos vários aspectos da pastoral, em contato com as reais necessidades dos fiéis, e assim transformar o seminário em um local de encontro "de todos os sacerdotes diocesanos, jovens e idosos, aberto a todos os carismas da Igreja".
A atmosfera do seminário
O seminário "não é um lugar de passagem, mas um tempo para se preparar para o sacerdócio, capaz de interligar facilmente a sua "vida em comum com a caridade pastoral e com a fraternidade sacerdotal futura". Por isto, as suas regras devem ser "imutável, aceitas e compartilhadas, mas não esmagadoras, porque os valores educativos não se impõem, mas convencem", como ilustrou, por sua vez, o bispo auxiliar de Milão, Dom Mauro Delpini.
Grande parte das atividades do seminário e dos seus formadores depende ainda do fluxo das relações externas e da comunicação interna em todos os níveis de decisão, como explicou o professor José María La Porte, decano da faculdade de comunicação institucional, identificando ao mesmo tempo a importância de construir a confiança e de evitar o funcionalismo.
"A lealdade, a eficácia e a alegria" são o resultado das capacidades de escutar, de trabalhar em equipe, do valor dado às coisas pequenas e simples e da disposição para enfrentar os problemas como uma oportunidade e não como um incômodo. Já a verdade nos relacionamentos interpessoais "é o que fará com que cada palavra e cada gesto se torne um veículo de fraternidade em uma vida comum caracterizada por fatos de caridade, e não uma mera escola de hipocrisia revestida de diplomacia".
Um foco de atenção também deve ser identificado nas estruturas que acolhem os seminaristas, como explicou o professor Fernando Puig: "O ambiente externo da casa deve promover o exercício das virtudes humanas, que são próprias do ministério sacerdotal", principalmente através do "desapego dos bens temporais" e da capacidade de "tomar conta deles, valorizá-los e colocá-los a serviço dos outros".
A perspectiva da Cúria Romana foi apresentada pelo cardeal Grocholewski, prefeito da Congregação para a Educação Católica, a quem foi confiada a sessão de abertura, e pelo secretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, Dom Juan Ignacio Arrieta, que falou da autoridade como um serviço da Igreja, destacando entre as qualidades dos pastores "a fidelidade, a prudência e a bondade".
Fonte: Zenit.
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