O ciclo de catequeses do Papa Bento XVI sobre a oração de Jesus culminou nesta manhã, durante a Audiência Geral, com uma reflexão sobre a oração de Cristo antes da morte iminente.
O Santo Padre se serviu dos Evangelhos de São Mateus e São Marcos, que fornecem detalhes importantes na reconstrução das fases da crucifixão de Nosso Senhor. Marcos, em particular, explica que "eram as nove da manhã quando o crucificaram" (Mc 15:25).
Durante as primeiras três horas após a crucificação, observou o Papa, "vem o escárnio dos diferentes grupos de pessoas que mostram seu ceticismo, dizem não acreditar." Há quem o insulta (cf. Mc 15, 29), e entre estes há também os dois ladrões crucificados ao lado dele (cf. Mc 15, 32), enquanto sacerdotes e escribas zombam dele (cf. Mc 15, 31).
Do meio-dia até as três, a escuridão cai sobre toda a terra. "Também o universo toma parte deste evento: a escuridão envolve pessoas e coisas, mas mesmo nesta hora de trevas, Deus está presente, não abandona", continuou o Santo Padre.
A escuridão é tanto "sinal da presença e da ação do mal", quanto sinal "de uma misteriosa presença e ação de Deus que é capaz de superar todas as trevas", como já testemunha a experiência de Moisés no Antigo Testamento (cfr. Ex 19,9/20,21; Dt 4,11/5,23).
É justamente naquela escuridão que Jesus moribundo conserva ainda a força para gritar o seu próprio sofrimento ao Pai "que aprova este ato supremo de amor, de dom total de Si, ainda que não se ouça, como em outros momentos, a voz do alto.”
Ao contrário de outros episódios como o batismo no Jordão (Mc 1,11) ou a Transfiguração (Mc 9,7), a voz do Pai cala, enquanto que o seu "olhar de amor" está "fixo sobre o dom de amor do Filho."
Jesus grita ao Pai "por que me abandonaste?", lembrando a tensão do salmista (cf. Sl 22,3-4) "entre o sentir-se abandonado e a consciência certa da presença de Deus no meio do seu povo”.
Não só nas situações mais difíceis e dolorosas “não devemos ter medo de confiar a Ele todo o peso que levamos no nosso coração” mas não devemos nem sequer “ter medo de gritar a Ele nosso sofrimento, temos de estar convencidos de que Deus está próximo, mesmo se aparentemente se cala", disse Bento XVI.
O grito de Jesus crucificado "não é o grito de quem vai ao encontro da morte com o desespero, e nem é o grito de quem sabe que foi abandonado." É sim o grito de quem está tomando sobre si "não só a pena do seu povo, mas também a de todos os homens que sofrem pela opressão do mal e, ao mesmo tempo, leva tudo isso ao coração do próprio Deus" , na certeza da Ressurreição.
Jesus invoca o Pai, mesmo se ele pareça ausente e a sua afirmação de abandono de Deus é, na realidade, a manifestação da dor pela separação da humanidade de Deus por causa do pecado, como se Cristo gritasse ao Pai no nosso lugar (Catecismo da Igreja Católica, n º 603).
No clímax da Paixão, Jesus deixa emergir não só a sua dor, mas também "o sentido da presença do Pai e do consentimento ao seu plano de salvação pela humanidade."
Nós mesmos, observou o Papa, "nos encontramos sempre e de novo diante do "hoje" do sofrimento, do silêncio de Deus", mas, ao mesmo tempo, podemos encontrar-nos "diante do "hoje"da Ressurreição, da resposta de Deus que tomou sobre si os nossos sofrimentos."
A oração de Jesus moribundo deve nos ensinar a "superar as barreiras do nosso" eu "e dos nossos problemas e abrir-nos às necessidades e aos sofrimentos dos outros" e de "rezar com amor por tantos irmãos e irmãs que sentem o peso da vida cotidiana, vivendo momentos difíceis, que estão na dor, sem uma palavra de conforto ", concluiu o Santo Padre.
Lucas Marcolivio
Fonte: Zenit.
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