sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Engana-se quem pretende abalar o Papa

Reproduzimos a nota do padre Federico Lombardi, SJ, sobre o vazamento de documentos que pretenderiam “criar confusão e desconcerto e facilitar uma visão negativa do Vaticano”. A nota, difundida nesta segunda-feira pela Rádio Vaticano, define a história de um suposto complô contra Bento XVI como “um delírio, uma loucura”, que “não merece ser levada a sério”.


Hoje precisamos de nervos de aço, porque ninguém mais pode se assombrar com nada. A administração dos Estados Unidos teve seu wikileaks, e agora o Vaticano sofre seus próprios leaks, ou vazamentos de documentos que pretendem criar confusão e desconcerto e facilitar uma visão negativa do Vaticano, do governo da Igreja e, mais amplamente, da Igreja como tal.

É preciso ter calma e sangue frio, além de muito uso da razão, coisa que nem todos os meios de comunicação tendem a fazer. Trata-se de documentos de natureza e peso diversos, nascidos em tempos e situações diversas: alguns são discussões sobre a melhor gestão econômica de uma instituição com muitas atividades materiais como é o governo da Santa Sé; outros são notas sobre questões jurídicas e normativas em fase de discussão e sobre as quais é normal que haja opiniões diversas; outros são memoriais delirantes que ninguém com a cabeça no lugar considerou sérios, como um recente documento a respeito de um complô contra a vida do papa.

Uma informação séria deveria saber distinguir as questões e compreender o seu diferente significado. É obvio que as atividades econômicas devem ser geridas sabiamente e com rigor; é claro que o IOR e as atividades financeiras devem integrar-se corretamente com as normas internacionais contra a lavagem de dinheiro. Estas são, evidentemente, as ordens do Papa. Por outro lado, é evidente que a história do complô contra o Papa, como afirmei imediatamente, é um delírio, uma loucura, e não merece ser levada a sério. É claro que há algo de triste no fato de filtrarem com deslealdade documentos do interior para o exterior a fim de criar confusão. Existe responsabilidade de uma parte e também da outra. Em particular da parte que proporciona esse tipo de documentos, mas também de quem se ocupa em usá-los para fins que não são, certamente, o amor pela verdade. Devemos resistir e não nos deixar absorver pelo abismo da confusão, que é o que os mal-intencionados desejam. Devemos permanecer capazes de raciocinar.

Em certo sentido, e esta é uma antiga observação da sabedoria humana e espiritual, a existência de ataques mais fortes é sinal de que algo importante está em jogo.

Diante da grande série de ataques contra a Igreja, devidos ao tema dos abusos sexuais, a resposta foi um empenho sério e profundo de renovação visível. Não foi uma resposta de curto alcance, mas de purificação e renovação. Agora assumimos a situação e implementamos uma forte estratégia de tratamento, renovação e prevenção para o bem de toda a sociedade. Ao mesmo tempo, é sabido que está em curso um empenho sério para garantir uma verdadeira transparência do funcionamento das instituições vaticanas também do ponto de vista econômico. Foram publicadas novas normas. Foram abertos canais de relações internacionais para este controle. Agora, vários dos documentos recentemente difundidos tendem a desacreditar todo este empenho. Paradoxalmente, esta é mais uma razão para prosseguirmos com decisão sem nos deixar impressionar. Se tantos atacam, é porque o assunto é importante. Engana-se quem pretende abalar o Papa e os seus colaboradores neste empenho.

Quanto às supostas lutas pelo poder em face do próximo conclave, convido todos a observarem que os pontífices eleitos neste século foram personalidades de altíssimo e indiscutível valor espiritual. É claro que os cardeais procuraram e procuram eleger quem mereça o respeito do povo de Deus e possa servir à humanidade do nosso tempo com grande autoridade moral e espiritual. A leitura em perspectiva de lutas internas pelo poder depende em grande medida da tosca moralidade dos que a provocam e dos que a fazem, os quais, frequentemente, são incapazes de ver outra coisa. Quem crê em Jesus Cristo sabe que, à margem do que se diz ou se escreve hoje nos jornais, as verdadeiras preocupações dos responsáveis pela Igreja se voltam aos problemas graves da humanidade de hoje e de amanhã. Não é em vão que acreditamos e falamos da assistência do Espírito Santo.

Fonte: Zenit.

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